Quem é Alfredo Cuevas, o novo homem forte do FMI para Portugal?
Chama-se Alfredo Cuevas e vem substituir Subir Lall. É mexicano, era até agora o líder da missão do FMI no Brasil e é doutorado em economia. A partir de setembro será a voz do Fundo em Portugal.
Cuevas assume a pasta em setembro, após a conclusão da consulta do Artigo IV. Até lá estará a fechar o dossier brasileiro e a estudar o dossier português. Subir Lall, o atual chefe da missão do FMI em Portugal, ainda vai supervisionar a conclusão da consulta do Artigo IV de 2017 de Portugal, que deve ser discutida pelo Conselho de Administração do FMI em setembro. Por isso, Cuevas só entrará em cena mais à frente.
O mexicano é fluente em inglês, espanhol e português. Especialista em macroeconomia, Cuevas tem-se destacado pelo seu trabalho nos sistemas de pensões, nas metas de inflação saudáveis para cada país e nas relações intergovernamentais. O que pensará de Portugal?
Por onde já passou?
O seu percurso começa no México, onde nasceu. Depois da escola secundária, Alfredo Cuevas licencia-se em Administração Pública pela Universidade El Colegio de México. Segue depois para a Universidade de Princeton onde tem um mestrado em assuntos públicos internacionais e um PhD (doutoramento) em economia.
Através do seu LinkedIn apenas é possível identificar um posto de trabalho além do Fundo Monetário Internacional: Cuevas foi quadro do Banco do México durante dois anos. Foi no banco central do seu país que fez investigação independente sobre política monetária, o investimento estrangeiro direto, a integração comercial e a inflação. Foi, por exemplo, responsável por estudar o impacto económico do Nafta, o tratado de livre comércio dos países da América do Norte.
Cuevas era também responsável por preparar discursos e apresentações para os membros do conselho de governadores do Banco do México.
Já a trabalhar para o Fundo, o mexicano dividiu-se entre África e a América Latina. “Cuevas começou a trabalhar no departamento de assuntos orçamentais em 1994, dedicando-se a vários temas, incluindo a reforma da Segurança Social”, refere o comunicado do FMI. Como quadro do Fundo Monetário Internacional, Cuevas “trabalhou no departamento africano como chefe de missão para São Tomé e Príncipe, Malawi, Zimbabué, foi representante permanente na África do Sul e chefe da divisão de estudos regionais”. Depois do Brasil, o próximo destino é Portugal.
O que disse sobre a recente crise no Brasil?
Foi das intervenções mais recentes que deixou por terras de Vera Cruz. Cautela nas previsões e foco nas reformas — esta é a mensagem deixada aos brasileiros em junho pelo FMI. Questionado pelos jornalistas, segundo O Globo, Cuevas insistiu na aplicação das reformas recomendadas pelo Fundo, exemplificando com uma reforma do sistema de pensões que foi aprovada no Parlamento brasileiro, cuja aplicação é “necessária para garantia a sustentabilidade”, disse.
Além disso, Alfredo Cuevas elogiou o atual ministro responsável pelos Assuntos Económicos, Henrique Meirelles, por um contingenciamento de 42,1 biliões de reais, necessário para atingir a meta de défice primário de 139 biliões de reais em 2017. O mexicano recomendou uma maior abertura da economia, aumento do investimento e regras “mais atraentes para os investidores” — tal como a simplificação da cobrança de impostos –, mas avisou que tal “não pode arriscar a consolidação orçamental”.
O Fundo espera que a economia cresça 0,2% este ano e acelere em 2018 para os 1,7%. Segundo um relatório de maio, o crescimento da economia do Brasil será sustentada pela soja, aumento do consumo, a retoma do investimento estrangeiro e o aumento do preço do ferro.
É neste documento que a equipa de Cuevas elogia a emenda constitucional levada a cabo no final do ano passado em que os gastos públicos do país passaram a ter um limite. Neste relatório, o Fundo diz apoiar a medida de forma a controlar o défice e reforçar a capacidade do Brasil de pagar e diminuir a sua dívida pública.
A última visita da equipa de Cuevas ao Brasil realizou-se entre 8 e 19 de maio. O relatório foi avaliado em julho e deverá ser divulgado nos próximos meses.
O sistema de pensões
Num paper divulgado no final do ano passado, Cuevas traça o percurso do sistema de pensões brasileiro e faz recomendações para conter os custos no futuro, dado que a esperança de vida continua a crescer. “Em vista do elevado gasto da previdência social e das projeções de que ele continue a crescer, uma reforma é essencial e urgente”, lê-se no documento do ainda chefe da missão do FMI no Brasil.
A ‘urgência’ da reforma tem números: o Fundo estima que os gastos com o sistema de pensões subirão até 14% do PIB até 2021, 18% do PIB até 2030 e 26% do PIB até 2050. Entre as recomendações deixadas ao Executivo brasileiro, está a revisão dos critérios de acesso à reforma, assim como o ritmo de aumento da idade mínima. Cuevas pede que se reduzam a duplicidade de benefícios no sistema brasileiro e que se reverta a isenção de impostos nas reformas recebidas.
Por outro lado, a equipa do FMI defende que “a reforma deve ser concebida de forma a assegurar que as pessoas em situações vulneráveis que venham a ser afetadas pelas mudanças sejam cobertas por outros programas sociais focalizados nos mais pobres”. “Deve-se assegurar também a consideração das questões de equidade e a manutenção dos progressos no combate à desigualdade”, conclui o documento.
Reconhecendo que “a maioria das reformas da Seguridade [Segurança] Social tende a implicar longos períodos de transição, é essencial começar já”, avisa Cuevas.
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