António Mota: “Belmiro era um homem polémico com grande capacidade empresarial”
O presidente da Mota-Engil recorda Belmiro de Azevedo, um homem que "tinha pressa em andar depressa" e "pouca paciência com a inatividade".
A Mota-Engil, na pessoa de António Mota, estava ao lado de Belmiro de Azevedo num dos negócios do empresário que não correram como o planeado. Foi em 1992, quando se iniciou a privatização do Banco Português do Atlântico (BPA) e Belmiro de Azevedo, que tinha intenções de controlar um banco, acabou por entrar no capital do BPA e ficar com 9%. Contava, para além da Mota-Engil, com um grupo relaticamente vasto de aliados.
A dada altura, esse grupo sentou-se à mesa e terá ouvido da boca de Belmiro de Azevedo o seguinte: “Isto aqui é como um táxi. Vou no banco da frente e vocês vão todos no banco de trás.” Até que um dos membros perguntou: “E quem paga a corrida?” A parceria chegou ao fim e foi o BCP que acabou por lançar uma OPA sobre o BPA — a segunda — e a ficar com o banco. Quem conta a história é o próprio António Mota, em entrevista ao programa ECO24, do ECO e da TVI24, no dia em que se soube da morte de Belmiro de Azevedo.
António Mota não se alongou mais nos comentários sobre o fim da aliança do BPA, mas reconheceu que Belmiro de Azevedo, o patrão da Sonae, “era um homem polémico”. E acrescentou: “As polémicas ficam connosco. Tivemos uma parceria grande quando foi o BPA, que começou bem e terminou pouco bem.”
Belmiro de Azevedo tinha pouca paciência com a inatividade. Tinha pressa em andar depressa.
Reagindo à morte do empresário nortenho, António Mota considerou Belmiro de Azevedo “um dos homens mais representativos do empresariado português em democracia”. O presidente da construtora Mota-Engil considerou ainda que foi “um dia triste para todos os empresários em Portugal.” Belmiro de Azevedo morreu esta quarta-feira no Porto, aos 79 anos, vítima de problemas de saúde.
“Era um homem polémico, por vezes, que tinha uma capacidade empresarial e instinto muito grandes e deixa todos nós tristes com a notícia”, afirmou António Mota. Sobre o trabalho desenvolvido por Belmiro de Azevedo ao longo de mais de quatro décadas na Sonae, bem como os vários episódios que protagonizou, António Mota considerou terem sido “peças importantes no desenvolvimento da economia” portuguesa.
O presidente do conselho de administração da Mota-Engil contou ainda um episódio em que Belmiro de Azevedo terá visitado a obra de um hipermercado Continente com António Mota. Terá questionado o encarregado da obra sobre demoras na pavimentação da obra, ao que o empreiteiro ter-se-á desculpado com um estaleiro que ali estaria a empatar. Belmiro de Azevedo terá respondido: “Passa-lhe por cima.” E foi exatamente o que acabou por acontecer. Mais tarde, Belmiro de Azevedo terá comentado: “Passou-lhe por cima. Foi o que lhe mandei fazer. Não fez mais do que cumprir ordens.”
É por isso que, recorda António Mota, Belmiro de Azevedo “tinha pouca paciência com a inatividade”. “Tinha pressa em andar depressa”, concluiu o líder da construtora cotada na bolsa de Lisboa, numa entrevista televisiva no mesmo dia do falecimento do seu antigo parceiro de negócios.
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