RAR vende fábrica da Colep Consumer Products no Brasil. Lucros do grupo disparam para 34,5 milhões

Após fechar duas fábricas na Alemanha, empresa de Vale de Cambra abandona produção no Brasil e concentra fabrico em Portugal, Polónia e México. Grupo RAR mais do que duplica lucros para 34,5 milhões.

A portuguesa Colep Consumer Products (CCP) abandonou a operação industrial no Brasil no início deste ano, poucos meses depois de ter concretizado o encerramento de duas fábricas na Alemanha, em Bad Schmiedeberg e Laupheim, com o objetivo de “otimizar a sua presença industrial na Europa”.

“O Brasil continuou a ser um mercado desafiante e volátil em 2023, o que levou a Colep Consumer Products a decidir uma saída estratégica deste mercado através da venda das suas participadas, concluída em janeiro de 2024”, revela o grupo RAR no relatório e contas relativo ao exercício de 2023, consultado pelo ECO.

A venda da fábrica em Louveira (São Paulo) mostra que a empresa portuguesa não conseguiu inverter o ciclo negativo do outro lado do Atlântico. No anterior relatório já tinha admitido que o “plano de melhoria para habilitar a operação a enfrentar condições de mercado difíceis” não estava a produzir os “resultados esperados”.

A contract manufacturer de produtos para cosmética, cuidado pessoal, cuidados para o lar e produtos farmacêuticos de venda livre concentra a atividade industrial em Portugal (Vale de Cambra), na Polónia (Kleszczów) e no México (Santiago de Querétar), onde as vendas aumentaram 30% em 2023 e através da qual abastece os clientes norte e centro-americanos. No Oriente tem uma parceria (ACOA) que envolve sócios japoneses, australianos e indianos.

Em termos consolidados, a Colep Consumer Products, que emprega 1.094 pessoas, aumentou as vendas de 260 milhões de euros em 2022 para 306 milhões de euros em 2023, “principalmente impulsionadas pelo impacto do aumento dos preços das matérias-primas e dos volumes produzidos”. “Uma gestão eficaz dos custos operacionais e um mix de produtos mais rentável permitiram que o EBITDA aumentasse de 27,2 milhões em 2022 (versão reexpressa) para 41,4 milhões de euros em 2023”, contabiliza.

Este foi o segundo exercício completo desde que, no verão de 2021, a Colep concretizou a cisão das unidades de negócio de produtos de consumo e de embalagens. Na sequência desta operação, a antiga Colep Portugal passou a designar-se Colep Consumer Products – agora com “particular ênfase na inovação de produto nas categorias de beleza e cuidados pessoais” -, enquanto a área de embalagens assumiu a designação Colep Packaging e passou a ser liderada por Paulo Sousa, um “homem da casa”.

Reportagem na Colep Packaging - 09FEV24
Paulo Sousa, CEO da Colep PackagingRicardo Castelo/ECO

Apresentada como uma das principais produtoras europeias de embalagens metálicas e em plástico para a indústria, a Colep Packaging, que tem um total de 626 trabalhadores, viu as vendas baixarem 14% no ano passado, para 128 milhões de euros, um “decréscimo fortemente influenciado pela redução de consumo nos segmentos em que opera”.

Além das fábricas em Portugal (Vale de Cambra), na Polónia (Kleszczów) e em Espanha (San Adrián), onde em 2022 adquiriu uma participação de 40% na catalã ALM Envases, que permitiu entrar no mercado de aerossóis de alumínio, assinou em 2023 uma joint-venture com o Envases Group para a construção de uma fábrica de aerossóis metálicos no México, num investimento inicial superior a 28 milhões de euros, que deverá iniciar a atividade em 2024.

Do açúcar às saladas, vendas superam 1.000 milhões

Com um total de 3.650 trabalhadores, o grupo RAR ultrapassou em 2023 a fasquia dos 1.000 milhões de euros de volume de negócios (vs. 971,9 milhões em 2022) e viu os lucros mais do que duplicarem face ao ano anterior, para 34,5 milhões de euros. O EBITDA atingiu os 89 milhões, um crescimento homólogo de 24%. Nuno Macedo Silva fala num “ano positivo, com os principais negócios com uma boa evolução, apesar de um ambiente volátil de mercados, afetados por dois conflitos internacionais ativos, níveis de inflação ainda elevados e consequentes taxas de juro altas”.

“Perspetiva-se um novo exercício ainda mergulhado nas muitas incertezas instaladas e condicionado pelo mais recente constrangimento do canal do Suez, que poderá fazer renascer complicações na logística internacional. No entanto, os sinais de baixa da inflação e a adivinhada descida das taxas de juro virá, com certeza, aliviar o ambiente económico e permitir abraçar com mais confiança novos investimentos”, sublinha o presidente do grupo empresarial sediado no Porto.

Fundado há 62 anos, o Grupo RAR tem origem no açúcar, um negócio que ainda mantém e que em 2023 teve “um dos melhores exercícios de sempre, atingindo um EBITDA de cerca de 15 milhões de euros, fruto de uma gestão criteriosa das suas margens e de um controlo efetivo dos seus custos de exploração, num ano marcado por condições favoráveis no mercado europeu de açúcar”. Nesta empresa, que emprega 181 pessoas e registou vendas de 128,9 milhões, está em curso um “ambicioso plano de investimento na sua infraestrutura, o que permitirá uma expansão de capacidade de produção e uma operação mais eficiente”.

O grupo nortenho detém ainda a Vitacress, negócio de saladas e ervas aromáticas que está a expandir a área de cultivo para aumentar a exportação para Inglaterra, Espanha e França; e a empresa de comércio de matérias-primas para a indústria agroalimentar Acembex, que acaba de entrar no segmento dos pellets de madeira e em 2023 faturou 239,4 milhões de euros e movimentou cerca de 800 mil toneladas. Este que é um dos maiores operadores nacionais de cereais (trigo, milho, arroz, cevada) reclama uma quota de 19% na importação de cereais e coprodutos em Portugal, um mercado de cerca de 4 milhões de toneladas.

Novo condomínio na Foz, apesar da “instabilidade política”

Finalmente, através da RAR Imobiliária, direcionada para o segmento alto do mercado habitacional, registou um volume de negócios de 12,2 milhões em 2023, um ano “marcado por um cenário de abrandamento no setor imobiliário”. No mais recente relatório e contas, assume vislumbrar “desafios imediatos como os custos de construção, as dificuldades com licenciamento e financiamento, e a instabilidade política”.

No que toca aos projetos em curso, iniciou recentemente a segunda fase da obra do projeto “Boavista 5205”, situado na Avenida da Boavista, no Porto, próximo do mar e do Parque da Cidade, garantindo já ter comercializado quase 40% deste projeto. Já o projeto “Novo Parque”, localizado em Matosinhos, estava comercializado em 94% no final do ano passado, esperando terminar a construção e realizar a totalidade das escrituras relativas a este projeto até ao final deste ano.

“Sempre atenta a novas oportunidades”, como sublinha o grupo neste documento anual, a RAR Imobiliária comprou o projeto “Montebelo Villas”, situado na Foz Velha, no Porto, onde pretende desenvolver um condomínio de 12 moradias, a iniciar em 2024.

Relativamente à Quinta de S. José de Ribamar, em Algés, e ao projeto Tibãesgolfe, em Braga, “estão a ser analisadas alternativas para o seu desenvolvimento ou para a sua alienação”. Em desenvolvimento está também o projeto de S. Simão da Junqueira, em Vila do Conde, com reuniões com a autarquia “no sentido de o tornar um investimento mais atrativo, dada a sua dimensão”.

(Notícia atualizada pela última vez às 11h30)

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