Partidos no Porto unem-se para exigir Infarmed na cidade
Da reunião camarária de hoje deve sair um documento assinado pelos principais partidos a exigir uma clarificação da situação do Infarmed. O ECO ouviu Manuel Pizarro e Álvaro Almeida.
“A sede do Infarmed vai ser mudada de Lisboa para o Porto“. O anúncio feito por Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde que tem a tutela daquela instituição, um dia depois de se saber que o Porto tinha perdido a corrida à Agência Europeia do Medicamento, deixou Rui Moreira satisfeito, mas caiu que nem uma bomba entre os trabalhadores do Infarmed. A instigar ainda mais a polémica, a presidente do Infarmed anunciou esta segunda-feira, em entrevista ao Público, que ficou “incrédula” quando o ministro lhe comunicou a ida daquele organismo para o Porto, mas que este lhe terá dito que se tratava apenas de uma “intenção”.
No Porto, os maiores partidos políticos unem-se a Rui Moreira e exigem uma clarificação da situação. O tema vai mesmo marcar a reunião camarária que tem lugar esta terça-feira. O ECO sabe que é intenção da autarquia fazer um documento conjunto entre os principais partidos políticos a endurecer a posição e, deixando claro que o Porto não vai aceitar “meias decisões”.
O documento, a avançar, deverá ser apresentado no final da reunião camarária marcada para as 10h00. Fontes próximas a todo o processo garantiram ao ECO que “o que está aqui em causa é a defesa intransigente dos interesses da cidade do Porto”.
O Porto, acrescentam as mesmas fontes, não aceitará que este processo não avance, e sobretudo que não venha a ser concretizado nos moldes em que foi anunciado. Ou seja, tal como anunciou Adalberto Campos Fernandes, que dentro de dois a três anos cerca de 70% dos recursos do Infarmed estarão instalados no Porto.
Estamos todos a tentar encontrar uma posição consensual com a Câmara sobre esta matéria.
Manuel Pizarro, ex-candidato à Câmara do Porto pelo PS, contactado pelo ECO, limitou-se a dizer que não quer pronunciar-se, mas apenas por que “estamos todos a tentar encontrar uma posição consensual com a Câmara sobre esta matéria“.
Já Álvaro Almeida, também ele ex-candidato à Câmara do Porto, mas pelo PSD, reiterou ao ECO que a cidade tem condições para receber o Infarmed. “Já disse e repito: o Porto tinha condições para receber a EMA pelo que também tem condições para receber o Infarmed”, salientou.
O vereador do PSD na Câmara do Porto destacou que, “num país como Portugal, em que está tudo centralizado em Lisboa, se houver algum movimento de descentralização tem que se bem visto. Agora, é preciso é que essa descentralização seja uma realidade”. Para Álvaro Almeida, “uma eventual sede fictícia no Porto não interessa a ninguém”.
Sobre a possibilidade de vir a assinar, um documento conjunto com a autarquia liderada por Rui Moreira, Álvaro Almeida admite fazê-lo. “Por princípio sou a favor da descentralização e da deslocalização da sede do Infarmed para o Porto. Quanto ao documento, tudo depende do que vier a ser escrito, mas à partida serei a favor”.
O ECO tentou contactar a vereadora do PCP, Ilda Figueiredo, mas até ao momento tal não foi possível.
Funcionários chumbam ida para o Porto
Agendada para janeiro de 2019, a transferência da sede do Infarmed de Lisboa para o Porto foi rejeitada pelos cerca de 350 trabalhadores daquele organismo. E, nem o facto do ministro ter afirmado que há pela frente “um ano de trabalho” para resolver a situação dos trabalhadores, frisando que um polo da organização permanecerá na capital, os terá tranquilizado. Em plenário realizado um dia após ser conhecida a decisão do Governo, 97% dos trabalhadores mostraram-se contra a mudança e indisponíveis para ir trabalhar para o Porto.
De resto, a comissão de trabalhadores do Infarmed anunciou na segunda-feira que iria solicitar uma reunião com o ministro da Saúde para pedirem a reversão da decisão. A Comissão de Trabalhadores refere que estão a ser ultrapassadas as duas linhas vermelhas traçadas pela própria tutela: a missão do Infarmed e a vontade manifestada pelos trabalhadores.
Decisão foi mal comunicada
A decisão do Governo em transferir a sede do Infarmed de Lisboa para o Porto foi mal comunicada. Este parece até agora o único ponto consensual entre as partes. Os trabalhadores queixam-se que souberam da mudança pelos jornais, a própria presidente diz que ficou incrédula porque nada lhe tinha sido anteriormente comunicado, e no país ficou a ideia que a ida do Infarmed para o Porto era uma compensação pela perda da EMA. Uma ideia que o próprio Rui Moreira, no dia do anúncio, tentou desconstruir.
A este propósito, Adalberto Campos Fernandes preferiu afirmar que a resolução “significou o reconhecimento do enorme trabalho que a região norte do país e o Porto tiveram com a candidatura à EMA, uma candidatura que prestigiou o país e demonstrou vitalidade”.
Os trabalhadores queixam-se ainda de que esta é uma decisão meramente política e do facto de não haver nenhum parecer técnico que sustente a decisão. Este parecer entretanto já foi prometido por Adalberto Campos.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Partidos no Porto unem-se para exigir Infarmed na cidade
{{ noCommentsLabel }}