Rocha de Matos: Portugal tem de “dinamizar as atividades e clusters de suporte à digitalização da economia”

Ganhar quota de mercado "é um desafio constante" que as empresas portuguesas têm de "saber jogar e ganhar", defende Rocha de Matos. Para o presidente da Fundação AIP a aposta deve estar na inovação.

“Desenvolver uma estratégia de diversificação dos mercados” e “reforçar a cadeia de valor da economia e das empresas portuguesas” são algumas das estratégias que Jorge Rocha de Matos, o presidente da Fundação AIP defende para que as empresas portuguesas consigam exportar mais e ganhem quotas de mercado.

Numa entrevista por escrito, dias antes do arranque do Portugal Exportador, uma iniciativa promovida pela própria Fundação AIP, mas também pela Aicep e pelo Novo Banco, o responsável sublinha que perante a “digitalização generalizada das economias” é fundamental “dinamizar as atividades e clusters de suporte à digitalização da economia”.

Mas isso não quer dizer abandonar os setores mais tradicionais. Esta aposta deve ser acompanhada da conquista de novos mercados. “Em ambas as situações as exportações devem crescer. O peso relativo é que se poderá alterar. Portugal pode e deve continuar a crescer em valor absoluto para os mercados europeus, mas importa prosseguir uma estratégia de diversificação para mercados extraeuropeus com maior potencial de crescimento atualmente, alterando progressivamente o peso relativo”, defende.

Portugal poderá continuar a ganhar quota de mercado mundial em termos de exportações?

Sim. Essa é a nossa aposta, sem qualquer hesitação. É um desafio constante que temos de saber jogar e ganhar. Para tanto é necessário termos – e temos – uma estratégia de internacionalização inteligente e mobilizadora das diferentes partes interessadas. A Fundação AIP tem seguido com o Portugal Exportador, anualmente, em linha com a atualidade mundial e capacidade mobilizadora nacional. É por isso que o Portugal Exportador está também a afirmar-se como um centro de reflexão e debate abrangente, mobilizando em primeiro lugar as empresas, mas também os centros de saber, nomeadamente as universidades e os decisores político-institucionais.

O que é preciso fazer para potenciar esse aumento?

Basicamente, implica uma atuação em torno de dois eixos: desenvolver uma estratégia de diversificação dos mercados de destino das nossas exportações tanto a nível intraeuropeu como extraeuropeu; e, reforçar a cadeia de valor da economia e das empresas portuguesas, o que passa pelo investimento em inovação e por uma política de clusters, de modo a gerar um portfólio de produtos, sistemas integrados e serviços com maior valor acrescentado, sobretudo em setores em que a dinâmica da procura é mais intensa.

“As empresas portuguesas vão-se preparando para uma situação de menor intensidade nos apoios” comunitários, garante Rocha de Matos.

Quais os setores que apresentam maior potencial e quais deveriam ser deixados de lado, porque não têm potencial?

Mais do que setores deveremos falar em atividades, empresas e clusters. E, de um modo geral, o que se tem que fazer no atual quadro em que se assiste à digitalização generalizada das economias, vulgo Indústria 4.0, onde a tecnologia tem um papel instrumental da maior importância, é investir e/ou reforçar propostas de valor e modelos de negócio alinhados com a dinâmica da procura internacional. Para ganhar esta “batalha” teremos que investir e dinamizar as atividades e clusters de suporte à digitalização da economia, nomeadamente Tecnologias de Informação & Comunicação & Internet; Cluster associado às Tecnologias da Energia; Cluster associado às Tecnologias de Produção; Cluster associado às tecnologias da mobilidade; Aeronáutica & Defesa, entre outros. O que é mais relevante, atualmente, é investir no conhecimento intensivo de modo a valorizar a carteira de produtos e serviços com que as empresas se expõem perante a globalização.

Para ganhar esta “batalha” teremos que investir e dinamizar as atividades e clusters de suporte à digitalização da economia.

Jorge Rocha de Matos

Presidente da Fundação AIP

De que formas as startups podem ajudar a potenciar as exportações? Deveria haver uma maior concertação entre organismos do Estado dedicados a estas empresas?

As startups e o empreendedorismo em geral têm hoje uma importância crescente nas economias, sendo indispensáveis ao ecossistema da inovação. As startups estão cada vez mais presentes na cadeia da inovação, alimentando a este propósito, as PME, grandes empresas e mesmo multinacionais.

Quais os mercados que apresentam as melhores perspetivas para as empresas nacionais?

Existe um eixo que podemos designar de euro-afro-ibero-latinamérica que, do ponto de vista das exportações, se afigura atualmente dos mais dinâmicos. Mas temos de privilegiar igualmente o mercado exigente dos EUA e de um modo geral os mercados do NAFTA. A Ásia tem, de um modo geral, um potencial muito interessante para as nossas exportações.

Existe um eixo que podemos designar de euro-afro-ibero-latinamérica que, do ponto de vista das exportações, se afigura atualmente dos mais dinâmicos.

Jorge Rocha de Matos

Presidente da Fundação AIP

Crescer em mercados tradicionais ou apostar em novas praças? Qual a melhor opção?

Não se tratam de opções mutuamente exclusivas. Em ambas as situações as exportações devem crescer. O peso relativo é que se poderá alterar. Portugal pode e deve continuar a crescer em valor absoluto para os mercados europeus, mas importa prosseguir uma estratégia de diversificação para mercados extraeuropeus com maior potencial de crescimento atualmente, alterando progressivamente o peso relativo.

A potencial diminuição dos apoios comunitários vai ser um golpe para as empresas portuguesas?

Os fundo comunitários são importantes e potenciam a política de internacionalização. Mas, também é verdade que já existem regiões do país que entraram no faising out, em que os apoios já estão reduzidos. As empresas portuguesas vão-se preparando para uma situação de menor intensidade nos apoios. Isso torna as coisas mais difíceis mas não coloca em risco a estratégia de internacionalização, tanto mais que em áreas importantes como as da formação, ciência e tecnologia, tudo indica que continuarão a existir apoios importantes.

E para as associações que apoiam as empresas nesse caminho?

As associações continuarão a desempenhar o seu papel e adaptar-se-ão às situações que se vierem a configurar.

As empresas estão preparadas para continuar a exportar sem esse apoio?

Sim. Poderão existir algumas dificuldades, mas de um modo geral vão superar esses obstáculos, tanto mais que não se prevê um corte abrupto.

Além dos fundos comunitários e linhas de tesouraria de que outros apoios precisam as empresas?

O que faz mais sentido hoje é que as diferentes partes interessadas consigam dinamizar espaços de cooperação estratégica, vinculando sobretudo as empresas, os centros de saber (universidades, politécnicos, formação avançada, C&T&I, …) e o Governo e as suas instituições autónomas que por via das políticas públicas deverão ter um importante papel catalisador. Se esta hélice tripla funcionar daremos um grande salto em frente nas estratégias de internacionalização.

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