Salário líquido tem a maior subida de sempre, mas ainda perde dois euros por ano para a inflação
Ordenado médio líquido dos trabalhadores dependentes subiu, em termos reais, 6,12% para 1.137 euros no segundo trimestre, mas ainda está a contrair 0,18% por ano devido ao aumento do custo de vida.
O salário médio líquido dos trabalhadores por conta de outrem fixou-se em 1.137 euros no segundo trimestre, a maior subida homóloga de sempre, quer em termos nominais (8,91%), quer em termos reais (6,12%), mas ainda não recuperou o poder de compra de 2021 que foi ceifado pela onda inflacionista, segundo as contas do ECO com base nos novos dados publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), juntamente com as estatísticas do emprego.
Desde 2011, início da série estatística do INE, que o ordenado médio líquido do trabalho dependente, já depois dos descontos para o IRS e contribuições sociais, não subia tanto. No segundo trimestre, aumentou 8,91%, de 1.044 euros para 1.137 euros, na comparação com o mesmo período do ano passado. Descontando a inflação de junho, que se cifrou em 2,79%, o crescimento real dos salários médios líquidos foi de 6,12%.
Apesar disso, os vencimentos ainda não superaram a crise inflacionista, pelo que ainda estão a contrair 0,18% por ano desde 2021. Isto significa uma desvalorização de cerca de dois euros anuais num ordenado médio líquido de 1.137 euros por mês.
Os dados mais recentes do INE revelam ainda que, pela primeira vez, no último ano, os salários das mulheres subiram mais do que os dos homens em termos percentuais. No segundo trimestre, o vencimento líquido das trabalhadoras por conta de outrem teve um aumento de 87 euros face ao período homólogo, passando de 959 para 1.049 euros, o que corresponde a uma subida de 9,07% em termos nominais e de 6,28% em termos reais, isto é, descontando o impacto da inflação. Já o salário dos trabalhadores cresceu 102 euros, de 1.135 para 1.237 euros mensais, o que traduz uma variação nominal de 8,99% e real de 6,20%.
Tanto homens como mulheres ainda não conseguiram recuperar o poder de compra de 2021, sendo que as trabalhadoras saem mais penalizadas neste campo: enquanto o salário real dos homens regista uma correção anual média de 0,08% desde o segundo trimestre de 2021, o que representa uma perda de 0,99 euros, o salário real das mulheres regista uma contração anual média de 0,27%, isto é, de 2,83 euros, desde então.
Maiores aumentos para militares e agricultores
Analisando a variação das remunerações médias líquidas por grupos de profissões, o INE mostra que, no segundo trimestre do ano, a classe das Forças Armadas continua a beneficiar do maior incremento salarial. A folha de vencimento destes profissionais subiu de 1.285 euros para 1.516 euros, um aumento de de 231 euros, o que corresponde a um crescimento homólogo de 17,98%.
Em termos reais, e descontando o impacto da inflação de 2,79%, o impulso no ordenado foi inferior, de 15,19%, cerca de 2,5 vezes acima da média nacional (6,12%). Ainda assim, conseguiram recuperar o poder de compra de 2021. Olhando para os últimos três anos, a folha e vencimento destes profissionais estava a subir, anualmente, 3,77%.
No ranking dos maiores aumentos, surge, em segundo lugar, o grupo dos agricultores e pescadores. Estes trabalhadores auferiam, em média, 853 euros, no segundo trimestre, o que traduz um crescimento de 100 euros, ou de 13,28%, face ao salário de 753 euros que ganhavam no mesmo período do ano passado.
Se subtrairmos o efeito da inflação, o aumento salarial destes profissionais é menos expressivo: 10,49%. Mas, tal como nas Forças Armadas, os agricultores e pescadores não sofreram perdas devido ao impacto da inflação. Desde 2021 que os seus ordenados médios líquidos estão a subir 2,99% por ano.
A completar o pódio dos maiores aumentos estão os técnicos de nível intermédio, que tiveram um incremento salarial de 108 euros, ou de 9,74%, o que elevou o ordenado de 1.109 para 1.217. Em termos reais a subida foi de 6,95%. Também neste caso, houve recuperação do poder de compra com estes profissionais a ganhar 0,39% por ano desde 2021.
Trabalhadores não qualificados e da montagem com subidas salariais mais modestas
Em sentido oposto, os grupos profissionais com aumentos salariais menos significativos, em termos homólogos, foram os trabalhadores não qualificados. Entre abril e junho, o vencimento destes profissionais alcançou 689 euros, uma subida de 3,45%, ou de 23 euros, face ao ordenado de 666 euros registado um ano antes. Contabilizando o impacto do Índice de Preços no Consumidor (IPC), o incremento salarial recua para 0,66%. Esta classe de trabalhadores não conseguiu superar a onda inflacionista. Desde 2021 que estes funcionários estão a perder anualmente 0,13% do seu salário.
Os operadores de máquina e de montagem e os administrativos completam a lista das três classes profissionais com crescimentos remuneratórios mais modestos.
No caso dos trabalhadores de montagem, o ordenado deu um salto de 52 euros, ou 5,6%, evoluindo de 929 euros para 981 euros. Em termos reais, a subida foi de apenas 2,81%. No entanto, e ao contrário dos trabalhadores não qualificados, estes profissionais viram o salário ganhar poder de compra desde 2021 ao beneficiar de um incremento anual de 1,38%.
O pessoal administrativo teve direito a um aumento de 66 euros ou de 7,45%, o que elevou o ordenado médio líquido de 886 para 952 euros. Em termos reais, a trajetória foi inferior, de 4,66%. Ainda assim, têm conseguido recuperar o poder de compra, uma vez que o ordenado está a evoluir positivamente em 0,35% por ano.
Quase todas as classes profissionais conseguiram recuperar o poder de compra de 2021, exceto os especialistas das atividades intelectuais e científicas, onde se enquadram os professores e médicos, os trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores e os trabalhadores não qualificados, que viram o ordenado encolher anualmente 0,38% 0,34% e 0,13%, respetivamente.
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