“Cerca de 85% dos trabalhos que existirão em 2030 ainda não foram inventados”

A transformação digital traz novos desafios, mas também oportunidades e riscos. Hoje, é mais fácil uma empresa escalar negócio, reconhece o líder da IDC em Portugal, Gabriel Coimbra.

IDC Portugal promove este mês mais uma edição da conferência Directions, dedicada ao setor da tecnologia. O diretor, Gabriel Coimbra, antecipa ao ECO o evento.D.R.

Acelerar a competitividade com recurso à tecnologia. Este é mote da consultora IDC para a promover a conferência Directions 2017, que se realiza na próxima semana no Estoril. Mas já lá vamos. Até porque, para entender o que se está a passar no tecido empresarial por estes dias, é preciso falar de transformação digital.

A digitalização está aí, e está cada vez mais rápida. Os alertas têm sido sucessivos, vindos de todos os quadrantes da economia. Contudo, no setor das Tecnologias da Informação (TI), onde a IDC assenta também muitas das suas operações, o digital já é mais do que uma simples realidade — hoje, o digital é tudo.

Em entrevista ao ECO, por email, Gabriel Coimbra, country manager da IDC em Portugal, antevê que “a despesa e o investimento em TI em Portugal irá crescer mais de 1% em 2017”, com as grandes quantidades de dados, a computação na “nuvem” e a mobilidade a prestarem o grande contributo. Estarão as empresas portuguesas preparadas para o que aí vem? Ao que parece, muito menos do que as norte-americanas. O líder da IDC Portugal explica, com base num relatório anual da consultora, que só 19% das empresas nacionais estão em fase mais avançada de transformação no presente ano. Nos EUA, este valor sobe para 34%.

“Dada a importância da presença digital como acelerador de competitividade e crescimento, é essencial que as empresas venham a apostar nesta área”, alerta Gabriel Coimbra. Deixa sugestões: comece-se por criar “um site moderno e responsive“, isto é, adaptado aos diferentes dispositivos. Depois, ter “um canal de comunicação” na internet para facilitar a vida aos clientes. E envolver o comércio eletrónico da forma possível. “As áreas a ter em atenção são inúmeras, porque este é um processo transversal que tem um impacto em todas as áreas de atuação das organizações”, sublinha.

Outro ponto importante é o impacto que tudo isto vai ter no mercado de trabalho. “Um recente estudo do Institute for the Future indica que, fruto de mudanças no mercado de trabalho tornadas possíveis por tecnologias como robótica, inteligência artificial, machine learning, realidade virtual e realidade aumentada, cerca de 85% dos trabalhos que existirão em 2030 ainda não foram inventados”, atira Gabriel Coimbra. “Como todas as revoluções económicas que tiveram lugar no passado, este também é um processo que terá um profundo impacto no mercado de trabalho”, acrescenta, indicando que as pessoas serão substituídas por robôs em “muitos dos processos”, algo que torna as empresas “mais eficientes”.

As pessoas devem, por isso, preocupar-se mais com as suas próprias capacidades do que com o que os robôs conseguem ou não fazer. “O desafio está, acima de tudo, na capacitação das pessoas por forma a conseguirem fazer uma transição para as novas profissões, procurando assegurar que a sociedade assegura o futuro dos seus cidadãos. A tecnologia tem, por definição, um papel neutro, a forma como a podemos utilizar é que deve assegurar, em última análise, a sua boa aplicação e resultados”, explica o diretor-geral da IDC no país.

Segundo um recente estudo do Institute for the Future, cerca de 85% dos trabalhos que existirão em 2030 ainda não foram inventados.

Gabriel Coimbra

Country manager da IDC Portugal

Neste cenário, surgem novas oportunidades de negócio. “Olhando para o nível dos mercados, é um facto que uma empresa pode, graças à tecnologia, concorrer em regiões onde antes não detinha uma presença física, mas também é verdade que pode concorrer em novos setores de mercado. Este é um novo normal a que as empresas se deverão adaptar”, refere Gabriel Coimbra. Porque não olhar para a tecnologia como uma oportunidade de internacionalização nesta “aldeia” que é tão global? “Esta nova realidade veio simplificar a entrada em mercados para novas empresas, e todas terão de ter essa perceção”, assume.

Há que ter em conta que também existem perigos — e um deles é a segurança dos dados e das infraestruturas. Gabriel Coimbra também não foge a este assunto, avisando que “o investimento em cibersegurança deve ser encarado como o investimento que as equipas de Fórmula 1 fazem nos travões dos carros para poderem acelerar ao máximo”. “Quanto mais rápido as organizações quiserem retirar benefícios da economia digital, mais investimento terão de fazer em cibersegurança, sendo que, neste aspeto, falamos de tecnologia, processos e pessoas”, detalha. “As empresas portuguesas ainda necessitam de amadurecer e ganhar maiores competências em gestão de risco na economia digital para poder tirar dela o seu máximo potencial, assegurando o seu negócio e a integridade da sua operação digital”, alerta.

"Uma empresa pode, graças à tecnologia, concorrer em regiões onde antes não detinha uma presença física, mas também é verdade que pode concorrer em novos setores de mercado.”

Gabriel Coimbra

Country manager da IDC Portugal

Por tudo isto, a consultora traz ao Estoril, no próximo dia 19 de outubro, alguns nomes sonantes do panorama das TI em Portugal e no estrangeiro. A conferência IDC Directions 2017 decorrerá no Centro de Congressos do Estoril e tem como cabeça de cartaz o vice-presidente da consultora, Frank Gens, que é também analista chefe da IDC, especializado em tendências e veterano no mundo das TI. No entanto, não é o único: ao longo de um dia inteiro, passarão pelo palco responsáveis de empresas como a Microsoft, a Nos, a Altice, a HP, a EDP e a Sonae, entre muitos outros. A agenda completa está aqui.

“Se olharmos para o mercado alargado de TI — as tecnologias associadas a estes novos ‘aceleradores de inovação’ –, prevemos que, até 2020, o mercado cresça a um ritmo anual médio de 4,8% ao ano e que, em 2020, a terceira plataforma e os aceleradores de inovação representem 52% da despesa com tecnologia em Portugal”, adianta, em jeito de conclusão, o country manager da IDC Portugal. “Todos os participantes desta edição do Directions podem contar com um conjunto de oradores de excelência que irão trazer perspetivas e abordagens abrangentes e inovadoras sobre o contributo das tecnologias para acelerar a competitividade das organizações portuguesas”, termina.

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