O CEO da Science4you transformou uma ideia numa empresa que fatura mais de 20 milhões ao ano. A chave? Portugal sempre foi a base, mas a exportação tem de estar no pensamento de todos os empresários.
A Science4you nasceu de uma ideia numa cadeira de final de curso. Foi em 2008 que Miguel Pina Martins colocou essa mesma ideia em prática, criando uma empresa que fatura, hoje, mais de 20 milhões de euros a vender brinquedos científicos, em Portugal mas cada vez mais lá fora — os EUA podem duplicar essa receita nos próximos anos. 60% de todos os brinquedos são para exportação.
Portugal é a base, mas o mercado da empresa fundada por Miguel Pina Martins, tal como o das restantes empresas nacionais tem de ser o mundo todo. E, diz o CEO, essa cultura já se vê nas novas empresas que são criadas, o que está a puxar pelas exportações do país, fator essencial para o crescimento da economia.
"Ainda falta muita coisa para dizer que somos um país exportador.”
“O nosso nível [do país] de exportação tem vindo a crescer. Mas ainda falta muita coisa para dizer que somos um país exportador“, refere Miguel Pina Martins em entrevista na TVI 24, no programa ECO 24. “Estamos cada vez mais preparados, mas há um longo caminho a percorrer”, sublinha.
Depois de Portugal, Espanha foi a porta para a Europa
Desde o início que o pensamento sempre foi exportar. O fundador da Science4you explica que a aposta no exterior começou logo no segundo ano de vida da empresa, com a entrada na vizinha Espanha. Para esta empresa de brinquedos científicos, “a Europa é fundamental”.
Mas não se limitou ao Velho Continente. Para além de ter expandido para o país vizinho, a empresa partiu, depois, para o Reino Unido e mais recentemente conseguiu entrar nos EUA. “Hoje em dia, quando as empresas nascem devem ter o pensamento de exportar. O nosso mercado é reduzido. As ideias de negócio estão tão exploradas que é difícil encontrar uma ideia que é só boa Portugal”, refere Miguel Pina Martins. “É preciso ter Portugal para ganhar músculo, como primeira plataforma. Mas temos de pensar muito rapidamente” em começar a procurar outros mercados no exterior.
EUA podem duplicar a faturação
A aposta nos EUA tem produzido frutos para esta empresa que começou com uma faturação de 50 mil euros e, neste momento, já ultrapassa os 20 milhões de euros. Lá fora, o facto de os brinquedos terem o certificado da Faculdade de Ciências e as parcerias com museus perdem a relevância. Do outro lado do Atlântico, a chave do sucesso é outra.
“Estamos a jogar apenas com o produto e a questão educativa. A chave do sucesso é ter brinquedos que permitam aprender enquanto brincam e ter os pais felizes“, refere Miguel Pina Martins. “No caso dos EUA, a empresa já tem bastante notoriedade, o que nos permite voos um pouco mais arriscados sem as vantagens competitivas que temos na Europa”, acrescenta o CEO.
“Genericamente, o mercado norte-americano vale tanto como o europeu todo. Neste sentido, penso que conseguimos replicar os 20 milhões de euros nos EUA no espaço de dois a três anos”, salientou o responsável da empresa de brinquedos educativos. Ou seja, os EUA podem permitir à empresa duplicar o valor da faturação.
Mais importante do que o preço, é preciso fazer melhor. É ter certeza que o que estamos a fazer tem uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes.
Preço não é determinante. É preciso fazer melhor
Nos mercados externos pesa mais a qualidade e não tanto a diferença de preço face aos concorrentes, nomeadamente os que produzem na China. “Qualquer produto tem de ter vantagem competitiva. [É preciso] criar pequenas vantagens competitivas, mas que no final do dia são suficientes para sermos melhores que os nossos concorrentes”, defende o CEO da Science4you.
“Mais importante do que o preço, é preciso fazer melhor. É ter certeza que o que estamos a fazer tem uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes”, salienta Miguel Pina Martins, notando também a produção na Europa como um fator diferenciador que pode dar uma vantagem à sua empresa.
A China produz 90% dos brinquedos no mundo, mas a produção demora. E as modas passam. A Science4you consegue responder ao mercado num prazo muito mais curto.
Crescer com a banca, sim. Mas não chega
Miguel Pina Martins afirma que a banca tem tido um papel importante no financiamento às empresas, apoiando-as no processo de internacionalização. Mas é preciso diferenciar as fontes de financiamento. “Tem de ser um misto. A banca é fundamental, mas ter capital também é muito importante. Se conseguimos ter um equilíbrio é o ideal”, refere no ECO24.
Nos últimos anos, as empresas conseguiram contar com os bancos. “O problema agora vem do lado do capital, o que mais cedo ou mais tarde vai acabar por se sentir. Mas isto agora depende do Governo”, diz Miguel Pina Martins, que acredita que o Executivo ainda pode tomar mais medidas para além dos fundos já criados para capitalizar as empresas.
“OE não nos vai levar a despedir”
O fundador e CEO da Science4you acredita que a proposta de Orçamento do Estado para 2018 (OE) “foi pensada para a procura interna”. Não é, por isso, o OE “melhor” ou “mais centrado” nas empresas — temos a subida do IRC. Mas também “não é este documento que vai levar a contratar ou despedir”, refere. A empresa tem atualmente 650 trabalhadores na fábrica de Loures, mas em janeiro ficam 300 pessoas. “Vamos contratar mais pessoas”, nota.
“Não considero que seja o OE mais amigo das empresas, mas não acho que seja o mais negativo. Estamos tranquilos”, salienta, reconhecendo que o “país não está numa altura em que pode dizer que vai alargar o cinto de tal forma que vai baixar os custos laborais”. Para Miguel Pina Martins, “desde que não agravem [estes custos] não há notícia”.
Tecnologia? Há sempre crianças offline
Miguel Pina Martins fundou uma empresa de brinquedos educativos numa altura em que muitas crianças vivem agarradas aos gadgets, mas nem por isso teme ser ultrapassado pela tecnologia. Aliás, para o CEO da empresa portuguesa, a tecnologia tem “sido sempre muito nossa amiga”. Isto porque os pais procuram cada vez mais entreter as crianças com brinquedos e não com consolas, tablets ou smartphones.
“Quanto mais digital houver, mais os pais vão tentar manter as crianças offline e procurar que os seus filhos tenham outras aptidões, nomeadamente a nível da criatividade, o que é apenas conseguido com um brinquedo físico”, remata.
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Miguel Pina Martins: “Para vencer lá fora, mais importante do que o preço, é preciso fazer melhor”
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