Tarifas de Trump à importação de carros afetam todos… até a Tesla

Trump ameaçou a União Europeia e o Canadá com tarifas adicionais, se estes se coordenarem em detrimento dos Estados Unidos para retaliar contra a guerra comercial lançada por Washington.

A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) alertou esta quinta-feira que as tarifas de 25% sobre carros fabricados fora dos Estados Unidos, que Donald Trump pretende impor a partir de 2 de abril, terão um impacto negativo global no setor, incluindo para os fabricantes americanos.

“Pedimos ao Presidente [Donald] Trump que considere o impacto negativo das tarifas, não apenas sobre os fabricantes globais, mas também sobre a indústria nacional dos EUA”, disse a diretora-geral da ACEA, Sigrid de Vries.

O efeito imediato fez-se sentir nas bolsas com as cotadas do setor a cair da Ásia à Europa. A Hyundai, maior fabricante de automóveis coreana, perdeu 4,28%; a nipónica Honda perdeu 2,47%; a a Mercedes abriu a sessão a recuar 4,31% e, na bolsa de Paris, a Stellantis caia 6,12%.

Na quarta-feira, Donald Trump anunciou que serão aplicadas novas tarifas a “todos os carros não fabricados nos Estados Unidos” a partir de 2 de abril. A taxa aplicada até agora era de 2,5%. Isso significa que os carros importados agora serão taxados em 27,5% do seu valor.

As tarifas não afetarão apenas as importações para os EUA, uma penalização que deverá ser suportada pelos consumidores americanos, mas as medidas sobre peças para automóveis também prejudicarão os fabricantes que produzem carros nos EUA para mercados de exportação, observou.

De facto, o multimilionário Elon Musk reconheceu que a fabricante automóvel Tesla, não será poupada à política tarifária implementada pela Administração Trump, de quem é conselheiro. “É importante notar que a Tesla não saiu ilesa deste problema. O impacto das tarifas na Tesla continua a ser significativo”, disse Musk numa breve mensagem na rede social X, da qual também é proprietário.

Os fabricantes de automóveis alemães também já vieram criticar o aumento das taxas alfandegárias sobre automóveis, considerando-as “um sinal fatal para o livre comércio”. Os 25% de taxas alfandegárias adicionais “representam um fardo considerável para as empresas e cadeias de fornecimento globais” na indústria automóvel, “com consequências negativas, especialmente para os consumidores, inclusive na América do Norte”, considerou a Associação Alemã de Fabricantes de Automóveis (VDA), em comunicado.

“As consequências serão sentidas no crescimento e na prosperidade de todos os lados”, acrescentou a VDA, pedindo aos Estados Unidos e à União Europeia (UE) que entrem rapidamente em negociações para encontrar uma “abordagem mais equilibrada”. “O risco de um conflito comercial global” é “alto em todos os lados”, alertou.

Também a indústria automóvel britânica pediu que Londres e Washington consigam um acordo para evitar tarifas, após o anúncio de Donald Trump, que consideraram “dececionante”. “Em vez de impor tarifas adicionais, deveríamos explorar formas de criar oportunidades para os fabricantes do Reino Unido e dos EUA”, disse Mike Hawes, presidente executivo da associação do setor — Sociedade de Fabricantes e Comerciantes de Automóveis (SMMT, na sigla em inglês) –, num comunicado emitido na noite de quarta-feira.

O Reino Unido está atualmente em negociações com os Estados Unidos para concluir um acordo económico que lhe permita evitar as tarifas alfandegárias americanas, que têm vindo a ser impostas a muitos países há semanas. O setor automóvel britânico, que viu sua produção prejudicada no ano passado pela transição para veículos elétricos, já tinha manifestado preocupação em janeiro com as ameaças de taxas alfandegárias adicionais nos Estados Unidos.

Em fevereiro, a produção automóvel no Reino Unido caiu 11,6% em termos homólogos, para 82.178 unidades, devido à fraca procura interna e externa, mudanças de modelos e reestruturação de fábricas. De acordo com os dados publicados esta quinta-feira, a produção interna caiu 22,3%, para 18.401 unidades, enquanto as exportações caíram 8%, para 63.777 unidades. A UE continuou a ser o principal destino das exportações de automóveis do Reino Unido (53,5%), seguida pelos EUA (19,7%) e pela China (6,3%). Por isso a SMMT enfatiza a necessidade urgente de medidas para aumentar a competitividade do Reino Unido e estimular a procura dos consumidores.

Já a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) disse que o país não está diretamente exposto à tarifa dos EUA sobre automóveis importados, porque as exportações destinam-se sobretudo à União Europeia, mas alertou para o “efeito dominó” na economia global.

“Somos um país com produção automóvel, temos mais de 300 mil veículos produzidos em Portugal e esta produção é para exportação, mas, sobretudo, para a União Europeia, portanto não há aqui uma exposição significativa da nossa produção nacional aos Estados Unidos”, apontou o secretário-geral da ACAP, Helder Pedro, em declarações à Lusa.

Trump contra o seu próprio veneno

E com o aproximar do dia 2 de abril, data em que a suspensão das tarifas europeias a produtos emblemáticos norte-americanos como o wisky e as motas Harley-Davidson deixará de vigorar — ou seja, as tarifas voltam a pesar sobre estes produtos — Donald Trump vem ameaçar a União Europeia e o Canadá com tarifas adicionais, se estes se coordenarem em detrimento dos Estados Unidos para retaliar contra a guerra comercial lançada por Washington.

“Se a União Europeia trabalhar com o Canadá para prejudicar economicamente os Estados Unidos, serão impostas tarifas em grande escala, muito maiores do que as atualmente previstas, a ambos para proteger o melhor amigo que cada um destes dois países já teve!”, publicou o Chefe de Estado norte-americano na rede Truth Social.

Estas ameaças surgem no contexto de uma guerra comercial lançada por Washington contra o Canadá e a UE em particular. Os Estados Unidos aumentaram os impostos sobre o aço e o alumínio, dos quais o Canadá é um dos principais fornecedores. Em relação à UE, há muitos setores na mira dos Estados Unidos.

Em março, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a ligação entre a UE e o Canadá era “mais crucial do que nunca”. “A Europa e o Canadá são amigos e parceiros de confiança. Hoje, esta relação é mais crucial do que nunca”, reagiu na rede X no dia em que o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, tomou posse. “Estou ansiosa por trabalhar convosco para defender a democracia, o comércio livre e justo e os nossos valores comuns”, disse a líder do executivo europeu.

Artigo atualizado às 11h09 com as declarações da ACAP

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