Advogado de Sócrates: “Ministério Público não poderá mais ajustar a narrativa”
João Araújo defendeu esta quarta-feira o ex-primeiro-ministro numa conferência de imprensa após o Ministério Público ter apresentado a acusação da Operação Marquês ao início do dia.
A defesa de José Sócrates criticou esta quarta-feira o Ministério Público pela extensão do despacho de acusação. Os próprios advogados admitem que só conhecem uma pequena parte do documento que põe um ponto final na investigação Operação Marquês. São quase quatro mil páginas. Mas para a defesa há um lado positivo: esta é a forma de a PGR não poder ajustar mais a sua narrativa.
“Para o Ministério Público, tratou-se de reescrever história”, acusou João Araújo, o advogado de Sócrates que mais exposição pública teve, em declarações transmitidas pela RTP3. Os advogados consideram que este é um “bom momento” para o acusado que defendem: “A partir de hoje, fica fixada a versão do Ministério Público, que não poderá mais ajustar a narrativa à medida que vão falhando cada uma das anteriores. Esta é a última.”
A defesa de Sócrates argumenta que os factos que levaram à prisão preventiva do ex-primeiro-ministro não constam do despacho de acusação — garantiu o outro advogado de Sócrates, Pedro Delille. “A prisão serviu apenas para investigar“, concluiu.
Em conferência de imprensa, os advogados disseram não saber quem será o juiz escolhido para julgar o caso, mas não têm dúvidas de que “não poderá ser o juiz Carlos Alexandre” e, por isso, já apresentaram um requerimento nesse sentido. O objetivo é que não seja Carlos Alexandre a decidir se o caso segue para julgamento nos mesmos moldes. Para já ainda não decidiram se vão avançar para a fase de instrução porque ainda não conhecem nem “5% do processo”.
Ainda assim, os advogados prometeram questionar no momento certo a imputação dos 31 crimes, mas asseguram que o ex-primeiro-ministro nunca recebeu dinheiro de contas de amigos.
Já ao início da tarde a defesa disse que a acusação era “um romance, vazio de factos e provas”. Esta é uma “acusação infundada, insensata e insubsistente”, garantem, referindo que a Procuradoria-Geral da República montou um “grande espetáculo”. A defesa voltou a criticar a falta de cumprimento dos prazos e assinalou que com “esta acusação, cessam os poderes de direção do processo pelo Ministério Público, que ficará sujeito ao controlo jurisdicional por juiz competente, “isento e imparcial”.
O Ministério Público acusou esta quarta-feira o ex-primeiro-ministro e o antigo presidente do BES do crime de corrupção no âmbito da Operação Marquês. A notícia foi avançada em comunicado. Entre os acusados por crime de corrupção está também Zeinal Bava, pelos crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documento e dois crimes de fraude fiscal qualificada.
José Sócrates é acusado pela prática de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 crimes de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documento e três de fraude fiscal qualificada. Ricardo Salgado foi também acusado pela prática de crimes de corrupção ativa de titular de cargo político, dois crimes de corrupção ativa, nove de branqueamento de capitais, três de abuso de confiança, três de falsificação de documento e três de fraude fiscal qualificada.
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