Empresas recorrem cada vez mais à emissão de obrigações para se financiarem
Apesar de serem maioritariamente procurados por grandes empresas, cerca de 14,5% do financiamento do tecido empresarial já é gerado pela emissão de títulos de dívida. Em 2020 não ia além dos 11%.
O panorama de financiamento das empresas portuguesas está a passar por uma transformação silenciosa, mas profunda. Segundo os dados mais recentes publicados pelo Banco de Portugal, cerca de 14,5% do financiamento das empresas não financeiras provém de emissões de títulos de dívida, um salto face aos 10,7% registados em 2020.
Este crescimento, impulsionado particularmente por grandes grupos empresariais e setores estratégicos, reflete uma mudança estrutural na forma como o tecido produtivo nacional capta recursos.
O documento do Banco de Portugal sublinha que “o financiamento titulado continua a ganhar expressão”, com o stock de dívida de longo prazo a atingir 33,1 mil milhões de euros em 2024, um aumento de 42% face a 2020. Esta tendência é particularmente visível nas empresas de maior escala: “as grandes empresas eram responsáveis por cerca de metade do montante destes títulos” no final do ano passado, detalha o relatório.
Os dados do Banco de Portugal revelam também que a maturidade residual média destes instrumentos financeiros saltou de 9,7 anos para 13,8 anos no mesmo período, indiciando uma crescente confiança dos investidores nas empresas nacionais. “Verificou-se igualmente um aumento da maturidade residual média destes títulos”, confirma o documento, sugerindo que as empresas portuguesas estão a conseguir alongar prazos de financiamento em condições competitivas.
Apesar destes indicadores, os dados do Banco de Portugal notam que esta tendência não é transversal ao tecido empresarial nacional. “No final de 2024, as empresas integradas em grupos eram responsáveis por 97% do total de títulos de dívida de longo prazo emitidos por empresas não financeiras”, lê-se no comunicado do Banco de Portugal, que sublinha ainda que o setor da eletricidade e das atividades de consultoria, científicas e técnicas são os mais expressivos.
Os dados do Banco de Portugal revelam também uma crescente atração de capital externo, dado que “65% do valor nominal dos títulos de dívida de longo prazo emitidos pelas empresas não financeiras residentes”. Esta abertura aos mercados globais contrasta com a estrutura do crédito de curto prazo, onde o setor financeiro doméstico mantém 88% das posições.
Os números mostram que “o aumento do montante de títulos de dívida emitidos tem sido impulsionado, sobretudo, pelas grandes empresas”. Resta saber se esta tendência conseguirá permear todo o tecido empresarial, incluindo pequenas e médias empresas (que agregam mais de 90% do tecido empresarial) que ainda dependem maioritariamente do sistema bancário tradicional.
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