Há mais uma empresa portuguesa a testar a semana de trabalho mais curta sem cortar salário
Nortenha Poças decidiu dar a todos os seus trabalhadores as tardes de sextas-feiras, sem cortar no salário. Objetivo é incentivar conciliação da vida pessoal e profissional, mas também reter mãos.
Há mais uma empresa portuguesa a praticar uma semana de trabalho mais curta do que as tradicionais 40 horas. No setor dos vinhos, e com mais de 100 anos de história, a Poças decidiu passar a “oferecer” aos seus 45 trabalhadores as tardes de sexta-feira, sem qualquer corte no salário. O modelo vai ser testado durante 12 meses e, segundo explicou ao ECO o diretor administrativo, serve, nomeadamente, para estimular a retenção de mão-de-obra.
“É a primeira vez que testamos algo no espírito da semana de trabalho de quatro dias. Temos um contrato coletivo de trabalho que diferenciava a carga horária dos trabalhadores administrativos da carga horária dos trabalhadores do armazém. Achamos que seria uma boa oportunidade para homogeneizar essas cargas horárias, fixando-as nas 37,5 horas semanais para todos”, adianta Paulo Pintão.
Convém explicar que os trabalhadores administrativos da Poças já tinham direito a uma semana de 37,5 horas, mas até aqui essa carga horária era distribuída pelos cinco dias tradicionais. Em contraste, os trabalhadores do armazém cumpriam 40 horas nos cinco dias.
A partir de agora, ambos os grupos (“desde a viticultura aos serviços administrativos”) passam a praticar apenas 37,5 horas em quatro dias e meio, isto é, as tardes de sexta-feira são livres.
“Não houve nenhum ajustamento salarial. Até se converteu num aumento” do salário por hora, salienta o diretor administrativo, que assinala que este teste está a ser acompanhado pelo professor Pedro Gomes e pela professora Rita Fontinha, que coordenaram o projeto-piloto nacional à semana de quatro dias, que decorreu no ano passado.
Aliás, por recomendação desses especialistas, a Poças definiu objetivos claros antes de arrancar esta experiência, que serão avaliados daqui a seis meses (a meio do teste, portanto) e, depois, dentro de 12 meses (no fim do período experimental). Paulo Pintão detalha que esse período (os 12 meses) foi escolhido, porque, sendo a viticultura uma atividade com várias fases, é importante “que se percorra todo o ciclo para perceber se o modelo colhe ou não“.
Quanto às razões que levaram a Poças a começar a testar a semana de trabalho mais curta, o responsável identifica a vontade de “propiciar uma relação mais harmoniosa entre a vida pessoal e profissional” dos trabalhadores, mas também a necessidade de “estimular a retenção de talento“.
“É importante que as empresas de menor dimensão tenham alguns trunfos face a empresas maiores, que nos podem retirar ativos humanos preciosos”, sublinha Paulo Pintão, que reconhece que encontrar mãos adequadas não tem sido fácil. “É importante, quando encontramos trabalhadores que estão ligados à cultura da empresa, trabalhar para os reter”, insiste o mesmo.
A propósito, os resultados preliminares do projeto-piloto nacional já davam sinais positivos quanto ao impacto da semana de trabalho mais curta na fidelização de profissionais: 85% dos trabalhadores que participaram no projeto-piloto já diziam que apenas aceitariam mudar para uma empresa com um funcionamento a cinco dias, mediante um aumento salarial superior a 20%.
De resto, o diretor administrativo da Poças afirma que muitos trabalhadores ficaram “muito agradados” com este novo modelo e sentem que fizeram um “upgrade na sua qualidade de vida”. A experiência ainda agora começou e terá certamente os seus desafios — nomeadamente, em termos de produtividade, aponta o mesmo –, mas o responsável mostra-se otimista.
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