Banca vai ter de mudar. A culpa é da tecnologia
Francisco Barbeira, responsável pela transformação digital do BPI, afirma que a banca e seguros enfrentam vários desafios, incluindo a regulação, a concorrência das fintech e a tecnologia.
“Não sabemos onde é que a banca e os seguros vão estar daqui a dez anos, mas é seguro dizer que vão ser muito diferentes.” A afirmação é de Francisco Barbeira, do BPI, numa conferência organizada pela EY no âmbito do Beyond – Portugal Digital Revolutions. O responsável pela transformação digital do banco liderado por Pablo Forero nota que estes dois setores enfrentam um grande desafio, tanto a nível da pressão imposta pela regulação, maior exigência dos clientes, concorrência das fintech e ainda a tecnologia que está a “mudar a forma como se faz banca”.
A banca e os seguros estão em mudança. Francisco Barbeira nota que “estamos no meio de um grande desafio e isto faz-se por múltiplas formas”, relembrando o que foi dito por Carlos Moedas. O comissário europeu responsável pelas pastas de Investigação, Ciência e Inovação afirmou que a banca que conhecemos hoje acaba em 2018 com a nova diretiva europeia que entra em vigor no início do próximo ano.
"Não sabemos onde é que a banca e os seguros vão estar daqui a dez anos, mas é seguro dizer que vão ser muito diferentes.”
Uma das vertentes que está a sofrer alterações é a relação com os clientes, que são cada vez mais exigentes. Para Luís Magro, diretor de marketing do Activobank, as novas gerações não gostam de “bancos muito tradicionais e pouco flexíveis”, o que acaba por diminuir a atratividade das instituições financeiras junto dos clientes.
Já Luís Amado, do Banco CTT, considera que é relevante que a relação com os clientes se baseie na proximidade e interação simples. E, apesar de a banca estar num período conturbado quando este banco surgiu no mercado, as “pessoas procuravam novas soluções”, o que acabou por ser uma oportunidade.
“Aquilo que o cliente espera dos serviços financeiros é agora complemente diferente. E aí a banca perdeu o comboio”, afirma Pedro Leitão, do Banco Atlântico Europa. “Quem ganha essa guerra são os grandes players digitais que nada têm a ver com banca.” Nesse sentido, “quem criou um novo paradigma com os clientes foi a Amazon ou a Google”.
Tecnologia muda tudo
Esta revolução nos dois setores baseia-se sobretudo em quatro fatores. Em primeiro lugar, na regulação. “Abre por um lado a indústria a outros players“, como é o caso das fintech, explica o responsável pela transformação digital no BPI. Mas, por outro lado, “coloca uma pressão muito grande sobre os bancos”. E há uma consequência: o número de bancos será menor do que o atual daqui a cinco a dez anos, salienta Francisco Barbeira.
Os clientes também estão cada vez mais exigentes. “Olham para nós como olham para qualquer outra indústria com que relacionam” e esperam, por isso, transparência e comodidade, explica. Há ainda uma maior concorrência no mercado com a entrada das fintech. “Entram no mercado com outra disponibilidade e com outra lógica de business plan. A concorrência mudou muito”, refere Francisco Barbeira, do BPI.
“As grandes empresas vão ter de viver com os pequenos players a entrar e a invadirem o seu negócio. As fintech estão a pisar os calcanhares aos bancos e isso é positivo”, afirmou Carlos Moedas durante a conferência “Pay Challenge”, em Lisboa, dedicada ao futuro dos serviços dos pagamentos.
Mas as grandes mudanças estão a ser impostas pelo impacto da tecnologia na indústria. “Agora falamos de criptomoedas, blockchain e inteligência artificial”, o que “vai marcar de forma decisiva a forma de fazer banca”, remata Francisco Barbeira, na conferência organizada pela EY no âmbito do Beyond – Portugal Digital Revolutions.
Tendências para o setor financeiro
Para a EY, há várias tendências que se destacam na banca, um setor “que tem procurado acompanhar a evolução tecnológica mas que enfrenta agora os desafios trazidos pela era digital”. Conheça algumas destas tendências:
- Comoditização dos produtos financeiros: É cada vez maior a dificuldade para os produtos financeiros se diferenciarem do ponto de vista da utilidade aos olhos do consumidor. Num mercado com custos de mudança reduzidos, os consumidores fazem as suas escolhas em função da conveniência, produto a produto, e em horizontes temporais de curto prazo;
- Desintermediação do mercado financeiro: Diariamente, assistimos à proliferação de novas plataformas digitais que substituem, em parte ou na íntegra, o papel realizado pelas instituições financeiras, contribuindo para a redefinição da cadeia de valor do sistema financeiro. Estas plataformas interagem diretamente com os clientes finais, facilitam transações e relegam para um plano secundário a intervenção dos tradicionais players de mercado;
- Fintech como parceiros de negócio: Se no passado estas entidades eram consideradas como uma ameaça, cada vez mais começam a ser perspetivadas pelos bancos como parceiros de negócio, que viabilizam a comercialização de produtos e serviços inovadores, experiências de utilização personalizadas e a conversão de custos fixos em custos variáveis, escaláveis com o volume de atividade;
- Ciberameaças e cibersegurança: Com a crescente exposição a canais de distribuição não presenciais, web e mobile, assim como com o aumento dos níveis de automação dos processos de decisão, as instituições financeiras encontram-se extremamente vulneráveis a ataques cibernéticos. Os bancos devem, por isso, reforçar o investimento em tecnologias de cibersegurança.
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