Como se mede o tempo de entrega das cartas dos CTT? Antes eram cartas à paisana. Agora são chips
A Anacom concluiu que mais de duas em cada 1.000 cartas enviadas em 2016 não chegaram ao destino no prazo máximo de 15 dias. Mas, como se mede este valor? Com chips eletrónicos escondidos no correio.
A Anacom concluiu em setembro que 2,3 em cada 1.000 cartas enviadas pelos CTT em 2016 não chegaram ao destino no prazo de 15 dias. Este dado levou o regulador a obrigar a empresa a baixar os preços, pois os CTT têm de cumprir certos padrões de qualidade por serem eles os prestadores do serviço postal universal. O ECO explicou tudo isso aqui. Mas, como é feita essa medição? Com chips eletrónicos nas cartas.
Exatamente, mas já lá vamos. É que o método tem vindo a evoluir e nem sempre foi assim. No passado, era a própria empresa que recolhia estas informações. Havia um painel, “os chamados painelistas”, recorda José Oliveira, dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT). “Eram enviadas cartas perfeitamente anónimas. Anónimas, porque não tinham qualquer sinalização. E eram enviadas para aquelas pessoas”, conta.
Estas cartas à paisana chegavam (ou não) aos destinatários, que registavam o dia em que as tinham recebido. Eram, então, remetidas novamente para outro ponto. “Quando essas pessoas respondiam, ficava marcada a data em que elas as tinham posto no marco do correio, ou quando a entregavam na estação do correio. Quem estava a fazer o controlo, sabia quanto tempo é que as cartas demoravam a regressar”, lembra José Oliveira.
Entretanto, por decisão da Anacom, esta faculdade foi retirada aos CTT e atribuída a uma empresa externa, contratada pelos Correios. Essa companhia, hoje, é a PwC. “A PwC mede os dados. Na sequência de uma decisão da Anacom, os dados passaram a ter que ser medidos por uma entidade independente dos CTT, tendo os CTT contratado a PwC”, confirma fonte oficial da Anacom, contactada pelo ECO.
É aqui que entram os chips eletrónicos. “O sistema atual é a entidade externa que faz. As coisas evoluíram. Há um chip que é posto dentro dessas cartas, chip esse que, por onde passa, é lido. Lido nos portais dos centros de distribuição. Onde haja um portal dos CTT, é lido. Quer na ida, quer quando são enviadas no regresso”, garante José Oliveira. Ou seja, o modelo é bastante semelhante ao anterior. E também há um painel. Mas as cartas são lidas automaticamente e os dados vão sendo recolhidos à medida que o processo de distribuição do correio se desenvolve.
"Há um chip que é posto dentro dessas cartas, chip esse que, por onde passa, é lido. Lido nos portais dos centros de distribuição.”
Contactados pelo ECO, os CTT vão um pouco mais a fundo: “A medição é efetuada com base em painel de colaboradores desconhecidos pelos CTT, recrutados pela PwC geograficamente por todo o país. O painel de colaboradores da PwC expede e recebe objetos postais teste, baseando-se a medição nas datas de expedição e receção informadas pelo painel à PwC”, explica fonte oficial da empresa liderada por Francisco de Lacerda.
A existência dos chips eletrónicos nestas cartas descaracterizadas, enviadas pelo painel recrutado pela PwC, é confirmada pelos Correios. “Os chips eletrónicos não dão informação sobre o painel nem comprometem a independência da informação. A utilização dos chips eletrónicos é uma prática instituída nos processos de medição de Qualidade de Serviço dos Operadores Postais, permitindo melhorar os processos operacionais da rede de logística do operador”, diz fonte oficial.
E depois, o que acontece? “A Anacom procederá a uma auditoria aos valores apurados pelo referido sistema de medição da PwC, para verificar a sua exatidão. Para este efeito, a Anacom lançou um concurso público com vista à escolha do auditor, tendo sido celebrado contrato em setembro com a Grant Thonron & Associados. Esta entidade irá fazer auditoria aos valores anuais de 2016 e 2017 dos indicadores de qualidade de serviço, das reclamações”, explica ao ECO fonte oficial do regulador. Terá sido este o sistema que acabou por concluir que os CTT falharam num dos padrões definidos no contrato de concessão do serviço postal universal.
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