Descarbonizar com gases verdes e eletricidade poupa 2.500 milhões, diz Floene

A maior distribuidora de gás do país, a Floene, alerta para as vantagens económicas do biometano e pede ação rápida.

A maior distribuidora de gás do país, a Floene, afirma que a equação mais económica para descarbonizar o país inclui os gases renováveis, não passando apenas pela eletrificação. A poupança, no caso de os gases renováveis fazerem parte da transição energética, pode chegar aos 2.500 milhões de euros em 2050. O biometano surge em destaque como a solução mais competitiva para as famílias mas também com vantagens para algumas indústrias. No entanto, é necessário criar as condições desde já, como incentivos, defende o CEO da Floene, Gabriel Sousa.

O estudo “Gases Renováveis e Redes de Futuro”, desenvolvido pela Roland Berger para a Floene, estima que uma “descarbonização equilibrada”, que conte com eletricidade e gases renováveis, apresentará poupanças globais de cerca de 2.500 milhões de euros em 2050, em comparação com um cenário assente sobretudo na eletrificação.

Este cenário de descarbonização “mista” implica investimentos entre os 1.120 milhões de euros e os 1.740 milhões de euros, enquanto uma eletrificação intensiva exige investimentos entre os 1.920 e os 3.200 milhões de euros, calcula a Roland Berger. Nestes totais estão contabilizados custos associados à rede de distribuição e transporte de hidrogénio, atualizações da rede elétrica e ligações e adaptações da parte dos clientes.

O biometano destaca-se pois, tendo uma composição química idêntica à do gás natural, exige menos adaptações. O facto de não implicar investimentos na adaptação dos consumidores traduz-se numa poupança de 1.400 milhões de euros e, simultaneamente, reduz a necessidade de investir no sistema energético, rubrica que leva a uma poupança de 1.130 milhões de euros.

O CEO da Floene, Gabriel Sousa, que apresentou o estudo à imprensa esta quarta-feira, salientou a importância de manter as redes de gás ativas no processo de transição energética, não só numa lógica de aproveitar o investimento já amortizado mas também porque os clientes residenciais permitem uma diluição dos custos do sistema, assegurando a competitividade das tarifas que são cobradas à indústria.

Em simultâneo, o estudo indica que o biometano é a solução de transição energética nas casas “com menor impacto para as famílias”, com custos anualizados em 2040 entre 10% a 110% inferiores aos da eletricidade.

Em paralelo, o biometano tem vantagens económicas para indústrias que podem passar a ter a produção deste gás como uma fonte de rendimento extra. O biometano pode ser produzido a partir de matérias-primas orgânicas, tais como os resíduos agrícolas, urbanos ou da indústria alimentar, estrume, lamas de ETAR ou a partir de biogás. No caso de uma vacaria, o rendimento pode subir em 150% quando a atividade alia a produção deste gás renovável, notou o administrador executivo Miguel Faria, durante a apresentação.

Meta do biometano “ambiciosa mas possível”

Gabriel Sousa adiantou ainda que a Floene já recebeu mais de 170 pedidos de informação para injeção de biometano ou hidrogénio verde na sua rede. De acordo com o estudo apresentado esta quarta-feira, em 2030 será plausível ter 66 produtores de biometano no país e 37 de hidrogénio verde. Número que, em 2050, o mesmo estima que possam chegar aos 199 e 111, respetivamente.

O objetivo nacional quanto ao biometano, definido este ano no Plano de Ação para o Biometano, é substituir, até 2030, 9% do gás natural por este gás renovável. Uma ambição superior à de Espanha, assinala o CEO da Floene, que considera a meta portuguesa “fortemente ambiciosa, mas possível”.

Um dos caminhos mais imediatos para aumentar a produção de biometano no país é que as 70 unidades de produção de biogás que hoje existem, e que estão a produzir este gás para o queimar e transformar em eletricidade, possam passar a transformar esse biogás em biometano. Contudo, para concretizar este caminho, é necessária a criação de tarifas bonificadas para a produção de biometano a partir de biogás, defende Gabriel Sousa, e que aquelas que existem de momento para o biogás gere eletricidade não sejam renovadas. Estas têm prazo, para já, até 2027.

A Floene deu como exemplo uma unidade de biogás no Algarve que, convertida para produzir biometano, conseguiria dar resposta a 50% das necessidades energéticas desta região.

Além disto, existem outras duas chaves de ouro para fazer descolar a descarbonização da rede de gás: maiores apoios ao investimento, a partilha dos custos entre produtor de gás e o operador da rede. O custo da ligação à rede, por exemplo, deveria ser suportado em 60% pelo sistema energético e apenas em 40% pelo produtor, defende a Floene, com base no modelo francês. Ao dia de hoje, França está a instalar centrais de biometano ao ritmo de duas por semana, indicou o gestor.

A Floene conta que as suas redes de distribuição recebam unicamente hidrogénio verde e biometano até 2050, diminuindo em 90% as emissões de dióxido e carbono. Esta visão de futuro para as redes é acompanhada pelos grandes acionistas da Floene, desde a Allianz Capital Partners até à Marubeni, que “estão comprometidos com uma visão de longo prazo e descarbonização”, garante Gabriel Sousa.

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