O efeito Snapchat

  • Juliana Nogueira Santos
  • 18 Outubro 2016

Tem apenas cinco anos e já conseguiu revolucionar o mundo das aplicações móveis. O que vem a seguir para a Snapchat?

Quem utiliza regularmente as redes sociais, principalmente aquelas que têm como dispositivo principal o smartphone, tem assistido a muitas mudanças nas funcionalidades oferecidas. O YouTube deixou de ser apenas uma plataforma de partilha de vídeo, para se dedicar à transmissão ao vivo. O Twitter alargou a caixa de 140 carateres para deixar entrar a fotografia, o vídeo, os gifs e, também, a transmissão ao vivo. O Facebook… Bem, na verdade, já ninguém consegue contabilizar a quantidade de coisas que é possível fazer no Facebook.

Contudo, existe uma que, embora tenha chegado há relativamente pouco tempo, conseguiu revolucionar a forma como se pensam as redes sociais e o conteúdo no geral: falamos da Snapchat. Lançada em 2011 por três estudantes da Universidade de Stanford, entre os quais Evan Spiegel, agora CEO da empresa, a aplicação foi apresentada como uma solução para os problemas que advêm do caráter permanente da informação partilhada nas redes sociais: quantas vezes somos identificados no Facebook em fotos nas quais ficámos com a pior cara possível, ou não apagámos aquele tweet mais provocador antes de ir a uma entrevista de emprego?

Outra? Mas é assim tão diferente?

Os limites temporais das partilhas são a arma mais potente da aplicação: primeiro, o perfil do utilizador é uma cronologia composta por fotografias ou vídeos que perduram durante 24 horas numa secção chamada “A minha história”; segundo, as partilhas privadas, ou seja, entre utilizadores, só podem ser vistas pelo recetor duas vezes, sendo que na segunda é enviada uma notificação ao remetente a avisar que o “snap” foi repetido; por fim, a duração máxima do conteúdo, quer seja fotografia ou vídeo, é apenas 10 segundos. Cerca de 35% dos utilizadores afirmam que a razão pela qual utilizam a plataforma é porque o conteúdo desaparece.

A juntar a isto, e a estabelecer-se como uma das ferramentas favoritas dos utilizadores, estão as famosas lentes e as ferramentas de edição.

lente-snapchat
Exemplo de uma lente da Snapchat. Esta transforma-nos num cacho de uvas.

Com uma tecnologia inovadora de deteção de caras, comprada a uma startup ucraniana por cerca de 150 milhões de dólares — e explicada em vídeo pela Vox — toda a gente pode passar a ser um cachorro, um astronauta, até um cacho de uvas… Este conteúdo, que parece básico, é altamente partilhável e já garantiu gargalhadas sem fim por esse mundo fora.

As inovações chegam também ao modelo de negócio utilizado, nomeadamente no que toca à monetização dos conteúdos e o espaço atribuído à publicidade. O conteúdo promovido aparece na aplicação sem o utilizador o entender como tal: os perfis das marcas aparecem como se se tratassem de perfis de contactos, não havendo uma formatação diferente — apenas um separador dedicado. A publicidade pode também ser utilizada pelos próprios utilizadores através dos “geofilters”, filtros propostos pelas entidades que dependem da localização. Também as lentes podem ser promovidas.

Exemplo de
Exemplo de “geofilter”, este do IADE.

Com isto, está previsto que a empresa vá gerar cerca de 366,7 milhões de dólares de lucros em publicidade este ano, valor que sofreu um aumento de cerca de 619%. Mais surpreendente é o valor previsto para 2017, que se colocará nos 935,5 milhões de dólares, sublinhando o caráter “unicórnio” da startup e que irá duplicar em 2018.

Fonte: eMarketer
Lucros em publicidade do Snapchat (milhões de dólares). Fonte: eMarketer

Apresenta-se assim como uma aplicação que tem como alvos principais os millennials e a geração Z — ou seja, os jovens nascidos entre 1982 e 2010 –, retirando muitas das suas características como a necessidade de instantaneidade e a primazia do multimédia. Tem sido portanto uma escolha sem dúvidas para as empresas que querem apostar neste nicho.

O encanto dos utilizadores… e dos concorrentes

São estes fatores diferenciadores que fazem com que mais de 150 milhões de pessoas acedam à aplicação diariamente — quer seja para criar conteúdo, ou simplesmente espreitar os amigos ou até um perfil de receitas –, sendo a maioria delas com idades abaixo dos 35. São também eles que fazem com que os seus concorrentes queiram uma parte da sua popularidade.

A Facebook está no topo da lista de conquistas da startup californiana: primeiro, fez questão de declarar o seu amor pelo conceito de história com a criação do Instagram Stories, uma cronologia composta por fotografias ou vídeos de 10 segundos que se mantêm no perfil durante 24 horas… Já leu isto em algum lado, certo? Além disto, também é possível editar os conteúdos, desenhando com diferentes canetas.

Esta nova funcionalidade conta já com mais de 100 mil utilizadores ativos diariamente, contudo não é correto fazer uma comparação entre as duas aplicações, visto que a Instagram conta já com uma extensa lista de utilizadores, e para utilizar o Stories não é preciso qualquer tipo de instalação ou redirecionamento. Além disto, podemos dizer que o Snapchat não tem muito a perder com isto, visto que os utilizadores que costumam utilizar a plataforma não migram para a outra, utilizando as duas em simultâneo.

Interface de edição da Instagram.
Interface de edição da Instagram.

 

No princípio deste mês, a WhatsApp, plataforma de mensagens instantâneas comprada em 2014 pela empresa de Zuckerberg, anunciou uma nova ferramenta que permite aos utilizadores colocarem emojis e apontamentos a caneta nas imagens que enviam aos seus contactos. A câmara interna também foi aprimorada, com a adição do flash frontal — o ecrã emite uma luz forte no momento da captura –, ferramenta que até agora só era utilizada pela Snapchat.

A ferramenta de edição do WhatsApp permite inserir emojis. A sua interface é muito parecida com a da Snapchat.
A ferramenta de edição do WhatsApp permite inserir emojis. A sua interface é muito parecida com a da Snapchat.

A caminho da IPO

A startup californiana está a preparar-se para a sua entrada no mercado de valores, marcada para março do próximo ano: já escolheu os seus intermediários financeiros e está a passar por uma revitalização de imagem. Esta empresa fenómeno está já avaliada nos 15 mil milhões de dólares, prevendo-se que suba, aquando da oferta pública inicial, até aos 25 mil milhões de dólares. Já não é só uma aplicação, é uma revolução.

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