Quase 288 mil pessoas têm dois ou mais empregos em Portugal
Mais de 100 mil pessoas que tinham só um emprego no arranque do ano passaram a ter mais postos de trabalho entre abril e junho. Somam-se 185 mil pessoas que já estavam nessa situação e continuaram.
O número de trabalhadores com dois ou mais empregos voltou a aumentar no segundo trimestre do ano. O país conta agora com 287,5 mil pessoas que acumulam dois ou mais trabalhos, o número mais elevado desde, pelo menos, 2011, de acordo com os dados consultados pelo ECO.
Das cerca de 4,9 milhões de pessoas que já estavam empregadas no início do ano e assim continuaram no segundo trimestre, 3,8% tinham dois ou mais empregos e mantiveram-se nessa situação. Em causa estão 185,3 mil pessoas.
No trimestre anterior, tinham sido 167 mil as pessoas que se tinham mantido com, pelo menos, dois postos de trabalho. Ou seja, houve agora um disparo em cadeia de 11,2% deste grupo. Já em termos homólogos houve um aumento de 10,2%.
A estes trabalhadores vierem somar-se, entre abril e junho, 102,2 mil outras pessoas, que tinham arrancado o ano de 2024 apenas com um posto de trabalho, mas no segundo trimestre viram-se obrigadas a acumular, pelo menos, mais um emprego.
Nos primeiros três meses do ano, 94,4 mil pessoas tinham feito essa transição. Tal significa que houve, no segundo trimestre, uma subida em cadeia de 8,2% dos novos trabalhadores em emprego duplo. Já se olharmos para o registado no período homólogo, o aumentou foi de 3,1%.
Resultado: no total, no segundo trimestre, 287,5 mil pessoas mantiveram-se ou passaram ao emprego duplo, calcula o ECO. Este é o valor mais elevado desde, pelo menos, o segundo trimestre de 2011, altura em que começa a atual série estatística, como mostra o gráfico abaixo.
Há três trimestres que emprego duplo sobe
Fonte: INE
No entanto, em declarações ao ECO, o professor João Cerejeira sublinha que este aumento do duplo emprego não é um sinal de alerta, no que diz respeito às dinâmicas do mercado de trabalho português. Aliás, mostra que há disponibilidade de postos de trabalho, e que as empresas, confrontadas com dificuldades no recrutamento, têm recorrido a pessoas que até já estão empregadas para suprir essas necessidades.
O especialista da Universidade do Minho admite, contudo, que estes dados podem também ser explicados pelas quebras reais dos salários dos últimos tempos.
É que, sim, os ordenados até têm subido em termos absolutos, mas o boom dos preços (nomeadamente, da habitação, mas não só) levou a perdas do poder de compra nos últimos anos (em 2022, o salário médio caiu 4% em termos reais). E ainda que os salários reais estejam agora de volta à trajetória positiva, os portugueses continuam a sentir pressão para acumular empregos para reforçar os seus orçamentos familiares.
Ainda assim, é de destacar que, de acordo com os dados do INE, 78,3 mil pessoas que tinham dois ou mais empregos no arranque do ano passaram a ter apenas um posto de trabalho no segundo trimestre do ano. Tanto no primeiro trimestre deste ano, como no segundo trimestre de 2024, tinham sido mais os portugueses a fazer essa transição (86 mil e 84,6 mil, respetivamente).
159 mil mudaram de emprego
À parte dos trabalhadores que passaram a acumular vários empregos, há também quem tenha decidido mudar de posto de trabalho. Mais de 159 mil pessoas fizeram-no, entre o primeiro e o segundo trimestre, menos sete mil do que no arranque de 2024 e quase menos 16 mil do que há um ano.
Convém explicar que neste grupo estão incluídas não apenas as pessoas que mudaram de um emprego para outro, mas também pessoas que ficaram temporariamente desempregadas e inativas antes da mudança para um novo emprego. Exclui-se, contudo, as pessoas cujos contratos de trabalho foram renovados, realça o INE.
Por outro lado, entre as pessoas que continuaram empregadas, é de destacar que quase 167 mil passaram de um contrato a prazo no primeiro trimestre para um contrato sem termo, no segundo trimestre. Em comparação com o período homólogo, houve um aumento de 5% dos trabalhadores que conseguiram entrar para os quadros.
Já quanto ao regime de duração do trabalho, transitaram para um trabalho a tempo completo 77,4 mil das pessoas que tinham inicialmente um trabalho a tempo parcial, bem menos do que as 85 mil que fizeram essa passagem entre o primeiro e o segundo trimestre do ano passado.
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