Simoldes perto de entrar com portas na “gigafábrica” da Tesla na Alemanha

Grupo de Oliveira de Azeméis concorre ao fornecimento de painéis de portas e peças para a mala dos carros que a Tesla vai construir na Europa. Logística e matérias-primas trazem moldes da Ásia.

Fornecedora de componentes para o Grupo VW (Volkswagen, Audi, Porsche, Seat, Škoda) e para a Stellantis (Citroën, Peugeot, DSAutomobiles, Opel), entre outras grandes marcas automóveis, a Simoldes está perto de acrescentar a Tesla à lista de clientes.

Segundo adiantou ao ECO a gestora de projetos de investigação e desenvolvimento (I&D), Ana Rita Frias, em declarações proferidas à margem da Hannover Messe, o grupo de Oliveira de Azeméis está numa short list para abastecer os painéis de portas e também peças para a mala dos automóveis que a empresa liderada por Elon Musk vai passar a fabricar na Alemanha.

Inaugurada no final de março em Grünheide, nos arredores da capital alemã, a designada Gigafactory Berlin vai estar a fabricar cerca de 5.000 unidades por semana no final de 2022. A construtora automóvel de origem americana planeia chegar a uma capacidade produtiva de meio milhão por ano, com o projeto no centro da Europa a incluir também a produção de baterias para os carros elétricos.

“A reputação da Simoldes está a crescer e recebemos muitos pedidos. Temos uma presença forte tanto no mercado alemão como no francês. Por isso, quando as empresas do ramo automóvel querem trabalhar com cadeias de abastecimento locais, inevitavelmente cruzam-se connosco”, referiu a porta-voz do grupo nortenho, falando num “projeto relevante” e num “caso particular de transferência de projetos da China para a Europa”.

Temos uma presença forte no mercado alemão e no francês. Quando as empresas do ramo automóvel querem trabalhar com cadeias de abastecimento locais, inevitavelmente cruzam-se com a Simoldes.

Ana Rita Frias

Gestora de projetos de I&D da Simoldes

A Simoldes Plásticos, empresa do grupo dedicada à injeção de peças em plástico, foi criada em 1981 e é atualmente administrada por Domingos Pinto. Está a construir uma terceira fábrica em Espanha num investimento de 45 milhões de euros, que será a 25ª a nível global — está também na Polónia, França, Alemanha, República Checa, Marrocos, Brasil e Argentina. Num horizonte de três anos tem planos para expandir a presença digital a três novas geografias: Roménia, México e Estados Unidos.

A multinacional fundada em 1959 por António da Silva Rodrigues, um dos homens mais ricos do país, tem uma dezena de fábricas em Portugal, onde emprega metade dos perto de 6.500 funcionários. Além da componente de injeção de plásticos, que é a mais valiosa na faturação anual superior a 800 milhões de euros, o grupo oliveirense, que exporta 95% da produção e tem presença direta em nove países, é também fabricante de moldes para a indústria automóvel.

Costa “tira” moldes da China, Simoldes recebe-os em Portugal

A Simoldes é uma das 109 empresas portuguesas que estão a participar esta semana na Hannover Messe, a maior feira mundial na área da tecnologia industrial. Na edição de 2022, com o estatuto de país parceiro, os industriais querem provar que “Portugal faz sentido” como hub de engenharia e fornecedor “verde e digital” para clientes alemães. Entre os “grandes” da indústria há também nove start-ups à procura de novos negócios e financiamento.

Na abertura desta feira em que as empresas nacionais tentam seduzir as PME da Alemanha com cockpits de Valongo e cabelos de CR7, o primeiro-ministro, António Costa, que falava ao lado do novo chanceler Olaf Scholz, fez questão de assinalar que “na atual conjuntura, quando o imperativo de encurtar cadeias de valor está a mobilizar as empresas europeias para relocalizarem na Europa parte da sua produção offshore e parte das suas importações não europeias, Portugal é um destino certo”.

O chefe do Executivo deu mesmo o exemplo da indústria portuguesas de moldes, composta por 750 empresas que exportam 85% da produção, que está “constantemente a inovar” e colabora com meia centena de centros de inovação e universidades. “Na Alemanha, só a China é responsável por 38% das importações de moldes. Num momento em que muitos importadores procuram agora um parceiro no espaço europeu, convido-vos a olhar para Portugal. Temos know-how e a capacidade, somos o oitavo exportador mundial de moldes e o terceiro na Europa”, argumentou Costa.

“Estamos muito mais próximos do fuso horário alemão, o que permite interações comerciais muito mais eficientes, e temos excelentes infraestruturas de transporte. A proximidade geográfica permite estar em Portugal em poucas horas e contar com prazos de entrega rápidos e fiáveis”, acrescentou o primeiro-ministro. Citado pela Lusa, notou ainda que o país apresenta “características altamente valorizadas nestes tempos de incerteza”, designadamente “os valores de segurança, estabilidade e valores comuns” que partilha com a Alemanha.

Nos primeiros cinco meses do ano vimos muitos projetos a entrar, muitas coisas novas [que antes iam para a Ásia] a serem adjudicadas para a produção nacional por receio das implicações logísticas e da variação do preço das matérias-primas.

Ana Rita Frias

Gestora de projetos de I&D da Simoldes

Ora, nos primeiros cinco meses deste ano, confirmou ao ECO a gestora de I&D do grupo português, já aumentou o número de projetos adjudicados à Simoldes Aços. “Vimos muitos projetos a entrar, muitas coisas novas [que anteriormente iriam para a Ásia] a serem adjudicadas para a produção nacional por receio das implicações logísticas e também por causa da variação do preço das matérias-primas. É mais vantajoso começarem logo os projetos na Europa”, resumiu Ana Rita Frias.

A complicar essa resposta às encomendas no chão de fábrica está a atual escassez e o preço dos componentes eletrónicos de que também a Simoldes precisa. Seja nos moldes, para a sensorização ou para o sistema de controlo de pressão nos moldes; seja na área dos plásticos para os botões ou a iluminação dos painéis de porta dos automóveis. “Queremos ter cadeias de abastecimento mais locais, mas a Europa de momento ainda não consegue dar resposta”, desabafa a porta-voz da Simoldes na Hannover Messe. Outra dificuldade está na obtenção de cablagens, que antes da guerra comprava a fornecedores na Ucrânia e na Rússia.

(O jornalista viajou para Hannover a convite da Siemens)

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