Como a queda do petróleo tramou a economia angolana
O petróleo chegou aos 150 dólares. Mas rapidamente recuou para os 50 dólares. Uma queda que fez com que a economia angolana deixasse de ser um "milagre económico".
Antes da crise financeira, o petróleo chegou perto dos 150 dólares por barril. Afundou com a crise, mas rapidamente recuperou para a fasquia dos três dígitos, mantendo felizes as economias mais dependentes da produção da matéria-prima. Mas foi “sol de pouca dura”: os preços voltaram a deslizar, para menos de metade dos 100 dólares. Um hecatombe que arrasou economias desde a América Latina até África, com Angola a ser uma das vítimas. A forte dependência das receitas petrolíferas fez com que de um milagre económico, o país liderado por José Eduardo dos Santos entrasse em crise, algo que os preços baixos do petróleo ameaçam perpetuar.
Angola foi apontada durante muito tempo como um exemplo de prosperidade. Uma realidade que acabou por desabar quando os preços do petróleo começaram a cair: Angola cresceu apenas entre 0,1% e 0,6% em 2016. A matéria-prima corresponde a 30% do PIB, a 50% das receitas públicas e 95% das exportações totais. Uma dependência que torna a economia muito vulnerável às flutuações dos preços do petróleo, tal como acontece com economias sul americanas, casos da Venezuela ou do Brasil, também estes em graves situações macroeconómicas.
É por causa desta dependência do petróleo que a queda das cotações, em conjunto com a situação económica extremamente frágil, acabou por agravar os conflitos políticos e sociais: os analistas preveem uma inflação nos dois dígitos e uma escassez de divisas nos bancos. “A queda das receitas petrolíferas deixaram a economia do país de rastos e precipitaram o fim do mandato de 38 anos de José Eduardo dos Santos”, nota Maja Bovcon, analista sénior da Verisk Maplecroft, à CNBC.
"A queda das receitas petrolíferas deixaram a economia do país de rastos e precipitaram o fim do mandato de 38 anos de José Eduardo dos Santos.”
Esta queda dos preços do petróleo resultou numa descida de 34% das receitas das exportações da matéria-prima no ano passado. Uma quebra sentida pela Sonangol, a maior petrolífera angolana, mas também um dos pilares de todo o sistema financeiro do país. Este ano, Angola prevê produzir 662 milhões de barris de petróleo, setor que deverá render à economia, segundo os cálculos do Governo, 3,753 biliões de kwanzas (20,7 mil milhões de euros), numa previsão de 46 dólares por barril, contra os 40,9 dólares estabelecidos para 2016. Valores muito distantes do que é necessário para uma recuperação desta economia.
Os números variam, mas Angola precisa que as cotações do petróleo rondem os 82 a 85 dólares por barril para que seja possível reequilibrar o orçamento, segundo vários analistas — o défice das contas públicas foi de 6,8% em 2016. Mas há muito tempo que os valores estão muito abaixo deste patamar e, mesmo com o esforço da OPEP para reduzir a produção, prevê-se que o Brent, negociado em Londres, se situe perto dos 50 dólares durante este ano. Um número que coincide com o preço médio atual de 49,41 dólares, de acordo com dados da Bloomberg.
Barril do Brent continua perto dos 50 dólares
Esta baixa cotação do petróleo está a deixar vários países sob pressão. Isto depois de a OPEP, cartel do qual Angola faz parte, ter chegado a acordo para reduzir o excesso de petróleo que há no mercado, com o objetivo de animar os preços. Mas o reequilíbrio entre a procura e a oferta ainda está distante. Este excesso parece não querer ceder e a oferta, segundo a Agência Internacional de Energia, deve voltar a cair este ano e no próximo, o que vai continuar a penalizar as economias mais dependentes do petróleo com preços baixos e queda das exportações.
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