BRP quer 20 mentores de governança nas PME em 2025. Primeiros resultados “positivos”
A Business Roundtable Portugal faz um balanço positivo do acompanhamento que tem vindo a promover junto de PME, através de pilotos. e quer que se estenda a 20 empresas em 2025.
A Business Roundtable Portugal (BRP), uma associação de 43 grandes empresas nacionais, lançou em 2022 o programa Metamorfose em parceria com o Instituto Português de Corporate Governance. O objetivo foi melhorar as práticas de governança das pequenas e médias empresas no país. Agora, começam a ver-se os primeiros resultados dos pilotos, a partir dos quais se nota uma “influência positiva” de melhores práticas de governança no sucesso das empresas. A Meivcore, uma das duas empresas que beneficiou da bolsa de conselheiros do Metamorfose, partilha as mudanças que operou — entre elas, a nomeação da CEO. O objetivo, agora, é expandir a mentoria a pelo menos 20 empresas em 2025.
O programa Metamorfose conta com o registo de 66 empresas, das quais apenas sete submeteram um questionário de Scoring, uma ferramenta de autoavaliação das práticas de governança. As restantes têm o questionário em progresso. Em paralelo, a bolsa de 40 conselheiros que foi constituída para apoiar, numa lógica de mentoria, as empresas inscritas, está a levar a cabo o acompanhamento de duas empresas, nos setores de manutenção industrial e produção de equipamentos especializados de segurança.
“Embora o crescimento empresarial dependa de múltiplos fatores, conseguimos identificar padrões que demonstram a influência positiva de melhores práticas de governance no sucesso das empresas”, escreve Pedro Ginjeira do Nascimento, secretário-geral da Associação Business Roundtable Portugal, em declarações ao ECO/Capital Verde. O mesmo reforça que, embora a governança não transforme, por si só, um modelo de negócio num sucesso, “sem uma governance profissionalizada as empresas deixam de crescer a partir de um certo limite”.
Sem uma governança profissionalizada as empresas deixam de crescer a partir de um certo limite.
Nesse sentido, Pedro Ginjeira do Nascimento vê o programa Metamorfose como “um catalisador” para inverter a tendência de estagnação em empresas com modelos de negócio sólidos. O responsável da BRP afirma mesmo que “há uma relação direta entre a adoção de boas práticas e o desempenho operacional e financeiro das empresas”, com base num estudo de 2019, Getting Smart About Governance, de Grant Thornton.
O estudo aponta que, com melhores práticas de governança, as empresas são 29% mais eficientes em gerar lucros, têm 25% mais liquidez, são 3,4 vezes superiores a gerar cash-flow e 2 vezes mais resilientes. “São também estas as conclusões que conseguimos tirar com base nos pilotos que temos em curso”, remata. Pilotos que não implicam custos para as empresas beneficiárias e estão abertos a todas as pequenas e médias empresas e ‘midcaps’ nacionais (até 150 milhões de euros de faturação).
Meivcore ganhou CEO no processo
A Meivcore foi a primeira empresa a servir como piloto do programa Metamorfose e, na visão do líder da BRP, “destaca-se pela rapidez e profundidade com que implementou melhorias estruturais no seu modelo de governance”. A empresa, dedicada a serviços industriais e com sede em Viseu, foi criada em 2013 por Luís Aguiar e Marco Amorim, tendo já expandido para seis outras localizações no país, e para Espanha e França.
O percurso no programa Metamorfose começou por iniciativa da BRP, que contactou os fundadores. Luís Aguiar conta que foi numa reunião com Fernando Guedes, presidente e CEO da Sogrape, que percebeu a importância que o programa podia ter para a sua empresa. Fernando Guedes, nomeado como “padrinho” da Meivcore no programa, questionou-o: “Se acontecesse uma coisa aos sócios, o que acontecia à Meivcore?”. “Aí percebi o alcance e profundidade da pergunta. Estávamos muito focados nas operações”, conta o fundador.
Neste sentido, o BRP nomeou como conselheiro Pedro Heleno Ribeiro, do Grupo José de Mello, que a partir de 2023 tem tido reuniões mensais, presencialmente, com os sócios da Meivcore. Ribeiro trouxe a experiência de consultor em Finanças Corporativas da Deloitte e também no planeamento estratégico do grupo José de Mello, onde também abraçou a área de procurement (compras e contratação) da CUF, da qual é atualmente responsável.
Foi logo passado dois meses de arrancar o acompanhamento no âmbito do Metamorfose que a empresa tomou uma das grandes decisões de governança: a separação dos órgãos de gestão dos órgãos de operação. Os sócios afastaram-se das funções executivas e passaram a integrar apenas a administração, tendo nomeado Patrícia Tavares como CEO da empresa.
Mas esta não foi a única alteração. Nos últimos dois anos foi ainda criada uma área de planeamento estratégico, desenvolveram-se estruturas com o objetivo de dar a possibilidade aos trabalhadores de crescerem dentro da empresa, e constituíram-se processos e políticas de comunicação mais transparentes e organizados. O conselheiro destaca um evento, que a Meivcore realizou em Viseu, e no qual apresentou o plano de negócios até ao final de 2030 a todas as partes interessadas, desde clientes a fornecedores e financiadores. Algo que “encheria de orgulho qualquer equipa de relação com investidores” e que, no entender de Heleno Ribeiro, potencia o crescimento.
Por seu lado, Luís Aguiar destaca a criação de uma tabela de gestão de riscos, que já levou à implementação de medidas em resposta, desde a nomeação da CEO, até, mais tarde, uma responsável pelas operações e o reforço da equipa de tecnologias de informação. Por fim, decidiu-se pela contratação de uma consultora externa para avaliar se o novo modelo societário da empresa seria adequado às necessidades.
A Meivcore está ainda a trabalhar na área da sustentabilidade, no âmbito deste acompanhamento, de forma a vir a cumprir os objetivos e ambições da diretiva europeia de reporte. Um passo relevante uma vez que a empresa possui como clientes grandes grupos industriais portugueses e estrangeiros, realça o conselheiro.
Ginjeira Nascimento nega que a Meivcore seja a exceção à regra. “O que a Meivcore demonstra é que, quando há um compromisso real por parte da liderança, os benefícios das boas práticas de governance tornam-se visíveis rapidamente” e “pode servir de inspiração para outras empresas que, com modelos de negócio sólidos, procuram ganhar escala e aumentar a sua resiliência num mercado global cada vez mais exigente”, conclui. A empresa cresceu 133% nos últimos dois anos.
Do lado do conselheiro, a experiência também tem sido enriquecedora, partilha o próprio. “É sempre uma aprendizagem trabalhar com um empreendedor que tem a humildade de perceber que há áreas que não são, por vezes, o foco das empresas, mas que são temas absolutamente críticos para um crescimento sustentável”, afirma.
Inicialmente, apontou-se para estender o acompanhamento por parte de um conselheiro, no âmbito do Metamorfose, por dois anos. No entanto, em conversas informais, tem sido consensualizado que este ciclo seria afinal “relativamente curto para os objetivos”, partilha Pedro Heleno Ribeiro. Nesse sentido, ainda não se definiu um novo prazo, mas é praticamente certo que o acompanhamento vai continuar.
2025 traz mais conselheiros para as PME
O objetivo último do Metamorfose é que o Scoring seja submetido por 2.500 empresas e que a Bolsa de Conselheiros disponibilize 200 conselheiros, permitindo que um maior número de empresas beneficie deste acompanhamento especializado. Em 2025, a associação espera atingir 300 submissões do scoring e contar com 20 conselheiros afetos às empresas participantes.
Um dos principais desafios para a concretização desta meta “passa pela dificuldade que muitas empresas enfrentam em alocar tempo e recursos para esta transformação, devido à pressão da operação diária”, identifica a BRP. Além disso, a sensibilização para a importância da governança “ainda é um caminho a percorrer”, pelo que um dos principais focos da associação é divulgar e explicar os benefícios destas boas práticas – “que resultam em empresas mais sustentáveis, resilientes e preparadas para escalar”.
“Já estamos a reforçar a divulgação do programa e a trabalhar ativamente na sensibilização das empresas para a importância da governance como alavanca para um crescimento sustentável”, indica o líder da BRP, antes de concluir: “O nosso objetivo é que as pequenas empresas se tornem médias, as médias se tornem grandes e as grandes, globais”.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
BRP quer 20 mentores de governança nas PME em 2025. Primeiros resultados “positivos”
{{ noCommentsLabel }}