AICEP não prevê mais baixas nos projetos de hidrogénio em Sines
Os projetos de hidrogénio verde em Sines, sob gestão da AICEP Global Parques, representam de momento cerca de 9.000 milhões de euros investimento.
Soube-se recentemente que um projeto de hidrogénio verde que pretendia exportar este gás renovável a partir de Sines, o H2Sines.Rdam, foi cancelado, por decisão das empresas responsáveis, entre as quais a Engie e a Shell. A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) indica que não se registam outras desistências. Ao ECO/Capital Verde, a EDP e Iberdrola, que têm planos para produzir hidrogénio verde em Sines, confirmam manter-se firmes na intenção de avançar com os respetivos projetos, embora também deixem avisos quanto à regulação, um dos motivos por detrás da desistência do H2Sines.Rdam.
“Não sentimos uma diminuição das intenções de investimento no hidrogénio verde“, indica Filipe Costa, presidente e CEO da AICEP. A CEO da AICEP Global Parques, Isabel Caldeira Cardoso, responsável pela gestão de parques industriais, indica que a agência foi informada dentro dos prazos contratuais de que o H2Sines.Rdam ficaria pelo caminho, e não se seguiu nenhuma comunicação semelhante da parte de outras entidades, nem esperaria outra coisa.
Ambos os dirigentes da AICEP realçam que o consórcio MadoquaPower2X (MP2X) reforçou, na mesma semana da desistência, a área contratada para a produção de hidrogénio e amoníaco verdes em Sines. Contrataram 60 hectares, em vez dos 25 hectares inicialmente previstos.
No caso da Iberdrola, a empresa lançou, no final do ano passado, o “Green Ammonia Express Sines”, um projeto para produzir hidrogénio verde (e, a partir dele, amoníaco verde) para exportação, através do Porto de Sines. “Neste momento os projetos estão numa fase inicial de licenciamento e planeamento de engenharia, com o objetivo de podermos avaliar custos, prazos, tecnologia disponível e possíveis offtakers“, indica a elétrica espanhola ao ECO/Capital Verde. Está também a aguardar a atribuição do título de reserva de capacidade de consumo por parte da REN.
Já na ex-central termoelétrica de Sines da EDP Produção, a EDP, Galp, Engie, Bondalti, Martifer, Vestas, McPhy e Efacec são algumas das entidades que sustentam o GreenH2Atlantic, um dos maiores projetos em Sines. Terá uma capacidade de 100 megawatts (MW), um investimento superior a 150 milhões de euros e a previsão é de que entre em operação no final de 2025. Este projeto, indica a EDP, mantém-se “em desenvolvimento”, tal como um projeto-piloto de 1,25 megawatts na central do Carregado. “Em termos geográficos, os projetos mais avançados [da EDP] encontram-se na Península Ibérica, seguindo-se os EUA [Estados Unidos da América] e o Brasil”, indica a elétrica.
Contactada, a Galp preferiu não se pronunciar. Além de integrar o consórcio GreenH2Atlantic, tem um projeto-piloto, com um eletrolisador de 2 MW, que deverá iniciar a produção no início de 2024, de acordo com o previsto pela empresa no ano passado.
Os projetos de hidrogénio verde em Sines, sob gestão da AICEP Global Parques, representam cerca de 9.000 milhões de euros investimento, numa área a ocupar de 270 hectares, prevendo-se a criação de cerca de 1000 postos de trabalho. Além dos projetos já mencionados, contam-se os das empresas Fusion Fuel, Smartenergy, Neogreen Portugal, Keme Energy, Winpower, REN, H2Greensteel e Repsol.
Exportação com menos interesse
O CEO da AICEP considera ainda que o projeto que caiu era “um dos mais incipientes” e que menos acrescentaria valor, por estar focado na exportação. O líder da agência de investimento considera que a maior oportunidade no que toca à produção de hidrogénio em Sines está em alimentar a indústria local, da refinação à petroquímica, ao mesmo tempo que pode atrair indústria que queira descarbonizar.
"A Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) abrange a opção para exportação. No entanto, entendo que as vantagens competitivas do caso português deverão sobretudo expressar-se, no curto e médio prazo, para as vertentes da produção e substituição de consumos.”
“A Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) abrange a opção para exportação. No entanto, entendo que as vantagens competitivas do caso português deverão sobretudo expressar-se, no curto e médio prazo, para as vertentes da produção e substituição de consumos“, indica Filipe de Vasconcelos Fernandes, especialista em Economia do Hidrogénio e membro da direção da Ap2H2 — Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio. A exportação, entende, é uma vertente a explorar mais a longo prazo, até porque depende de estruturas de conexão como gasodutos (estando, para já, politicamente bloqueada a ligação prevista entre a Península Ibérica e França), fora a via marítima.
Indústria do hidrogénio pede regulação
“Dada a falta de regulamentação clara e considerando a atual maturidade do mercado-alvo, bem como a falta de infraestrutura adequada, os vários parceiros do projeto tomaram a decisão de o abandonar em outubro de 2023”, justificou a Engie, relativamente à decisão de desistir do H2Sines.Rdam. A Shell, que também fazia parte do consórcio, indica ter concluído que o projeto “não era economicamente viável”.
"O hidrogénio renovável encontra-se ainda numa fase inicial, sendo necessário um enquadramento regulatório e um conjunto de políticas públicas adequados.”
Apesar de manterem os projetos em Sines, as empresas contactadas pelo ECO/Capital Verde concordam com a avaliação de que existe falta de regulamentação. “Como acontece com todas as tecnologias emergentes (nomeadamente como a eólica e solar há 25 anos), o hidrogénio renovável encontra-se ainda numa fase inicial, sendo necessário um enquadramento regulatório e um conjunto de políticas públicas adequados para promover a sua adoção e permitir o desenvolvimento tecnológico e de mercado necessários para melhorar a sua competitividade”, considera a EDP.
Por seu lado, a Iberdrola sublinha que “uma regulamentação clara e estável é fundamental para o desenvolvimento de qualquer projeto”, assim como clarificar a definição de hidrogénio verde e derivados. “É ainda determinante que estes projetos possam ser apoiados por incentivos europeus ou nacionais, bem como incentivos à descarbonização melhorando assim a atratividade do hidrogénio verde”, afirma.
Na ótica de Filipe Vasconcelos, “algum atraso na regulamentação (agravado pela queda do anterior Governo e congelamento de alguns dossiers) não é favorável à estabilização do investimento, parecendo-me absolutamente prioritário o fecho da regulamentação em falta, até ao término do presente ano“.
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