UE está a falhar na adaptação ao clima. Perdas podem chegar aos 175 mil milhões, alerta TCE
As perdas económicas resultantes das alterações climáticas podem alargar e colocar-se no intervalo entre os 42 mil milhões e os 175 mil milhões de euros anuais.
Apesar de ter destinado um investimento de 34 mil milhões de euros para o combate às alterações climáticas entre 2014 e 2027, o risco da política da União Europeia (UE) não acompanhar o ritmo destas alterações “é bastante real”, alerta o Tribunal Europeu de Contas (TCE), no seu último relatório. Há “problemas” na execução das políticas e as perdas económicas podem chegar aos 175 mil milhões de euros.
Pelo menos 8 mil milhões de euros foram destinados às alterações climáticas entre 2014 e 2020, aos quais se somam os 26 mil milhões previstos para o período 2021-2027, num total de cerca de 34 mil milhões de euros. Este investimento confronta-se com os 26 mil milhões de euros em prejuízos económicos que a UE enfrentou numa base anual, ao longo da última década.
As perdas económicas resultantes das alterações climáticas podem, contudo, alargar, e colocar-se no intervalo entre os 42 e 175 mil milhões de euros anuais, num cenário em que a economia atual fica exposta a um aquecimento global de 1,5 °C a 3 °C acima dos níveis pré-industriais, estima o TCE. A mesma entidade regista “um aumento pronunciado do número de catástrofes na UE nas últimas duas décadas e dos danos daí resultantes”.
"Descobrimos problemas na forma como as políticas são postas em prática. Se as medidas não forem mais bem aplicadas, há o risco de as ambições da UE para a adaptação não acompanharem o ritmo das alterações climáticas.”
“Descobrimos problemas na forma como as políticas são postas em prática. Se as medidas não forem melhor aplicadas, há o risco de as ambições da UE para a transição não acompanharem o ritmo das alterações climáticas”, avisa Klaus-Heiner Lehne, membro do TCE responsável pela auditoria.
De acordo com o relatório, a maioria dos projetos de adaptação analisados aumentou a capacidade de adaptação, “mas perto de 40% tiveram pouco ou nenhum efeito”. O TCE analisou as políticas de adaptação em França, na Estónia, na Áustria e na Polónia. Dos 36 projetos escrutinados, embora mais de metade (19) tenha dado uma resposta eficaz aos riscos climáticos, o Tribunal constatou que 13 tiveram pouco ou nenhum impacto no aumento da capacidade de adaptação, e dois podem mesmo levar a uma situação de má adaptação.
Entre os maus exemplos, o tribunal exemplifica com a promoção da rega de uma superfície maior em vez da transição para culturas com utilização menos intensiva de água; a construção de diques em vez de relocalizar os habitantes de zonas costeiras em risco de cheia ou erosão e o investimento em equipamentos de fabrico de neve artificial em vez de se incidir no turismo ao longo de todo o ano.
Além desta análise, o TCE fez um inquérito a 400 municípios e descobriu que, geralmente, não tinham conhecimento das estratégias e dos planos de adaptação para as alterações climáticas, nem utilizavam os instrumentos de adaptação da UE. Isto, num cenário em que o bloco europeu considera que é ao nível local que está a base da adaptação às alterações climáticas.
Por fim, o tribunal afere que a comunicação de informações sobre a adaptação às alterações climáticas também tem de melhorar. Segundo o TCE, atualmente os dados não permitem avaliar os avanços nesta área nos países, pois são apenas descrições, sem apresentar números.
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