Banco de Portugal reafirma convergência ao euro pela primeira vez em 17 anos
O Banco de Portugal reafirmou a projeção de crescimento de 2,5% para 2017. E apesar de notar sinais de desaceleração na segunda metade do ano, considera a subida do PIB sustentável.
A menos de três meses do final do ano, o Banco de Portugal mantém o otimismo em relação ao crescimento da economia portuguesa. Segundo as contas da organização liderada por Carlos Costa, o PIB deverá crescer 2,5% em 2017. Pela primeira vez em 17 anos, a economia nacional deverá convergir com a zona euro, antecipa o Boletim Económico de outubro, publicado esta quarta-feira.
Um crescimento sustentado pelas exportações e pelo investimento, que vai permitir colocar Portugal a convergir com os parceiros da moeda única e sem regressar ao défice externo ou ao desequilíbrio orçamental. É assim que o Banco de Portugal vê a economia portuguesa em 2017. As notícias são, por isso, maioritariamente positivas, apesar de algumas revisões em baixa nas componentes do PIB face ao que era projetado em junho pelo banco central.
Vamos por partes. Como é que a economia está a recuperar? É um crescimento sustentável? A análise do Banco de Portugal sugere que sim. Desde logo pelos motores que estão a puxar pela atividade económica. Em vez de a recuperação estar a ser puxada maioritariamente pelo consumo interno — que no passado levou Portugal aos desequilíbrios externos e à necessidade de um resgate internacional — agora são as exportações e o investimento que justificam a aceleração do crescimento.
A atual recuperação económica assenta num maior dinamismo da formação bruta de capital fixo (…) e na reorientação de recursos produtivos para setores mais expostos à concorrência internacional.
“A atual recuperação económica assenta num maior dinamismo da formação bruta de capital fixo (FBCF), cujo crescimento projetado para 2017 é de 8%, e na reorientação de recursos produtivos para setores mais expostos à concorrência internacional, com as exportações de bens e serviços a crescerem aproximadamente 7% em 2017,” lê-se no documento publicado esta manhã.
As exportações deverão, aliás, fechar este ano num nível 44% acima do verificado em 2008. Olhando só para as exportações de turismo, o número é ainda mais impressionante: deverão ficar este ano 77% acima do nível pré-crise. Estes valores mostram bem como a economia nacional aumentou o seu grau de abertura ao exterior, beneficiando da boa conjuntura externa.
É também este facto que permite que o crescimento aconteça sem regressar ao défice da balança corrente e de capital. O Banco de Portugal espera um excedente de 1,8%, ligeiramente acima dos 1,7% registados em 2016.
O que espera o Banco de Portugal?
Fonte: Banco de Portugal
Vai ser sempre a acelerar?
Não. A projeção de crescimento do Banco de Portugal para 2017 é positiva — desde logo, comparando com o histórico de crescimento português, ou com a meta que tinha sido fixada pelo Governo, de 1,8% — mas isso não quer dizer que daqui em diante o ritmo de crescimento da atividade seja sempre a acelerar.
Aliás, o Banco de Portugal já identifica, no início do segundo semestre deste ano, sinais de um abrandamento. Enquanto no primeiro semestre o crescimento registado foi de 2,9%, para a segunda metade do ano esperam-se apenas 2%.
O crescimento das exportações líquidas de conteúdos importados (isto é, descontando o efeito das importações) justifica esta desaceleração. No segundo semestre de 2016 e no primeiro de 2017 registaram-se ganhos de quota de mercado de 4%. Estes valores dificilmente são observáveis para o futuro, avisa o Banco de Portugal.
Por exemplo: as exportações de viagens e turismo cresceram quase 25% no segundo trimestre de 2017, um número com pouca margem para ser repetido nos trimestres seguintes. Ainda assim, as exportações continuam a ter um contributo líquido para o crescimento homólogo do PIB superior ao da procura interna, cujo contributo se mantém relativamente estável em termos intra-anuais.
Mas este abrandamento quer dizer que o crescimento não é sustentável? Mais uma vez, não é isso que o relatório do Banco de Portugal conclui. Um dos motivos que reforça a ideia de sustentabilidade desta retoma é o facto de ser obtida sem uma aceleração do consumo privado. E isto mesmo tendo em conta que o mercado de trabalho está a melhorar, com uma redução significativa da taxa de desemprego — a projeção é que fique em 9% este ano, depois dos 11,1% verificados em 2011.
Depois de um aumento justificado sobretudo pela compra de bens duradouros — decisões que estariam adiadas desde a crise, como é o caso dos automóveis — os níveis de consumo regressaram a valores mais consistentes com a evolução dos rendimentos. Concretizando: em 2016, o consumo de bens duradouros cresceu 10%, com a componente de automóveis a subir quase 20%. Este ano o consumo de bens duradouros deverá crescer 5%, tal como a compra de veículos.
Já o consumo corrente cresce a um ritmo de 1,9%, um valor que fica aquém do aumento do PIB.
Face à projeção de junho, a taxa do crescimento do PIB mantém-se inalterada em 2,5%, mas as previsões de crescimento das suas componentes — consumo privado, consumo público, investimento, exportações e importações — foram todas revistas em baixa. Isto aconteceu sobretudo porque as contas reveladas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes aos primeiros seis meses do ano apresentaram um crescimento mais suportado pela variação do stock de existências do que era esperado pelo banco central.
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