Formação “é um imperativo” para competitividade das empresas, mas burocracia pode travar aposta

Empresários e diretores de faculdades discutiram importância da formação para a competitividade das empresas na Conferência Anual do Trabalho. Avanços tecnológicos reforçam relevância dessa aposta.

  • A Conferência Anual do Trabalho foi organizada pelo Trabalho by ECO e abordou os salários, a lei do trabalho, o futuro da Segurança Social, a formação e as migrações. Ao longo desta semana, serão publicadas peças relativas a cada um destes cinco painéis, sendo que pode rever já os principais destaques aqui.

A formação contínua dos trabalhadores não é apenas uma obrigação prevista na lei do trabalho. É “um imperativo” para a competitividade das próprias empresas, sobretudo numa altura em que, por efeito dos avanços tecnológicos, o mundo dos negócios está em profunda transformação.

Ainda assim, a burocracia continua a ser um entrave à aposta em ações formativa. Esta reflexão foi deixada no painel “Formação e empresas de mãos dadas“, que juntou empresários e diretores de faculdades no palco da Conferência Anual do Trabalho.

Quinto painel da segunda edição da Conferência Anual do Trabalho debruçou-se sobre a importância da formação.Henrique Casinhas/ECO

As empresas procuram-nos, temos uma série de mestrados executivos e outros em acreditação”, avançou o diretor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Óscar Afonso, garantindo que a relação entre as empresas e a academia é cada vez maior.

Mas a burocracia pode ser um entrave, alertou o responsável. Isto quer no seio da universidade, quer do lado da agência que valida os cursos. “O gap temporal pela burocracia não é compatível com a realidade“, observou Óscar Afonso, no referido painel.

Já Filipe Santos, dean da Católica Lisbon School of Business and Economics, defendeu que “a formação contínua deveria ser entendida como a higiene e segurança no trabalho“, isto é, como uma matéria incontornável para a globalidade das empresas. “A formação é um imperativo não só legal, mas também em termos de competitividade das empresas“, sublinhou o responsável.

Do lado das empresas, também Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), salientou a importância da formação, tanto dos trabalhadores, como dos próprios empresários e líderes. “Temos de ter os empresários também preparados ou não valorizam a formação“, argumentou.

No painel da Conferência Anual do Trabalho, esclareceu, contudo, que há empresas que não conseguem cumprir as 40 horas de formação previstas na lei, porque não têm condições para o fazer (por exemplo, por terem laboração contínua ou equipas demasiado pequenas).

Temos de ir ao coração da empresa, perceber as particularidades e ajustar a formação.

Ana Jacinto

Secretária-geral da AHRESP

Temos de encontrar estratégias para aumentar a formação“, apelou a responsável, referindo-se, por exemplo, a formação em modo híbrido. “Temos de ir ao coração da empresa, perceber as particularidades e ajustar a formação”, enfatizou.

Por sua vez, o diretor-geral de talento do Super Bock Group, Pedro Ribeiro, assumiu que é necessário melhorar os números de formação em Portugal, que não são brilhantes. Em linha com Ana Jacinto, assinalou também a necessidade de aproveitar os diferentes formatos de formação e de mediar o impacto das mesmas.

Formar para a inteligência artificial

Pedro Ribeiro, diretor-geral de talento do Super Bock Group, participou na segunda edição da Conferência Anual do Trabalho.Henrique Casinhas/ECO

Num painel sobre a ligação entre as empresas e a formação, Pedro Ribeiro, do Super Bock Group, foi questionado sobre o impacto da inteligência artificial (IA) nesta dinâmica e reconheceu que, no caso da empresa que representa, esta temática já começou a ser pensada.

O que pode acontecer com a IA pode ter uma dimensão superior ao que vivemos há 25 anos. Estamos já a prepararmo-nos. Já temos vindo a identificar as funções que não vão ser necessárias, as funções que vão precisar de mais recursos e qual é o gap que temos na nossa estrutura”, afirmou. O diretor-geral de talento do Super Bock Group assegurou que já estão dar formações, mas reconheceu que podem não ser suficientes.

Sobre o mesmo assunto, Ana Jacinto, da AHRESP, lembrou que o nível de digitalização das empresas é muito baixo, havendo ainda um longo caminho a percorrer. “Há empresas, ainda hoje, que nem um email têm“, atirou.

Andamos todos preocupados, mas eu não estou. Desde que existe humanidade, sempre existiram revoluções, mas todas elas criaram mais necessidades da força de trabalho. Acredito que desta vez também vai ser assim.

Óscar Afonso

Diretor da FEP

Filipe Santos, da Católica Lisbon School of Business and Economics, não tardou a responder: “Há tecnologias que permitem um salto da rã“, isto é, que permitem saltar várias etapas. Por isso, recomendou: “A forma de pensar é, perante esta tecnologia, como posso utilizar, independentemente da fase em que estou“.

Já numa nota otimista, Óscar Afonso, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, disse acreditar que, tendo em conta a história da humanidade, a inteligência artificial não vai diminuir os postos de trabalho, mas antes criar mais necessidades.

“Andamos todos preocupados, mas eu não estou. Desde que existe humanidade, sempre existiram revoluções, mas todas elas criaram mais necessidades da força de trabalho. Acredito que desta vez também vai ser assim“, declarou o diretor.

Recorde abaixo o painel na íntegra:

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Formação “é um imperativo” para competitividade das empresas, mas burocracia pode travar aposta

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião