Preços do petróleo e Namíbia terão mais impacto nas ações da Galp do que liderança
A evolução dos preços do petróleo e da exploração na Namíbia são mais determinantes para as cotações. A RBC assinala que a demissão pode ainda aguçar o apetite para fusões e aquisições.
Os mercados desvalorizam o impacto da saída do CEO da Galp, Filipe Silva, da empresa. Apontam que, apesar de alguma volatilidade possível no curto prazo, fatores como o sucesso na Namíbia ou os preços do petróleo e gás serão mais determinantes para a evolução das cotações em bolsa. Impõe-se agora a necessidade de escolher um substituto com reputação sólida, e de forma rápida, para que a indefinição não abale a confiança dos investidores. A casa de investimento RBC Capital Markets assinala até que a saída de Filipe Silva pode aguçar o apetite para fusões e aquisições.
Filipe Silva abdicou do cargo “por razões familiares”, depois de ter sido noticiado pelo ECO que estava a ser alvo de uma investigação interna por parte da Comissão Ética, na sequência de uma denúncia anónima sobre uma alegada relação amorosa entre o gestor e uma diretora de topo.
A XTB, na voz do analista Henrique Tomé, observa que “o impacto da demissão do CEO da Galp está a ser muito reduzido na cotação das ações da empresa”, de forma semelhante ao que aconteceu face às primeiras notícias sobre a polémica que envolveu Filipe Silva. “Isto pode ser explicado facto de que Filipe Silva ter assumido o cargo de CEO há relativamente pouco tempo (desde janeiro de 2023)”, pelo que “o mercado está mais atento ao potencial da empresa e não tanto às questões que possam afetar a liderança da mesma”, entende o mesmo.
“O desempenho das ações da Galp não deverá sair afetado a longo prazo. Esta polémica tem um cariz moral e ético, pelo que está a ser vista como secundária pelo mercado”, clarifica Henrique Tomé. Os investidores, acredita, estarão mais atentos aos projetos da Galp e à cotação do petróleo e do gás natural nos mercados internacionais.
“A Galp é uma empresa multinacional com interesses em diversas regiões e no âmbito de diversas jurisdições, pelo que a saída de um CEO tenderia a ser neutral”, corrobora o responsável de Trading do Banco Carregosa, João Queiroz. O mesmo vê dois cenários possíveis. Numa visão mais positiva, “a nomeação rápida de um sucessor com reputação sólida e comprometido com o atual plano estratégico, deve mitigar a incerteza e estabilizará ou até mesmo impulsionará as cotações”.
Em oposição, vê a possibilidade de volatilidade no preço da ação no curto prazo, caso exista uma incerteza “relevante” sobre a futura liderança e estratégia. O prolongamento da indefinição na liderança “poderia traduzir-se numa perda de confiança dos investidores e potencial desvalorização das ações”. Neste sentido, “as perspetivas para a Galp dependerão, em grande parte, de como a empresa gere esta transição na liderança e capitaliza as oportunidades criadas pelas recentes descobertas”, conclui. Uma liderança competente e sucesso na Namíbia deverão levar a revisões do preço alvo em alta, enquanto indefinição na liderança ou obstáculos à exploração de novas reservas pressionam no sentido contrário.
As perspetivas para a Galp dependerão, em grande parte, de como a empresa gere esta transição na liderança e capitaliza as oportunidades criadas pelas recentes descobertas.
O valor das ações da Galp está a cair 1,49%, para 15,90 euros. A 7 de janeiro, a Reuters regista que uma casa de investimento não identificada baixou o preço alvo que previa para a cotada em 4,56%, para 15,4 euros. As anteriores recomendações emitidas relativamente à cotada, que datam de dezembro, são de “compra” ou “desempenho superior”, de acordo com os dados levantados pela Reuters. A última, publicada a 31 de dezembro pelo Santander, revê o preço em baixa mas coloca-o nos 19 euros por ação, cerca de 4 euros acima do preço atual. Antes, a 20 e a 9 de dezembro, duas casas de investimento que não se encontram identificadas reviram os respetivos preços-alvo em alta, para 22 e 23 euros, respetivamente. A 2 de dezembro, o Berenberg inaugurou a cobertura da ação com um preço alvo de 21 euros.
Entre as consequências negativas está a possibilidade de o CEO ter estado envolvido em contactos com congéneres do setor e deter uma eventual posição negocial relevante. “Esta situação poderá criar dúvidas quanto à capacidade da Galp em manter a direção eficaz e eficiente, especialmente num momento em que o mercado está atento ao aproveitamento das oportunidades na Namíbia”, afirma Queiroz.
A nota do RBC, intitulada “Mais uma saída… a nova norma?”, aponta que, desde que Paula Amorim integrou o conselho de administração, em 2012, do qual assumiu a presidência em 2016, Filipe Silva foi o quarto CEO aos comandos da Galp. Andy Brown foi o líder executivo entre fevereiro de 2021 e dezembro de 2022, Carlos Gomes da Silva esteve ao leme de 2015 a 2021 e Manuel Ferreira de Oliveira saiu em 2015, depois de um longo mandato que se estendia desde 2006. “Este é um contraste acentuado em relação aos pares do setor, no qual os CEO se mantêm tipicamente por sete a 10 anos”, lê-se na nota.
"A partida do CEO é provável que acenda expectativas de M&A [fusão e aquisição].”
“A partida do CEO é provável que acenda expectativas de M&A [fusão e aquisição]”, remata ainda o RBC Capital Markets, que vê a Chevron como “o comprador mais lógico para a Galp”. “A Galp atravessa um momento crucial e repleto de oportunidades, em que a escolha de uma liderança capaz de potenciar os ativos da empresa, aliada a uma execução estratégica eficaz e à gestão competente dos desafios do setor energético, será determinante para o seu desempenho no mercado”, entende também o responsável de Trading do Banco Carregosa.
Namíbia e preços do crude a impulsionar
Além da questão da liderança, existem vários outros aspetos que vão influenciar as cotações. Com um ascendente mais favorável, o Banco Carregosa nomeia os preços elevados do crude, que sustentam as receitas e margens da empresa, assim como a descoberta de reservas significativas na Namíbia, que “representa uma oportunidade transformacional para a Galp”, pois reforça as perspetivas de crescimento a longo prazo e atrai atenção para o potencial da empresa em ampliar o seu portefólio.
Nesta altura vemos os mercados internacionais a reagir em alta no que toca aos combustíveis fósseis, sendo que as perspetivas têm vindo a melhorar nestas últimas semanas para as cotadas deste setor. Assim, esta tendência deverá também beneficiar a Galp.
Para a XTB, o comportamento das ações irá depender do desempenho financeiro da empresa e da evolução do preço das matérias-primas nos mercados internacionais. As ações da empresa têm vindo a recuar desde abril de 2024 (cerca de 25%), “pressionadas pelas quedas no preço das matérias-primas energéticas, onde existe uma correlação direta”, identifica o analista. “Nesta altura vemos os mercados internacionais a reagir em alta no que toca aos combustíveis fósseis, sendo que as perspetivas têm vindo a melhorar nestas últimas semanas para as cotadas deste setor. Assim, esta tendência deverá também beneficiar a Galp”, assinala.
Numa nota mais negativa, há que ter em conta incertezas geopolíticas, incluindo tensões em regiões produtoras de energia e potenciais desestabilizações nos mercados globais, que podem ter um impacto negativo nas operações da empresa, ressalva João Queiroz.
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