Com a indústria da música a ganhar impulso, Bob Moz, da Techstars, quer liderar a orquestra e pôr as grandes empresas e as startups a tocar em uníssono.
Falar em Techstars é apelar aos sonhos de muitos empreendedores. A chance de integrar um programa de aceleração desenvolvido por esta gigante é algo que muitos desejam, mas que poucos têm acesso. São 30 os programas de aceleração em que a Techstars procura investir nas ideias com potencial, canalizando capital e disponibilizando mentoria. Mas o que é que faz de uma ideia banal uma estrela da tecnologia?
O ECO esteve à conversa com Bob Moczydlowsky, managing director do programa de aceleração de música da Techstars, o Techstars Music, para discutir o sucesso e o insucesso neste mundo do empreendedorismo. Em Lisboa para falar acerca do programa no Web Summit, Bob Moz considera que há muito potencial na indústria da música e em Portugal. O segredo é encontrá-lo antes de toda a gente.
O que torna um grande evento como o Web Summit tão apelativo para a Techstars?Para além de nos permitir ter muitas reuniões em pouco tempo, estes eventos são bons momentos para nós, como equipa, encontrarmos as tendências. Podemos nem encontrar nenhuma empresa que nos interesse, mas como podemos falar com tantas, podemos ver para que direção o vento sopra, sem ter de tomar qualquer decisão. Não sei se vou fazer um investimento numa empresa que conheci no Web Summit, mas já tenho uma série de notas para a minha equipa. É uma oportunidade para trocar informação a uma escala global.
E Portugal?Portugal interessa-nos não só pelo Web Summit, mas porque há uma mão cheia de fundadores que são portugueses ou que começaram em Portugal e se mudaram, e em quem nós investimos. Isso diz-nos que temos de ver no mercado português um sítio de onde o talento e o empreendedorismo estão a vir. Acreditamos que as grandes empresas e os grandes fundadores podem vir de qualquer lado e ser criativos em qualquer lado. Não tens de vir de Silicon Valley para fazer crescer uma grande empresa ou desenvolver uma tecnologia fantástica. Pode ser mais fácil porque há mais pessoas e mais capital lá, mas parte do nosso objetivo é investir noutros sítios. E achamos que há tanto talento aqui como há em qualquer sítio na Europa.
Silicon Valley oferece mais pessoas e mais capital, mas há alguma coisa em comum entre Portugal e o vale?Claro. Temos acesso às mesmas ferramentas, aos mercados globais, temos a capacidade de, com pouca despesa, muito talento e um grupo de pessoas que pensem da mesma forma, construir produtos e serviços que todo o mundo pode usar. E podemos fazer isso em Portugal, tal como em Silicon Valley.
Ou no resto do mundo...Sim, em qualquer lugar.
Falava que estes eventos permitem perceber para que direção sopra o vento. Na música está a soprar para qual?A indústria da música está a crescer exponencialmente. A previsão mais otimista que vi veio da Goldman Sachs, que diz que em 2030 a indústria valerá 41 mil milhões de dólares. Agora está nos 16, 17 mil milhões de dólares, o que implica um crescimento de quase um triplo em pouco mais de uma década. A nossa tese é que essa década vai ser muito gratificante para nós enquanto investidores e o nosso objetivo é sermos os primeiros. Por isso estamos a investir já, sem nenhuma expectativa que tenhamos retorno antes de cinco ou seis anos.
De todas em empresas que já passaram pelo programa de música da Techstars, qual foi o investimento que mais orgulho lhe trouxe?No programa, apostamos em onze empresas e estamos orgulhosos de todas. Ainda é muito cedo para dizer o que lhes vai acontecer, mas desde que investimos já conseguiram angariar mais de 15 milhões de euros. O único feedback que tivemos até agora foi isto, conseguimos garantir-lhes mais financiamento. Mas para saber a que mais bem-sucedida terá de me fazer a mesma pergunta daqui a cinco anos.
Na primeira edição do programa contaram com a presença de empreendedores de peso como o co-fundador do Google Maps ou um integrante da lista 30 under 30 da Forbes.Tivemos uma série de empreendedores no nosso programa que ganharam reputação e tiveram muito sucesso antes de entrarem. E chegaram com uma grande vontade de resolver problemas relacionados com a música. O nosso programa adequou-se a esses empreendedores porque juntámos grandes nomes da indústria como a Sony, ou a Warner Music Group, empresas que fazem a diferença e aumentam a hipótese de sucesso para os nossos empreendedores. Ter empreendedores de renome no nosso programa só prova que o que estamos a fazer, coletivamente, está a funcionar.
Já que falamos de sucesso e insucesso, é mais fácil falhar na música que em outros setores?Do meu ponto de vista é mais difícil. Os erros pagam-se mais caros na música porque há menos capital e as poucas empresas que já estão estabelecidas são muito influentes e têm muita margem de manobra. Por isso é que o nosso programa existe, porque queremos construir um ambiente colaborativo mais amigável. O Techstars Music é o único espaço no mundo em que a comunidade de investidores e a indústria da música trabalham juntos para fazer crescer startups.
E quando se atinge o sucesso, é ao mesmo nível que nos outros setores?Definitivamente. A Spotify é uma das empresas mais valiosas do mundo e não se conhecem limites ao seu crescimento. Um negócio com potencial de escala que tem de apelar a milhões de pessoas ou até milhares de milhões de pessoas. E consumir música, experienciar música e criar musica é algo inerente ao ser humano, por isso a oportunidade de mercado em torno disso é gigante. Perceber, fazer, consumir e desfrutar música é parte do que nos faz humanos. Desta forma, serviços que sejam bons podem vir a ser utilizados por milhões.
O Techstars Music conta já com nove empresas parceiras e onze negócios apoiados. Quais são agora os próximos passos?Vamos continuar a fazer o que estamos a fazer, juntar empreendedores e empresas e apostar na inovação. Mas gostávamos de ter empresas europeias a juntar-se ao nosso consórcio, empresas que queiram fazer um autoanálise e pensar como podem lidar com a inovação trazida pelas startups, como podem levar esta cultura de startup para o que fazem.
E é mais entusiasmante subir a palco ou estar nos bastidores?O número de pessoas que podes impactar com a tua tecnologia é o mesmo que os músicos podem impactar com a sua obra, o que é muito bom. Se não puderes ser o artista, sempre podes ser o técnico.
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Este investidor quer pôr a indústria da música e as startups em sintonia
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