Uma economia mais digital pode valer 1,8% do PIB

Uma maior penetração de tecnologias digitais na economia pode gerar 2,3 mil milhões de euros de riqueza adicional até 2020. No entanto, para acontecer, há muito trabalho pela frente.

Quão enraizada está a tecnologia na economia portuguesa? A questão não é de resposta simples, mas o estudo do Índice de Densidade Digital de Portugal, calculado pela consultora Accenture Strategy, dá umas pistas: “O digital representa 20% do PIB [Produto Interno Bruto]” num país onde “3% do total de empregos são especializados em tecnologia”. Porém, em 24 economias de todo o mundo analisadas pela empresa, Portugal só aparece na segunda metade da tabela e abaixo da média europeia: está em 17º lugar, com cerca de 40 pontos.

Porque é isto relevante? A consultora estima que mais dez pontos no índice poderão contribuir com um aumento adicional de 1,8% no PIB em 2020, ou 2,3 mil milhões de “riqueza adicional”. Será o país capaz disso? A Accenture acredita que sim: “Portugal tem reunidas as condições para a transformação”, ao nível das infraestruturas de telecomunicações, da educação, do quadro regulamentar e das empresas. Faltam, ainda assim, dois aspetos: “É necessária uma maior concretização no modo de operar das empresas e uma maior predisposição da população para a realização de transações online”, lê-se no estudo publicado em setembro.

Ao ECO e por email, Luís Pedro Duarte, responsável pelo estudo, explica que o Índice de Densidade Digital “identifica a real penetração das tecnologias digitais numa determinada economia”. O também managing director da Accenture Strategy garante que os vários indicadores apontam para uma “evolução positiva da economia portuguesa” na preparação para o digital, e que o país regista mesmo “valores de referência” em muitos aspetos. Contudo, destaca pela negativa “a menor incorporação de tecnologias digitais nos processos empresariais e a menor predisposição da população para a realização de transações online”.

Temos de formar mais recursos na área das Tecnologias da Informação e adaptar parte da população ativa a esta realidade. O investimento do país deve começar desde cedo na formação.

Luís Pedro Duarte

Managing director da Accenture Strategy

Vendas fracas no online

É um dos pontos-chave. O estudo confirmou haver uma baixa penetração do online no setor do retalho no país, comparativamente com o resto da Europa e, principalmente, com o Reino Unido. “Apenas 2% do total de vendas em retalho foi feito online”, aponta Luís Pedro Duarte. É por isso um problema, mas um problema com solução à vista. Segundo o responsável, os portugueses parecem cada vez mais predispostos a comprar online, o que deverá animar o indicador. Já do lado da oferta, os retalhistas têm vindo a investir em plataformas digitais, “indo assim ao encontro da necessidade dos consumidores e permitindo o crescimento do online no setor”.

É um exemplo que deve ser seguido pelas demais empresas. “É preciso que o mindset se estenda de forma transversal a todo o tecido empresarial português se queremos ter um país mais competitivo”, diz o diretor. “Não basta as empresas estarem cientes dos impactos das novas tecnologias nas suas indústrias. É fundamental repensar os modelos de negócio. Novas fontes e modelos de receita, novos produtos e serviços novos mercados, novas parcerias e aquisições. E refletir nos respetivos modelos operativos”, alerta Luís Pedro Duarte.

Com uma mais penetração de tecnologias digitais na economia, a Accenture prevê que possam ser criados 2,3 mil milhões de euros de riqueza adicional em Portugal até 2020.Pexels

Acima do Japão, abaixo de Espanha

O Índice de Densidade Digital coloca Portugal acima de países como Japão, França, Brasil e Itália, mas abaixo da Bélgica, Espanha, Alemanha e Reino Unido. No pódio surge a Holanda, seguida dos Estados Unidos e da Áustria. Portugal surge beneficiado por uma boa cobertura de redes de nova geração e infraestruturas de telecomunicações, acima da média europeia, mas num território de menores dimensões. A prejudicar está a falta de competências digitais da população, um detalhe a que o estudo não ficou alheio.

“É sem dúvida um desafio que o país tem pela frente. Segundo os dados da União Europeia, 48% dos trabalhadores em Portugal têm baixa ou nenhuma capacidade para interagir com o digital e a percentagem de colaboradores especializados em áreas de TIC [Tecnologias da Informação e Comunicação] equivale a apenas 1,7% da população ativa, a contrastar com os 2,8% da média europeia”, refere o responsável da Accenture Strategy. “Este indicador é naturalmente refletido na pontuação geral do índice de densidade digital para Portugal, de forma penalizadora”, sublinha.

A falta de competências digitais tem merecido alertas da Comissão Europeia, que estima uma grande carência de profissionais na área da tecnologia até ao final da década. O assunto foi mesmo abordado por Marcelo Rebelo de Sousa no final de setembro, por ocasião do congresso anual da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC). Na altura, o Presidente da República referiu que “muitos [portugueses] usam as ferramentas básicas, mas não usam o digital como forma básica de comunicação”.

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