Os protagonistas da sucessão “mais bem planeada” de Portugal

  • Juliana Nogueira Santos
  • 29 Novembro 2017

Paulo e Cláudia Azevedo já ocupavam posições de liderança desde 2007. Com a morte do líder da Sonae passam a ser as caras do império e os herdeiros da sucessão "mais bem planeada" do país.

Belmiro de Azevedo morreu esta quarta-feira, no Porto. O líder de um dos maiores impérios portugueses exerceu funções executivas durante 48 anos na empresa que “destruiu para volta a construir” — a Sonae. Ainda assim, a ideia de sucessão manteve-se sempre nos planos do empresário. Em 2013 afirmou ao Público que “não quis fazer 70 anos como presidente da comissão executiva da Sonae”. E foi assim que aconteceu.

Em 2007 haveria de começar a preparar a sua saída das posições de liderança. Primeiro, apontou o seu filho, Paulo Azevedo, para a presidência do grupo Sonae, depois, já em 2013, abandonou a Sonae Capital, deixando a liderança nas mãos da sua filha, Cláudia Azevedo. Em 2015, arrumava a pasta e abandonava todos os cargos de administração, mas prometia que não ia ficar quieto.

“Enquanto for vivo, estarei atento. Do outro lado, já não sei… Mas acho, e esta é a minha opinião, que a sucessão da Sonae foi a mais bem planeada que houve em Portugal”, afirmou, com certeza, Belmiro de Azevedo, na mesma entrevista “E sou um sortudo porque os meus três filhos são bem-educados, são trabalhadores e estão todos no ativo e expostos à crítica pública.”

São estes três, em maior em menor grau, que serão as caras do império e os herdeiros desta que é uma das histórias mais emblemáticas da sucessão empresarial portuguesa.

Paulo Azevedo gere o grupo Sonae…

Paulo Azevedo, CEO da Sonae durante a apresentação dos resultados de 2014 da empresa.JOSÉ COELHO/LUSA

Licenciado em Engenharia Química, tal como o pai, o filho do meio de Belmiro de Azevedo entrou para a Sonae em 1988 como analista e gestor do projeto Novos Investimentos. Entre posições na Sonae Indústria, na Sonae Investimento, no Modelo e no Público, sucedeu então ao seu pai na liderança do grupo Sonae em 2007.

"E sou um sortudo porque os meus três filhos são bem-educados, são trabalhadores e estão todos no ativo e expostos à crítica pública.”

Belmiro de Azevedo

Em pleno rescaldo da OPA da Sonae sobre a Portugal Telecom, Belmiro de Azevedo decidiu nomear o seu sucessor, aos 68 anos. Na calha estavam os quatro vice-presidentes da Sonae: Álvaro Portela, Ângelo Paupério, Nuno Jordão e Paulo Azevedo. Semanas mais tarde anunciou o nome do novo presidente executivo da Sonae, Paulo Azevedo, mantendo-se Belmiro na posição de chairman. Em 2015 abandonava por completo o grupo.

A escolha não surpreendeu ninguém, mas mais importante do que isso, não chocou ninguém. “Em igualdade de circunstâncias, parece-me natural que a escolha recaia num membro da família”, diziam fontes próximas da Sonae ao ECO, em outubro de 2016. E a verdade é que, “até hoje, nada nos leva a crer que o sucessor não está à altura do fundador da empresa”. Em entrevista à Visão, Belmiro de Azevedo assumia que a vantagem estava do lado do seu descendente: “Foi desenhado por mim. Fez a mesma carreira em ziguezague, mas tem vantagens sobre mim, desde logo porque fala fluentemente quatro línguas estrangeiras”.

Desde então, Paulo Azevedo tem estado no centro dos maiores negócios do ramo, desde a evolução da Optimus para Nos, passando pelo processo de venda da TVI à Altice, do qual tem sido um dos críticos mais ativos. Para o líder da Sonae a concretização do negócio “criará as condições para que daqui a dez anos possamos estar todos indignados com a descoberta de uma operação ‘Marquês’ dez vezes maior”.

Cláudia Azevedo a Sonae Capital

A presidente do conselho de administração da Sonae Capital, Cláudia Azevedo, reage durante a apresentação dos resultados.JOSÉ COELHO/LUSA

A liderar o ramo de investimento do grupo Sonae segue Cláudia Azevedo, a única filha. Licenciada em Gestão de Empresas, Cláudia passou pelas empresas de media do grupo, sendo elas o Público ou a Sonaecom. “Sinto-me honrada pelos votos de confiança manifestados pelos acionistas, na eleição do conselho de administração, e pelos meus colegas, que me escolheram para liderar a comissão executiva da Sonae Capital”, assinalou Cláudia quando entrou.

A Sonae Capital tem ativos no setor da hotelaria e da energia, como por exemplo o TroiaResort e a gestão de clubes fitness. No passado trimestre, a empresa viu os seus lucros cair 96%, ainda que o volume de negócios tenha aumentado. Cláudia Azevedo garantiu que o elevado valor de investimentos realizados nos primeiros nove meses do ano, e o continuado foco na alienação de ativos imobiliários, não irão por causa os capitais próprios.

Por fim, o terceiro herdeiro é Nuno Azevedo, o filho mais velho, que ainda que tenha estado envolvido na Sonae durante 20 anos, saiu do grupo para se dedicar à gestão cultural. E qual dele é mais parecido com o pai? “É a Cláudia. Em termos emocionais e comportamentais”, apontou Belmiro ao Público. “Fisicamente, é o Nuno. E intelectualmente é o Paulo”. Cada um, à sua maneira, manterá vivo o legado recebido pelo pai.

(Notícia atualizada às 18h00 com mais informação)

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