Derrota nas eleições leva à queda de Montenegro como líder do PSD. PS segura Pedro Nuno
É inevitável a demissão do presidente social-democrata, se perder as legislativas, porque a crise política foi provocada por um caso pessoal. O secretário-geral socialista deve continuar, mas a prazo.

As eleições legislativas antecipadas de 18 de maio serão o derradeiro teste à liderança de Luís Montenegro no PSD. Se perder, a queda é inevitável, porque a crise política foi provocada por um caso que só ao próprio diz respeito: as ligações à empresa familiar Spinumviva e eventuais conflitos de interesse com o cargo de chefe do Executivo.
Caso o derrotado seja Pedro Nuno Santos, o socialista deverá permanecer aos comandos do partido pelo menos até às autárquicas de setembro ou outubro, concluem vários politólogos consultados pelo ECO.
O chumbo da moção de confiança, com o voto contra e decisivo do PS, ditou a demissão do Executivo de Luís Montenegro. Face ao “choque não tanto sobre políticas quanto sobre a confiabilidade, ou seja, a ética da pessoa exercendo a função de primeiro-ministro”, para o Presidente da República “não havia meio caminho”, “não restava senão anunciar a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições para o dia 18 de maio de 2025″, anunciou Marcelo Rebelo de Sousa, na noite da passada quinta-feira, depois de ter obtido o respaldo unânime dos partidos e do Conselho de Estado quanto à convocação de novas legislativas.
Em pouco mais de um ano, os portugueses voltam a ser chamados às urnas para eleger os 230 deputados à Assembleia da República, de onde sairá um novo Governo. E, “em causa”, estarão as lideranças de Luís Montenegro, no PSD, e de Pedro Nuno Santos, no PS, como reconheceu, na passada sexta-feira, o primeiro-ministro demissionário, durante uma visita à Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), em Lisboa.
Para já, o partido parece estar “unido na liderança” de Montenegro, defendeu o ministro das Finanças demissionário, Joaquim Miranda Sarmento, mas já há vozes críticas internas e tropas que se começam a preparar para o day after.
Ângelo Correia, histórico militante e antigo ministro, acusou o primeiro-ministro de estar “completamente agarrado ao poder”, mas admitiu que não existia espaço para disputar a liderança. “Num Governo normal, num tempo normal, num país normal, um primeiro-ministro nestas circunstâncias não se candidata outra vez. Mas, em Portugal, não há tempo”, afirmou, em declarações à SIC Notícias.
Também o ex-rival do presidente do PSD, nas últimas eleições internas, Jorge Moreira da Silva, decidiu posicionar-se: “O que está a acontecer é penoso e revela muito sobre o país e o estado do PSD. Receio que os dirigentes do PSD (nacionais e distritais) não tenham percebido o verdadeiro impacto deste crise na relação com os eleitores e no futuro próximo do PSD”. A mensagem foi partilhada num grupo de WhatsApp que mantém desde a candidatura às diretas de 2022 que perdeu para Luís Montenegro.
“Se Luís Montenegro perder as eleições, a sua situação no PSD será quase impossível. Terá de tomar a decisão e demitir-se, porque o PSD achará que o principal motivo que levou à derrota foi o caso pessoal de Montenegro”, conclui o politólogo, António Costa Pinto, em declarações ao ECO.
Do lado do PS, o tom é mais condescendente. Mariana Vieira da Silva, membro da cúpula da direção de Pedro Nuno Santos, já afirmou que a liderança de Pedro Nuno Santos está a salvo. “Não há nada sobre [a liderança] do Partido Socialista que esteja em causa”, afirmou a antiga ministra da Presidência no programa Casa Comum, da Rádio Renascença. Mas, caso acumule uma nova derrota nas eleições autárquicas de setembro ou outubro, não é certo que esta rede de segurança se mantenha.
“Se Pedro Nuno Santos perder as eleições, não é claro que se demita, porque há umas eleições autárquicas à porta, cujos candidatos foram escolhidos por ele juntamente com o aparelho partidário. E os grandes partidos não têm tendência para o suicídio. A demitir-se será depois de passar pelo teste das eleições locais”, segundo a análise de Costa Pinto.
Outros politólogos consultados pelo ECO consideram que “não parece haver margem para o candidato derrotado continuar na liderança do respetivo partido”, salienta Bruno Costa, professor de Ciência Política da Universidade de Aveiro.
“Pode ser uma questão de tempo, até pelo ciclo eleitoral autárquico, mas parece-me que esta eleição marcará o ‘fim’ da liderança política de quem sair derrotado nestas eleições, não sendo inclusivamente seguro que algum destes líderes se mantenha após as eleições legislativas antecipadas. Tudo vai depender das ‘maiorias criadas’ e dos cenários para a formação de um Governo”, conclui o mesmo politólogo.
Do mesmo modo, Carlos Jalali, professor de Ciência Política da Universidade de Aveiro, considera que “será muito difícil que qualquer se mantenha na liderança do seu partido”. Luís Montenegro “apresentou uma moção de confiança que sabia que estava condenada e mesmo assim avançou com a iniciativa; e Pedro Nuno Santos seria o líder do PS que perdeu duas eleições legislativas no espaço de pouco mais de um ano”, sustentou.
Ainda assim, Jalali reconheceu que há casos na história de exceção em que o líder se mantém, mesmo depois de derrotado numas legislativas. E lembrou “Rui Rio, que perdeu as legislativas de 2019 e continuou como presidente do PSD, não se demitiu”. Nessa altura, sofreu uma dura contestação por parte das tropas internas lideradas por Luís Montenegro, à época seu rival. No ano seguinte, em 2020, o antigo líder parlamentar de Passos Coelho disputou eleições diretas com Rui Rui, mas acabou por perder.
“Em 2022, após mais uma derrota numas eleições legislativas”, que deu a maioria absoluta ao PS de António Costa, “Rui Rio optou por não se candidatar nas diretas do partido, mas também não se demitiu formalmente”, sinalizou Carlos Jalali. Com a saída de cena do antigo presidente da Câmara do Porto, entraria então Luís Montenegro, eleito presidente do PSD a 28 de maio de 2022.
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