Arménio Carlos desdramatiza luta entre trabalhadores e Autoeuropa e diz que só não haverá solução se a empresa não quiser. Acusa administração de "postura antinegocial" com novo horário contínuo.
O secretário-geral da CGTP diz que não se deve dramatizar o braço-de-ferro entre trabalhadores e Autoeuropa, recusando a ideia que o conflito vai fazer com que a alemã Volkswagen transfira a fábrica de automóveis de Palmela para outro país. Em entrevista ao ECO 24, Arménio Carlos considerou que este problema “só não terá saída se a administração da Autoeuropa não quiser”. É que, do lado dos trabalhadores, “há empenho numa solução consensual”.
Em causa está o facto de os trabalhadores da Autoeuropa terem recusado já por duas vezes pré-acordos estabelecidos entre a Comissão de Trabalhadores e a administração da empresa. Arménio Carlos reconhece que houve uma evolução positiva de um pré-acordo (rejeitado em junho) para o outro (rejeitado no mês passado), mas foi insuficiente para satisfazer as necessidades dos trabalhadores.
“Os trabalhadores querem encontrar uma solução para o problema. Estão empenhados em construir o novo modelo [o T-Roc] que está perspetivado e acima de tudo querem que a Autoeuropa tenha uma perspetiva de futuro“, declarou o sindicalista no programa de economia do ECO e da TVI 24. “Está a faltar abertura da Autoeuropa para resolver os problemas. Aumentou as vendas, produção e lucros e manteve os custos. Isto quer dizer que a Volkswagen está a ganhar muito dinheiro”, argumentou.
Os trabalhadores da Autoeuropa reivindicam que o dia de trabalho ao sábado, que a administração pretende trazer por causa do novo modelo que será construído na fábrica de Palmela, deva ser contado e remunerado como trabalho extraordinário.
Se o braço-de-ferro pode provocar perda de empregos? “Não interessa aos trabalhadores a manutenção deste conflito. Nunca estiveram empenhados neste conflito. Querem fazer parte da solução”, repetiu Arménio Carlos, recusando entrar em posições extremadas que dão conta de que a Volkswagen poderá vir a deslocalizar a fábrica para outro país. Neste ponto, desdramatizou a questão: “Não vão nada embora. Eles vão cá ficar.”
De resto, para o responsável, o que esta situação vem demonstrar é que se está “num momento desafiante para todos no sentido de deixarmos de andar como andámos nos últimos 20 anos em relação a pressões permanentes sobre se a Autoeuropa fica ou não fica, se o próximo carro vem ou não vem.”
Criticou ainda António Saraiva, quando o presidente da CIP referiu que a CGTP é um vírus na Autoeuropa. “Já estamos a tomar o antibiótico para resolver o problema de fundo. É uma graçola que não tem graça, vindo para mais de uma personalidade que devia ter a responsabilidade de encontrar soluções para o problema e não deitar gasolina para o fogo”, respondeu Arménio Carlos.
Sobre a possibilidade de se avançar com um horário de trabalho de laboração contínua que lhe permita dar resposta ao volume de produção para satisfazer as encomendas do novo veículo T-Roc para 2018, o sindicalista considera que essa decisão revela uma “postura antinegocial” da parte da administração. “Qualquer medida unilateral que passa ao lado daquilo que é o sentimento dos trabalhadores e secundarize o papel da comissão de trabalhadores e do sindicato da CGTP não nos parece correta.”
“Salário mínimo não deve ser elemento de contrapartida”
Está em curso a negociação do salário mínimo nacional dos 557 euros para os 580 euros, segundo a proposta do Governo. O acordo ainda não foi alcançado em sede de concertação social e a CGTP recusa-se a assiná-lo. Porquê?
Arménio Carlos justificou a posição da CGTP porque não é apenas o salário mínimo de 580 euros que está em cima da mesa. “Há outro tipo de contrapartidas que as confederações patronais querem”. “Continuo a pensar que o salário mínimo nacional é uma espécie de Alibaba que dá para tudo. Que dá para continuar a distribuir contrapartidas de uma forma inadmissível às entidades patronais”, disse o líder sindical.
“É um ponto de chantagem permanente”, prosseguiu, salientando que o “salário mínimo não deve ser um elemento de contrapartida” das confederações patronais.
“Estamos a falar de 557 euros ilíquidos que leva a que os trabalhadores recebam no final do mês 496 euros. O limiar da pobreza está nos 439 euros”, argumentou Arménio Carlos, que continua a considerar que a subida do salário mínimo dos 580 euros continua a não ser suficiente para a entidade sindical que lidera. Espera vê-lo aumentado para os 600 euros no próximo ano.
“Governo não tem outra saída senão cumprir acordo com professores”
Em relação ao descongelamento da carreira dos professores, Arménio Carlos declarou que o Estado não tem outra saída senão cumprir aquilo que prometeu e espera ver os resultados desse compromisso do Governo assim que iniciar um processo de negociações com a Fenprof já no dia 15 de dezembro.
“O Governo assumiu o compromisso, é publico, de contabilizar o tempo das carreiras dos professores. Segundo lugar, tem de se encontrar agora uma forma de compensar os professores desejavelmente neste mandato”, referiu o secretário-geral da CGTP.
Nesse sentido, é obrigação do Estado “organizar as suas finanças no sentido de cumprir as suas obrigações diante dos trabalhadores”.
“Não estamos a falar do pagamento integral que devia ser feito aos trabalhadores. O que está neste momento em marcha é uma reposição mínima daquilo que os trabalhadores tem direito a receber e não o total que os trabalhadores tinham direito a receber”, detalhou Arménio Carlos.
Disse que o Governo deve comparar a função pública aos credores da dívida portuguesa. “Se pode pagar a dívida às instituições porque não pode honrar os compromissos com os seus trabalhadores?”, questionou.
Centeno no Eurogrupo? “Vai aumentar pressão nos trabalhadores”
Arménio Carlos comentou ainda a recém-eleição de Mário Centeno para liderar o Eurogrupo, o grupo informal dos ministros das Finanças da Zona euro. Para o sindicalista, “não será por haver um presidente português que o Eurogrupo vai funcionar melhor”, indicando mesmo que “eventualmente, até vai trazer maior pressão sobre os trabalhadores portugueses”.
“O Eurogrupo é um grupo constituído pelos ministros das Finanças que tem como objetivo concretizar a política da união económica e monetária. Essa nós conhecemos e sofremos. Não vemos aqui alterações de fundo no funcionamento do Eurogrupo, muito menos abertura do Eurogrupo para resolver os problemas dos trabalhadores nacionais”, disse.
Em resposta a uma questão sobre se a CGTP estava mais agressiva após a derrota do PCP nas últimas autárquicas, Arménio Carlos rejeitou que tenha havido mudanças comportamentais no seio da estrutura sindical.
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Autoeuropa? “Não vão nada embora. Eles vão cá ficar”
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