Bem-vindos ao “comboio mágico da inovação”. Destino? Idanha-a-Nova
Setenta empreendedores juntaram-se num comboio. Destino? Idanha-a-Nova e o segundo bootcamp da maior iniciativa europeia no ramo da sustentabilidade. Neste comboio, o futuro parece mais verde.
De Lisboa a Idanha-a-Nova são mais de 260 quilómetros: de campo, céu azul e, este fim de semana, oportunidades de negócio. “Ainda nem olhei pela janela. Estou a tentar conhecer toda a gente e ver o que precisam”, confessa Andrei Toma, empreendedor romeno em Portugal pela primeira vez para se juntar ao bootcamp do Climate KIC (a maior iniciativa promovida pela União Europeia no campo da inovação climática) e ao i-Danha Food Lab.
De camisa branca e óculos de massa quadrados, o fundador da Homepod (startup que oferece um software de avaliação da sustentabilidade de materiais de construção) salta de banco em banco, nas três carruagens de comboio que transportam os mais de 70 empreendedores até a essa história vila portuguesa para dois dias de debates e workshops sobre energias renováveis, inovação agrícola e sustentabilidade em geral. “Eu gosto de eventos como este porque aqui consigo encontrar empresas com produtos ou interesses semelhantes aos meus. Não preciso de explicar a razão por detrás do meu trabalho”, sublinha Toma.
A Homepod — startup cujo lançamento no mercado lusitano está marcado para os próximos meses — tem como objetivo criar “casas sustentáveis e sem custos energéticos”, explica o romeno ao mentor da aceleradora Building Global Innovators (a BGI é a parceira portuguesa da iniciativa europeia referida), Robert A. Shateen. O americano responde-lhe com questões entusiásticas e promete-lhe que, nos próximos dias, farão trabalho muito interessante. “Esta é uma oportunidade maravilhosa. O lugar é lindo, até esta viagem de comboio é linda”, sorri Shateen, enrugando os seus olhos azuis.
[O segredo para um empreendimento bem sucedido?] Encontrar o fator cool da ideia de negócio e o mercado certo, isto é, aquele que se consegue atacar.
Ao seu lado, Rick Pizzoli — também americano, igualmente mentor da aceleradora portuguesa e fundador da Sales Force Europe — olha com atenção para as conversas que decorrem nos lugares à sua volta. O segredo para um empreendimento bem-sucedido? “Encontrar o fator cool da ideia de negócio e o mercado certo, isto é, aquele que se consegue atacar”, aconselha Pizzoli aos muitos empreendedores que, à vez, vêm ocupar o lugar vago à sua frente. “Há muito que se fica a dever ao acaso, no que diz respeito à vida de uma startup”, acrescenta Robert.
Quilómetro a quilómetro, conversa a conversa, contacto a contacto, o comboio vai comendo a distância. Mais atrás, de camisola acastanhada e disposição sorridente, Ana Prata, da Agrodrone, conversa animadamente com Mário Macedo, mentor da BGI especializado em energia. “Isto é mais do que mentoria. Já estamos num outro nível de conexão intelectual”, realça o homem de casaco cor de caramelo. “Temos de ter atenção aos países de leste, são os nossos principais concorrentes na área da sustentabilidade”, avisa. Para o mentor da aceleradora este projeto “é um ponto de partida fundamental e merece uma menção honrosa num país cinzento, devastado pelas chamas, que quer diminuir a sua pegada ecológica”. E o Web Summit? “A única coisa positiva foi ter colocado Portugal no mapa. De resto não sai nada de lá”.
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“No Web Summit, somos apenas números, não somos empresas, não somos nada”, concorda a empreendedora, cuja startup tem como objetivo rentabilizar a utilização de solos agrícolas, através de um mapeamento por drones dos terrenos e posterior tratamento para que se atinja um terreno equilibrado. “Ajudamos na gestão da água e diminuição de pesticidas. Eventos como este aproximam empresas que trabalham com os mesmos clientes e, consequentemente, fazem-nos ir ainda mais longe”, enfatiza. A startup de Ana tem seis meses e está sedeada no destino desta jornada. “Até esta viagem de comboio mostra que Idanha está muito à frente”, assinala o mentor, referindo-se ao ambiente fervilhante que enche as carruagens deste comboio especial.
Toda a minha vida sonhei com trabalhar nas energias renováveis e agora faço-o. Sinto que estou em Hollywood e que sou o Tom Cruise.
“Este é um comboio mágico. Estão aqui todos os ingredientes para que isto corra bem”, concorda, por fim, a secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Maria Rollo pega no microfone e faz questão de deixar uma nota de incentivo àqueles que estão a caminho de Idanha-a-Nova. “É um comboio e um projeto de afetos. Esta é uma combinação a que não falta nada. É um comboio de missão pública e entrega. É um comboio mágico da inovação”. Quanto aos papel da educação superior portuguesa, nesta vertente da inovação, Rollo acrescenta: “Os nossos politécnicos são fantásticos”.
Ao lado da secretária de Estado está Armindo Jacinto, presidente da Câmara de Idanha-a-Nova, que sorri, orgulhoso. “Para mim o país é o interior e o interior é o país”, elogia Rollo. “Esta iniciativa mostra a sensibilidade do Governo para estas questões”, responde Jacinto. “Era muito mais fácil desenvolver isto em Lisboa”, lembra… “Mas não seria tão bom”, riposta a governante, arrancando risos daqueles que se juntaram no centro da carruagem para ouvir os representantes.
Lá fora, a luz já se foi, mas dentro do “comboio mágico” a energia não tem fim à vista. Ao redor de Robert Shateen estão agora dois empreendedores loiros. “Há quem diga que a geração dos millennials tem de encontrar um propósito de vida para ser feliz. Toda a minha vida sonhei com trabalhar nas energias renováveis e agora faço-o. Sinto que estou em Hollywood e que sou o Tom Cruise”, brinca Martin Razuks-Ebels, da Earth Pumps (startup que oferece oito vezes mais eficiência na produção de aquecimento), transpirando o exato sentimento que enche as quatro paredes de metal desta viagem: entusiasmo pelo futuro e pelos dois dias de trabalho que se avizinham.
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