Simoldes já admite despedimentos após perder mais de 100 milhões de vendas
Grupo de Oliveira de Azeméis, que fornece componentes para grandes grupos automóveis, prevê fechar o ano com quebra da faturação a rondar os 15%. Novas fábricas no México e Turquia ficam na gaveta.
A Simoldes, fornecedora de componentes para o Grupo VW (Volkswagen, Audi, Porsche, Seat, Škoda) e para a Stellantis (Citroën, Peugeot, DS Automobiles, Opel), entre outras grandes marcas automóveis, prevê fechar 2024 com uma quebra da faturação de 100 a 150 milhões de euros face ao ano anterior. Após mais um ano de abrandamento nas receitas e com o setor automóvel — no qual gera o grosso das suas receitas — em crise, a gigante industrial não descarta avançar com despedimentos, admitindo que esta é uma possibilidade em cima da mesa.
“Este ano [o grupo] irá reduzir a faturação”, admite ao ECO o comercial da Simoldes Tools, Jorge Leitão, adiantando que a redução, face aos 700 milhões faturados em 2023, “deverá andar entre menos 100 a 150 milhões de euros”, uma quebra justificada pelo travão no setor automóvel.
Face a esta perda de negócios, a Simoldes, que emprega mais de 6.000 pessoas, reconhece que a possibilidade de ter de avançar com despedimentos está em cima da mesa. “Neste momento ainda não se colocou em prática uma medida desse género. No entanto está a ser equacionada e estudada para a eventualidade de ser necessária”, admite Jorge Leitão.
O responsável refere ainda que, além dos colaboradores diretos que estão nos quadros, a empresa conta ainda com uma parte de colaboradores que trabalham em part time. “Portanto, a redução de volumes implicará também com a não necessidade de algumas pessoas”, reconhece, reforçando, porém, que “é política da casa evitar ao máximo [despedimentos] e não despedir”, procurando alternativas para “dar a volta à situação”.
Entretanto, num comunicado enviado ao ECO esta sexta-feira, fonte oficial do grupo industrial nortenho reforçou que “de momento não [antecipa] a necessidade de redução da força laboral da Simoldes”.
Quebra nas encomendas
Com 95% das receitas da unidade de injeção de peças em plástico geradas junto da indústria automóvel — um peso que supera os 80% no caso da construção de moldes —, a Simoldes já está a sentir o impacto da crise que o setor atravessa e que tem levado ao anúncio de vários encerramentos e medidas de lay-off.
“A parte do negócio que fornece as peças de plásticos aos construtores automóveis já está a sentir [um abrandamento de encomendas], em termos de redução dos volumes”, explicou Jorge Leitão. “Os volumes diários de produção dessas peças reduziram porque não se vendem carros e, logo, os construtores automóveis pedem menos quantidades“, acrescenta.
Temos de ir fazendo os investimentos com os pés na terra porque é preciso assegurar os postos de trabalho e as empresas que já existem.
Já no setor dos moldes, o responsável da multinacional fundada em 1959 por António da Silva Rodrigues, refere que a empresa também tem sentido “alguma regressão”, mas não nas mesmas proporções, uma vez que neste segmento de negócio, os projetos são negociados e têm de arrancar antes de os carros saírem para a rua. “Estamos a falar de três anos antes”, aponta Jorge Leitão.
“Como a venda de carros tem reduzido imenso, o que vai acontecer é que os próximos projetos que os construtores tiverem para avançar, para o próximo ano ou daqui a dois anos, seguramente também vão ser menos”, acrescenta o responsável da Simoldes, notando que as construtoras automóveis “como não vendem agora também vão investir menos e vão atrasar as decisões de lançamento de outros veículos.”
Com 25 fábricas a nível global, a empresa — que exporta mais de 99% da sua produção e marca presença em países como Polónia, França, Alemanha, República Checa, Marrocos, Brasil e Argentina — reconhece que ao nível de novos mercados há “muito pouco para explorar, ou para adicionar”.
“O que temos estado a fazer é tentar estar cada vez mais próximo dos construtores automóveis numa fase muito mais avançada, ou seja, antes de os projetos serem decididos, de forma a poder aportar algumas soluções técnicas, alguma engenharia que se consiga traduzir num valor acrescentado ao produto e conseguir convencê-los a utilizar soluções turn key, em que possamos estar desde o início até à construção do molde, numa cadeia mais alargada”, explica o responsável, realçando que “isto demora tempo”.
Novos investimentos ficam na gaveta
A crise no setor automóvel está ainda a refrear novos investimentos, que mantém projetos de expansão na gaveta. “Temos alguns [projetos] que foram colocados na gaveta fruto deste abrandamento que já se nota há algum tempo — o ano passado já se sentiu algum abrandamento e este ano também”, explica Jorge Leitão, que antecipa que “o próximo ano e o seguinte serão mais complicados”.
“De todas as formas, esses business plans temo-los, sabemos onde os queremos utilizar, onde queremos investir, mas temos de o ir fazendo [estes investimentos] com os pés na terra, porque é preciso assegurar os postos de trabalho e as empresas que já existem. E quando as coisas estiverem melhor avançar”, refere o mesmo responsável da empresa de Oliveira de Azeméis.
Quanto aos projetos que ficam para já na gaveta, Jorge Simões explica que se tratam de investimentos relacionados “com fábricas no México e na Turquia, para poder estar próximo dos nossos clientes”.
(Notícia atualizada às 16h30 para acrescentar comunicado oficial do grupo)
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