Há mais mulheres nos conselhos de administração, mas maioria está em cargos não executivos

Há mais mulheres nos conselhos de administração das 30 maiores empresas em Portugal, mas 83% estão em cargos não executivos. Novo estudo mostra que Portugal ainda está atrás da UE.

Os conselhos de administração das maiores empresas portuguesas contam hoje com mais mulheres do que há uma década, mas a maioria ocupa cargos não executivos. O cenário é traçado num novo estudo da multinacional Odgers Berndtson Board Solutions, que indica que só 17% dessas profissionais estão em cargos de decisão.

“Houve melhorias significativas na diversidade de género, tendo a percentagem de mulheres em conselhos de administração subindo de 10% em 2013 para 34% em 2024“, é realçado no estudo, que teve por base os dados das 30 maiores empresas em Portugal, incluindo todas as cotadas.

Em declarações ao ECO, o autor, Nuno Fernandes, sublinha que estão a ser dados passos, mas é preciso mais, até porque, apesar da referida melhoria, Portugal continua a comparar mal com muitos países europeus, “onde a representação feminina está, frequentemente, próxima dos 40% ou até acima”.

Segundo o especialista, França, Itália, Dinamarca e Bélgica são os países que saem melhor na fotografia, sendo que há apenas um em pior situação do que Portugal: Espanha.

Além disso, apesar dos conselhos de administração portugueses contarem hoje com mais mulheres do que há dez anos, a maioria destas profissionais está em cargos de não decisão. Cerca de 83% ocupam posições não executivas, o que significa que só 17% estão em cargos executivos.

“E a representação feminina na liderança mantém-se baixa, com apenas 7% dos lugares de presidente do conselho e 4% das posições de CEO a serem ocupadas por mulheres“, destaca o estudo.

Em Portugal, desde 2017 que há uma lei que determina que as empresas cotadas têm de ter, pelo menos, 33,3% dos cargos dos conselhos de administração ocupados por mulheres, mas não define quotas para as posições executivas e não executivas.

Questionado sobre se é preciso estipular esses mínimos, face aos dados agora conhecidos, Nuno Fernandes recusa comentar. Antes, defende que para ir mudando o cenário é preciso um recrutamento mais inclusivo, além de programas internos de mentoria e os estabelecimentos de planos de sucessão diversos.

Já em março deste ano, a professora universitária e investigadora Sara Falcão Casaca, citada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, apelava à definição de quotas para cargos executivos e não executivos, tendo em conta a preponderância feminina em cargos de não decisão.

Conselhos sem grande renovação arriscam perder frescura

Em dez anos, os conselhos de administração portugueses não ficaram apenas mais diversos, em termos de género. Ficaram, também, mais envelhecidos.

A idade média dos membros subiu de 56 anos em 2013 para 58 anos em 2023. E entre os presidentes, a idade média é mesmo de 64 anos, neste momento.

Além disso, houve “uma diminuição significativa dos membros na faixa etária dos 40 anos aos 50 anos”, observa o novo estudo. Só 21% dos membros estão hoje nesse escalão etário, enquanto 43% têm entre 50 anos e 60 anos, 25% entre 60 anos e 70 anos e 10% mais de 70 anos.

“Tal é explicado por grande parte dos conselhos de administração não ter feito uma renovação significativa nos últimos dez anos. Cerca de 25% dos membros já lá estavam há uma década”, assinala Nuno Fernandes, em declarações ao ECO.

Apesar de reconhecer a importância da experiência, o especialista sublinha que os conselhos de administração mais envelhecidos arriscam ter “poucas perspetivas frescas”. Daí ser importante haver um equilíbrio entre experiência e renovação.

Para isso, Nuno Fernandes recomenda “políticas de refrescamento”, como a definição de idades máximas, a boa definição de planos de sucessão e o recrutamento por competências.

Outra mudança registada nos conselhos de administração na última década foi um reforço da diversidade internacional. “A presença de membros estrangeiros nos conselhos cresceu de 14% para 18%, com 94% ocupando cargos não executivos”, explica o estudo. Ainda assim, 37% dos conselhos de administração analisados continuam a não ter membros internacionais, é apontado.

Melhorias na governação?

Apesar dos progressos já referidos, os conselhos de administração portugueses continuam a apresentar “níveis abaixo da média europeia em vários indicadores de governação, como a separação entre os papéis de CEO e presidente, a diversidade de liderança e a representação internacional”, nota a multinacional Odgers Berndtson Board Solutions.

“O alinhamento com as melhores práticas globais será essencial para que as empresas portuguesas possam enfrentar os desafios da governança moderna e as expectativas dos investidores internacionais”, defende a mesma, no estudo “The state of board diversity: Portugal’s journey and its place in Europe in 2023” agora conhecido.

No que diz respeito especificamente à separação de papéis, há a destacar que 30% das empresas portuguesas mantêm a mesma pessoa como CEO e presidente, uma prática que até “aumentou ligeiramente ao longo da última década”.

Por outro lado, subiu de 29% em 2013 para 35% em 2023 a percentagem de membros independentes em conselhos de administração, “refletindo uma melhoria na governação”, sublinha o referido estudo.

Portugal está, porém, aquém dos 50% de independentes recomendados globalmente como boas práticas, “e ainda mais abaixo da média europeia, evidenciando a necessidade de avanços adicionais”, assinala a Odgers Berndtson Board Solutions.

Quanto ao tamanho dos conselhos, num década deu-se um aumento ligeiro do número médio de membros, de 11 em 2013 para 12 em 2023. “E os os mandatos continuam relativamente longos, com baixa rotatividade de membros nos conselhos portugueses”, é salientado. A duração média está, neste momento, em sete anos, como mostra o gráfico acima.

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