Substituir equipamentos Huawei no 5G pode custar 339 milhões às operadoras

Estudo da EY estima que exclusão da Huawei do 5G em Portugal tem impacto potencial superior a mil milhões, incluindo 339 milhões para substituir equipamentos. Preços aos consumidores podem subir 7%.

A substituição de equipamentos da Huawei nas redes 5G em Portugal pode custar 339 milhões de euros às operadoras de telecomunicações, de acordo com uma estimativa da EY, que elaborou um estudo a pedido da tecnológica chinesa. Este montante abrange apenas a troca dos equipamentos por outros de outras marcas, um dos impactos mais diretos e imediatos da decisão tomada no ano passado pelas autoridades portuguesas.

A análise da EY contabiliza outros custos “potenciais”, que a consultora estima poderem superar, no total, mil milhões de euros, podendo conduzir a aumentos de 7% nos preços aos consumidores, de acordo com a consultora.

No ano passado, a Comissão de Avaliação de Segurança, um organismo público com ligações ao Gabinete Nacional de Segurança, ao Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço e ao Centro Nacional de Cibersegurança, emitiu uma deliberação que, na prática, impede as operadoras de usarem equipamentos e serviços de fornecedores que o Estado considera de “alto risco”. A chinesa Huawei preenche esses critérios por ter sede num país que não pertence à União Europeia, à OCDE ou à NATO.

As autoridades públicas temem que os equipamentos da Huawei possam ser usados pelo regime chinês para espionagem. Mas a empresa considera que as acusações não têm fundamento técnico e, em setembro de 2023, avançou com uma ação administrativa para impugnar a exclusão e “repor a legalidade”, processo que ainda decorre.

“O estudo divulgado hoje [segunda-feira] é o primeiro trabalho público que quantifica os impactos das decisões anunciadas no ano passado relativas às redes de quinta geração”, diz a Huawei Portugal num comunicado. “Os dados deste trabalho desenvolvido pela EY mostram a importância que o ecossistema da Huawei tem para o país, que esperamos poder continuar a desenvolver”, sublinha Wu Hao, “recém-nomeado CEO da Huawei para Portugal”, segundo a mesma nota.

O estudo foi coordenado por Hermano Rodrigues, Principal da EY-Parthenon, e estima um impacto potencial da exclusão da Huawei da infraestrutura 5G em Portugal de 1.052 milhões de euros, mostra um resumo a que o ECO teve acesso. Deste montante, a fatia de leão são os custos de 339 milhões que as operadoras terão com a substituição de equipamentos, de que as principais empresas de telecomunicações podem não ter forma de escapar ou mitigar.

Ademais, de acordo com a análise da EY, alguns dos equipamentos que têm de ser substituídos ainda não atingiram o tempo de vida útil, pelo que a consultora estima um impacto de 156 milhões de euros por “inutilização de equipamentos ainda com um ciclo de vida considerável”. Terá sido dado um prazo às operadoras para excluírem equipamentos de fornecedores de risco das suas redes, segundo informações apuradas pelo ECO no ano passado.

Para empresas como a Meo, Nos e Vodafone, os efeitos da exclusão da Huawei podem ainda implicar custos de 193 milhões de euros em “investimentos adicionais” que terão de ser feitos para construir as suas redes. Resultam, “essencialmente, da menor concorrência e oferta no mercado”, segundo a EY.

O estudo encomendado pela Huawei aponta ainda para um impacto de 282 milhões de euros em “perdas de produtividade”, nomeadamente custos relacionados com atrasos no desenvolvimento total do 5G, “impedindo que cidadãos e empresas tirem proveito da tecnologia”. Segundo o último balanço do 5G feito pela Anacom, referente ao final do segundo trimestre, a Nos e a Vodafone já têm estações de base de quinta geração em todos os concelhos do país, enquanto a Meo só ainda não está presente em três municípios. Mas, numa análise mais fina, 14% do território nacional ainda não tinha qualquer estação 5G no final de junho, apontou o regulador.

A contribuir para o cálculo dos mais de mil milhões feito pela EY, restam ainda “custos de oportunidade” no valor de 58 milhões de euros, pelo facto de as operadoras terem de aplicar estes montantes na exclusão da Huawei, ao invés de os investirem em “alternativas mais rentáveis”, assim como um impacto de 24 milhões de euros pelo uso de equipamentos de marcas concorrentes com menor eficiência energética.

Quanto custa expulsar a Huawei?

Preços cobrados aos consumidores podem aumentar 7%, estima a EY

A EY acredita que parte da fatura acabará por ser transferida para os consumidores. Segundo a análise divulgada esta segunda-feira, a exclusão da Huawei do 5G poderá levar a um aumento de 7% no preço médio cobrado ao consumidor. Para chegar a este valor, a EY não contabilizou a estimativa de perdas de produtividade, pois “não afetam” o cashflow das operadoras.

Em julho, um relatório da Comissão Europeia referia, pela primeira vez, que as operadoras estão a investir “somas significativas” para substituir equipamentos de fornecedores de risco nas redes 5G em Portugal.

Mas o estudo da EY não mediu só o impacto da exclusão da Huawei do 5G. A pedido da empresa, a consultora também calculou a pegada da empresa chinesa em Portugal, presente neste mercado há cerca de 20 anos. “O ecossistema da Huawei em Portugal contribui com 718 milhões de euros por ano para a economia nacional, dos quais 197 milhões correspondem a Valor Acrescentado Bruto (VAB). O efeito multiplicador do ecossistema Huawei é de 2x na produção nacional”, indica a tecnológica num comunicado.

“As conclusões do estudo técnico e factual que desenvolvemos mostram que o impacto económico das atividades operacionais do ecossistema da Huawei Portugal corresponde aproximadamente a 0,3% do PIB nacional”, explica Hermano Rodrigues, coordenador do estudo, citado na mesma nota.

Quanto ao impacto no emprego, a EY estimou um efeito multiplicador superior, de 7x, com a empresa a apoiar mais de 4.000 postos de trabalho, dos quais 651 empregos diretos, 2.989 empregos indiretos (ao longo da cadeia de valor) e 1.127 induzidos (isto é, ao longo da cadeia de consumo, ou seja, do consumo derivado do rendimento disponível das famílias).

Esta não é a primeira análise ao impacto da Huawei na economia de Portugal. Em 2019, ano em que a empresa foi apanhada na guerra comercial entre os EUA e a China, um estudo da Oxford Economics, uma consultora britânica, mostrou que a Huawei teve um peso total de 12,8 mil milhões de euros na Europa em 2018, incluindo um impacto de 50 milhões no PIB português nesse ano.

Do comunicado divulgado esta segunda-feira pela Huawei Portugal retira-se ainda outra notícia: a empresa tem agora um novo CEO, Wu Hao. Em abril, o ECO tinha avançado em exclusivo que a tecnológica estava a preparar-se para mudar de CEO, cargo ocupado até recentemente por Tony Li.

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