Arábia Saudita: quem ganha com as mulheres ao volante?

  • ECO
  • 27 Setembro 2017

Na Arábia Saudita as mulheres já vão poder conduzir. Depois desta decisão histórica, as ações das seguradoras e dos bancos valorizam. A Uber deverá ter quebras no serviço.

É uma decisão histórica: a Arábia Saudita vai permitir que as mulheres conduzam. São milhões de novas automobilistas que, em breve, irão tomar conta das estradas do reino. Prometem-se engarrafamentos nas ruas, mas também nos mercados, com os investidores a acelerarem para comprar ações de várias empresas, desde o setor automóvel aos seguros, sem esquecer a banca.

A Arábia Saudita tem mais de dez milhões de mulheres com mais de vinte anos, que em breve irão agarrar nos volantes e conduzir a economia do país pelo bom caminho. Esta mudança, pela qual muitos lutavam há mais de cem anos, vai beneficiar o mercado de várias formas, começando nos bancos, que vão lucrar com os empréstimos para as compras dos carros e as seguradoras, com os seguros automóveis.

"Os bancos vão presenciar uma procura pelos empréstimos automóveis.”

Sanyalak Manibhandu

Responsável de pesquisa no Banco NBAD Securities, em Abu Dhabi

No ramo dos seguros, as companhias já começaram a valorizar, com o índice Tadawul Insurance Index a valorizar 3,11% para os 5,123.77 pontos. Várias seguradoras seguiram o mesmo caminho: a primeira companhia de seguros a nível nacional Tawuniya valorizava 8,12% para os 98,50 riyal; Al Rajhi Company for Cooperative Insurance subia 6,76% para os 57,30 riyal e a AXA Cooperative Insurance Co, a principal seguradora do país, valorizava 3,97% para os 21,20 riyal.

As empresas de aluguer de automóveis também saem a ganhar com esta nova decisão, e prova disso foi a United International Transportation que entrou a ganhar 5,26% para os 24,22 riyal.

As marcas de automóveis talvez precisem de pensar em modelos menores e mais compactos, feitos a pensar nas condutoras femininas, dizem os analistas. Enquanto isso não acontece, as ações continuam numa corrida até ao topo. A procura por automóveis vai aumentar significativamente neste mercado, beneficiando várias empresas presentes nas estradas da Arábia Saudita. Entre elas a Toyota, que representa 32% dos 676 mil veículos vendidos no país em 2016 e a Hyundai, que detém 24% dos veículos, disse Jeff Schuster, vice-presidente do departamento de previsões da LMC Automotive.

Por outro lado, o cenário não é assim tão positivo para a Uber, que depende da falta de pessoas habilitadas a conduzir ou, pelo menos, da falta de vontade em conduzir, algo que não parece que vá acontecer. O mais certo é a empresa sofrer uma queda significativa da procura, à medida que as condutoras começarem a assumir o controlo do volante, dado que 80% das viagens da empresa são para transportar mulheres.

Ainda assim, a Uber pode beneficiar do interesse das mulheres em se tornarem motoristas da empresa. Algo pelo qual o governo do país demonstra interesse: no sucesso da empresa. E adianta que o fundo soberano SAMA Foreign Holdings poderá ser um importante investidor nesse sentido.

"Estamos orgulhosos por se ter conseguido mobilidade extraordinária para as mulheres na Arábia e estamos entusiasmados com as oportunidades económicas que essa mudança poderá representar para elas no futuro.”

Uber

Esta decisão em permitir que as mulheres possam conduzir representa mais um esforço da Arábia Saudita em desenvolver e maximizar a economia, de forma a ficar menos dependente da exploração do petróleo. Desde que se descobriu petróleo no deserto árabe em 1938, o país é o principal exportador da matéria-prima do mundo. Mas, em 2014, desde que a queda nos preços do crude deixou o país com um enorme défice governamental, Mohammed bin Salman, filho do rei, está decidido a reinventar a economia saudita até 2030.

O país foi o último a acabar com esta proibição, que Rebecca Lindland, analista do site automóvel Kelley Blue Book, descreveu como “muito emocionante”. “Não vai ser sem obstáculos mas é um grande passo em frente para a Arábia Saudita, reconhecendo as contribuições que as mulheres podem trazer para a economia“, conclui.

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