BES: Líder da UGT testemunha “admiração” dos trabalhadores por Ricardo Salgado
Carlos Silva, secretário-geral da UGT, aceitou ser testemunha abonatória de Ricardo Salgado no processo que julga os pedidos de impugnação às contraordenações aplicadas pelo Banco de Portugal.
O secretário-geral da UGT disse hoje, no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão, em Santarém, que os trabalhadores do Banco Espírito Santo (BES) tinham uma “grande admiração” e até “reverência” para com o presidente do BES, Ricardo Salgado.
Carlos Silva, que foi funcionário do BES desde 1988 (tendo passado para o Novo Banco, do qual está requisitado desde 2013), aceitou ser testemunha abonatória de Ricardo Salgado no processo que julga os pedidos de impugnação às contraordenações aplicadas pelo Banco de Portugal ao ex-presidente do BES (4 milhões de euros) e ao ex-administrador Amílcar Morais Pires (600.000 euros) por, apesar de conhecerem a situação líquida negativa da Espírito Santo Internacional, terem permitido que fossem comercializados títulos de dívida desta instituição junto de clientes do banco.
O dirigente da central sindical declarou fazer o seu testemunho “em consciência”, relatando a sua experiência enquanto dirigente sindical, dentro e fora do banco, no relacionamento com Ricardo Salgado, pessoa que disse ter mantido sempre uma “posição honesta, correta”, revelando “grande sensibilidade” para com os problemas dos trabalhadores.
Carlos Silva sublinhou o facto de Ricardo Salgado ter mantido sempre uma relação próxima com os trabalhadores – “ele sabia o nome das pessoas” -, de saber “apreciar” o seu trabalho, de “reconhecer o mérito”, de não exercer represálias sobre dirigentes sindicais, alguns dos quais membros do PCP e que chegaram a cargos de direção.
Questionado pelo advogado de Ricardo Salgado sobre a ideia que tem sido passada de que “decidia sozinho”, Carlos Silva afirmou que “essa imagem veio depois de 2014”.
Segundo o dirigente da UGT, pela sua experiência, “naturalmente” Ricardo Salgado era o presidente, mas as decisões “eram colegiais”.
“Não me parece que impunha”, declarou, relatando várias situações em que a Comissão Executiva se reuniu com clientes, com direções regionais e com representantes dos trabalhadores.
“Conseguia uma gestão inclusiva”, disse, acrescentando que “havia verticalidade nas decisões, mas as propostas também vinham de baixo para cima”.
Carlos Silva referiu a “vaidade” e o “orgulho” que os trabalhadores sentiam no BES, realçando que este deu “passos decisivos” em matéria laboral, nomeadamente na contratação coletiva, que “arrastou outros bancos”.
“Nós tínhamos uma camisola muito prestigiada. Quando desapareceu” houve “estupefação” e um “sentimento de orfandade”, frisou.
Carlos Silva, que assistiu ao regresso da família Espírito Santo quando se deu a privatização do BES em 1991 — altura de um “crescimento orgânico, com a abertura de mais agências e mais espalhadas pelo país” –, afirmou que, quando se deu o colapso do banco, “houve falta de solidariedade dentro da família”.
“Quando ficou sozinho, caiu sozinho. É triste, mas enfim. Depois de 2014 ficou sozinho. Não tenho dúvidas nenhumas”, rematou.
Ao contrário da generalidade das sessões, hoje Ricardo Salgado não esteve presente na audiência de julgamento no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão, em Santarém.
O julgamento dos pedidos de impugnação apresentados por Ricardo Salgado e Amílcar Pires junto do TCRS iniciou-se em 06 de março e tem audiências agendadas de segunda a quinta-feira até 12 de julho, estando em curso a audição das testemunhas arroladas pelo ex-presidente do BES.
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