Esta startup está a mudar a maneira como as marcas olham para os clientes
Como numa fábrica, startup transforma imagens recolhidas por câmaras de vigilância em dados. O objetivo? Tomar decisões mais conscientes, de maneira a ir ao encontro das necessidades dos clientes.
No escritório luminoso bem perto do Marquês de Pombal, em Lisboa, há autocolantes verdes no chão que indicam o número da câmara a que correspondem no ecrã. Joana, Vasco e Paulo estão a desenvolver uma forma de usar as imagens de segurança captadas pelas câmara de vigilância das lojas, transformando-as em dados que podem ajudar os donos a tomar decisões sobre produtos, organização e vendas. Já há clientes para a tecnologia. E são grandes marcas mundiais.
A ideia da Sensei veio da memória: descendente da família que gere as marcas Dielmar e Wesley, Joana tem contacto quase diário com os desafios que advêm de manter uma rede de lojas de retalho. “Cresci no meio das lojas e do retalho, dos clientes da Dielmar — os clientes da parte industrial são todos retalhistas. No fundo, nasci um pouco no meio deste ambiente de retalho”, explica Joana, ao ECO. Depois de uma pós-graduação em Harvard, nos Estados Unidos, na área da gestão, Joana — que estudou arquitetura — decidiu dedicar-se completamente à área mais tecnológica.
Por isso, quando conheceu Vasco Portugal, que estudou design de produto e, depois, engenharia de sistemas — tendo mais tarde feito o Doutoramento no MIT — desafiou-o a pensarem juntos numa forma de otimizar esse esforço de conhecimento e perceção. Paulo Carreira, professor de engenharia de software, surgiu logo depois, já que era amigo de Vasco dos tempos da universidade.
“Apercebi-me que o desafio de gestão da nossa cadeia implica que haja uma monitorização diária do que se passa nas várias lojas, perceber a performance de cada loja em cada momento e, na verdade, de que não temos muitos dados das lojas físicas. Temos muito mais dados quando temos um canal online mas, numa loja física, temos de olhar um pouco para aquilo que são as vendas e o reporting que se faz”, justifica Joana sobre o desenvolvimento do negócio.
Foi dessa quase ausência de dados que ajudassem a tomar decisões que surgiu a ideia de criar a Sensei, uma ferramenta que transforma imagens de segurança recolhidas por câmaras de gravação já existentes — o que reduz o nível de investimentos dos interessados — em dados que ajudam a tomar decisões. “Já estávamos a trabalhar num projeto numa área parecida, relacionada com a otimização energética de espaço dependendo da ocupação, e pareceu-nos interessante o desafio”, conta Joana. Vasco detalha: “Numa primeira abordagem, tentámos perceber, no universo das tecnologias, o que era preciso fazer para capturar espaço”.
Depois, à medida que a ideia ia evoluindo, “fomos percebendo que as câmaras eram o sensor ideal porque, primeiro, já existiam — quase todos os espaços já têm câmaras — e, segundo, porque a quantidade de informação que se pode capturar de uma câmara é incomparavelmente superior àquilo que se pode capturar de um sensor. Um sensor visual dá um conjunto de informações como padrões de cor, comportamento, dimensões: há mil e uma coisas que se podem inferir através de um sensor visual”.
Dentro de uma Amazon, sabes o que as pessoas fizeram, o que compraram, o que estiveram a observar, o que repuseram no cesto, tens essas métricas todas. Se pensares que aquilo que vemos só representa 20% daquilo que é a atividade de loja, tudo o que tomas como decisão de base para encomendar produtos, escolher os produtos, colocação, é pouco representativo daquilo que é o comportamento da maioria dos teus clientes.
Os primeiros passos do produto que agora a Sensei desenvolve e vende foram dados durante os tempos livres deixados da empresa onde nasceu — a Meta Innovation Consulting Group. Vasco explica que, com uma “aberta durante o verão”, começaram a desenvolver a ideia em que andavam a pensar há algum tempo. “Achámos que era o período ideal para fazer a experiência”, confessa.
Com o financiamento obtido através de uma grant do Fiware — um programa de aceleração europeu que, em Portugal, é gerido pelo IPN — o projeto foi crescendo e o processo de bootstap durou até a equipa ter conseguido integrar o programa de aceleração dedicado ao retalho, que junta o Techstars ao grupo alemão Metro, dono da Makro em Portugal.
“Entretanto, começámos a ter tração, a ter interesse de clientes, e fizemos o spin-off“, conta Joana. Agora, é uma empresa por si só, na fase de procura de clientes. A sala de Lisboa, com o chão de madeira colorido por autocolantes verdes, “é basicamente um simulacro daquilo que é uma loja”. “Usamos as câmaras de vigilância absolutamente normais para capturar tudo o que é atividade dentro do espaço”. O resultado é depois transformado em dados — partilhados com os clientes. As imagens, que guardam dados de identidade dos clientes, são destruídas em seguida, garantindo a confidencialidade dos clientes das lojas.
“Dentro de uma Amazon, por exemplo, sabemos o que as pessoas fizeram, o que compraram, o que estiveram a observar, o que repuseram no cesto, tens essas métricas todas. Se pensarmos que aquilo que vemos só representa 20% daquilo que é a atividade de loja, tudo o que se toma como decisão de base para encomendar produtos, escolher os produtos, colocação, é pouco representativo daquilo que é o comportamento da maioria dos clientes. O que damos é exatamente isso: perceber o que distingue uma loja que tem muito tráfego de outra que tem muito pouco. É muito difícil tomar decisões sem bases factuais para o fazer. É essa componente de inteligência que nós trazemos às lojas. E queremos ir mais além“, explicam os fundadores.
Já a trabalhar com um grande cliente internacional de luxo na área do retalho, a Sensei está ainda a negociar parcerias com outros clientes de retalho e da grande distribuição. O objetivo? Consolidar a “equipa de sete pessoas, um escritório em Lisboa e outro em Castelo Branco” e apontar o produto para dois alvos específicos. “Trabalhamos para high level, marcas que valorizam muito a experiência de cliente, de loja, e também com grossistas, como a Metro, num conceito diferente. Temos dois de cada, são projetos grandes e ambiciosos e, por agora, é suficiente”, acrescenta Vasco. “Temos quatro clientes fundamentais e globais, projetos com redes de distribuição muito grandes, e é nesses que vamos focar este ano. É o que nos dá mais visibilidade e posiciona-nos melhor na nossa rota de crescimento”.
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