Por cada três carros novos na estrada, um é usado… importado
As vendas de automóveis cresceram. O aumento foi bastante inferior ao do ano anterior, mas não no caso dos importados. A importação de usados continua a crescer, agravando a saúde do parque automóvel.
Há mais carros novos nas estradas portuguesas. Foram vendidos, no ano passado, mais de 200 mil veículos, um crescimento, sim, mas bem menor do que o registado no ano anterior. Um abrandar, no regresso à normalidade do mercado, que não se vê no caso dos importados. Com os descontos no ISV destes veículos, o peso destes no total das vendas de novos está a acelerar. Por cada três novos há mais um importado usado… com uma idade média de cinco anos.
“Em 2017, o número de matrículas de automóveis importados usados equivalia a 29,8% das vendas de novos, tendo sido matriculados 66.193 veículos usados”, referem os dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), divulgados no âmbito do balanço do último ano do mercado automóvel nacional. O mercado dos novos “teve um crescimento de 7,7% face ao ano de 2016. Esta percentagem de crescimento significa que o mercado está a estabilizar para os seus valores normais”, nota, destacando o peso do rent a car (24%) no número final.
“O mercado de importados ganhou uma grande dinâmica nos últimos dois anos com a redução do Imposto Sobre Veículos. Há dois anos, o Governo decidiu atribuir também um desconto para veículos de cinco a dez anos”, salientou Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, acrescentando que a “idade média dos importados é de cinco anos”. Este fenómeno, em conjunto com o do fim do incentivo ao abate de veículos, está a contribuir para aumentar a idade média do parque total.
"O mercado de importados ganhou uma grande dinâmica nos últimos dois anos com a redução do Imposto Sobre Veículos. ”
O parque circulante em Portugal era, no final do ano passado, de 5,923 milhões de veículos, dos quais 4,7 milhões correspondem a ligeiros de passageiros, sendo que a idade média dos ligeiros de passageiros subiu para 12,5 anos. “Acima dos 10 anos é considerado que o parque está a envelhecer. É preciso medidas para rejuvenescer”, nota Hélder Pedro.
“Fizemos petição para se retomar o incentivo ao abate. O Governo entendeu até à data não o fazer (foi descontinuado em 2011). Os automóveis que são abatidos são cada vez mais velhos”, acrescenta. Em 2017, segundo dados da ACAP, a idade média dos veículos abatidos nos centros para o efeito era de 21,4 anos. Há menos de uma década era de cerca de 15 anos.
Abate? Sim. E mais cheques para elétricos
Os números das vendas de automóveis novos incluem um crescimento expressivo nos veículos com sistemas alternativos de locomoção face aos tradicionais motores de combustão. A ACAP destaca o “crescimento de três dígitos, verificado nos veículos elétricos e híbridos plug-in, que é revelador da crescente procura que existe neste segmento”.
“Só para termos a noção exata, em 2010 venderam-se cinco veículos híbridos plug-in. Em 2017, as vendas foram de 2442 unidades. Nos veículos elétricos, o crescimento foi de 117% em 2017. A crescente eletrificação do parque automóvel é uma realidade incontornável no futuro próximo”, defende a associação, exigindo, por isso, o “fim do limite de mil unidades nos incentivos aos carros elétricos”, bem como “a dedução do IVA das despesas com veículos híbridos a gasolina”.
A ACAP considera que permitir apenas a dedução do IVA nos veículos a gasóleo “limita a atividade das empresas e das empresas de transportes”. Obriga-as, devido à fiscalidade, a continuar a apostar no gasóleo num contexto de mudança do mercado. “Verifica-se uma quebra do peso do diesel nas vendas de veículos novos. Se era de 72% em 2013, caiu para 61% em 2017″, nota.
Luta de Classes. Governo está a negociar
Outra das reivindicações da ACAP prende-se com a forma como os diferentes veículos são taxados nas portagens, com muitos automóveis a passarem a ser considerados Classe 2, com todos os custos que isso acarreta. É, diz Hélder Pedro, “um tema da máxima prioridade”. A associação tem discutido o problema com o Governo, mas cabe agora ao Executivo negociar.
“Os critérios de portagem desatualizaram-se face ao mercado. A diretiva europeia da proteção de peões obriga a elevar a altura dos veículos à frente. Isso levou vários automóveis para Classe 2 [já que têm mais de 1,10 metros ao eixo dianteiro]”, conta. Neste sentido, o “Governo criou há dois anos um grupo de trabalho… Reuniram de dezembro de 2016 e julho 17, tendo sido produzido um extenso relatório que foi entregue ao Governo”. Nesse relatório, a ACAP defende que “carros com peso inferior a 2.300 kg devem ser Classe 1”, abandonando-se o critério da altura.
Agora, “o Governo tem de juntar as concessionárias e negociar. Tem contratos longos, longe de terminar. Foram assinados com base nessa classificação [de portagens]”, diz Hélder Pedro. “Está em causa o interesse nacional, por isso, o Governo tem de se sentar com elas [as concessionárias] para negociar a alteração das portagens”, diz, notando que recentemente questionou o Executivo para saber em que ponto estão as negociações.
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