Gestão da Carris pela Câmara de Lisboa aplaudida por trabalhadores e contestada por utentes
Enquanto os trabalhadores apontam melhorias nas condições de trabalho, os clientes queixam-se que o serviço "continua a ser o mesmo pandemónio".
O primeiro ano da gestão da Carris pela Câmara de Lisboa foi “positivo” para os trabalhadores da rodoviária, já os utentes afirmam que “não houve grandes melhorias”, advogando que o serviço prestado “continua a ser o mesmo pandemónio”. Na perspetiva de Cecília Sales, porta-voz da Comissão de Utentes dos Transportes Públicos de Lisboa, o serviço da Carris estava “de tal maneira degradado” que “agora é mais difícil a recuperação”, processo que se prevê que demore “alguns anos”.
“Mas até agora não estamos a ver nada, continua o mesmo pandemónio dos autocarros demorarem”, apontou a representante dos utentes, em declarações à agência Lusa, afirmando que é preciso “mais investimento” na frota e na contratação de motoristas. Para a comissão de utentes, a municipalização da Carris foi uma “má decisão”, porque os serviços públicos devem ser “sempre da responsabilidade do Estado”.
"Até agora não estamos a ver nada, continua o mesmo pandemónio dos autocarros demorarem.”
“Mas já que está decidido, ao menos que consigam solucionar alguns problemas que vêm de trás, e sabemos que vêm de trás dos anteriores Governos que deixaram degradar as empresas públicas”, declarou Cecília Sales, indicando como principais problemas da rodoviária a eliminação de carreiras, os tempos de espera e o preço dos passes que são “caríssimos”.
Com uma visão mais otimista, Paulo Gonçalves, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Carris disse que este foi “um ano de transição”, cujo balanço da gestão da rodoviária pela autarquia é “positivo”, porque “havia muito por fazer”, uma vez que a empresa passou por “anos muito complicados com o anterior Governo, […] com a saída de muitas centenas de trabalhadores, nomeadamente motoristas”.
“Pensamos que, a partir de agora, estão reunidas as condições para que as coisas comecem a melhorar à velocidade cruzeiro”, defendeu Paulo Gonçalves, referindo que no último ano entraram 125 novos motoristas e este ano irão entrar mais 220 profissionais.
Relativamente ao material circulante, o coordenador da Comissão de Trabalhadores da Carris referiu que já foi adjudicada a aquisição de novas viaturas, “225 autocarros a gás e última geração de modelos a diesel”, que devem começar a operar a partir de agosto. “Alguns investimentos que estavam programados já foram adjudicados e estamos convencidos que nos próximos dois anos, a partir de agora, – e os utentes vão sentir -, o serviço da Carris vai melhorar substancialmente”, frisou.
"Pensamos que, a partir de agora, estão reunidas as condições para que as coisas comecem a melhorar à velocidade cruzeiro.”
Em declarações à agência Lusa, Orlando Lopes, dirigente da Associação Sindical do Pessoal de Tráfego da Carris considerou que o primeiro ano de gestão municipal da rodoviária foi “bastante positivo, até excedeu as expectativas”, advogando que o serviço de transporte melhorou em todos os aspetos, nomeadamente ao nível dos tempos de espera.
Apesar das melhorias, o dirigente sindical reconhece que “ainda há muito a fazer”, desde a aquisição de novos autocarros à contratação de motoristas. “O que se estragou em quatro anos não se consegue recuperar num ano”, argumentou Orlando Lopes, perspetivando “uma melhoria substancial”, ainda este ano, do serviço prestado.
Já o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal (STRUP), Manuel Leal, reiterou a posição assumida há um ano de que a passagem da Carris para a Câmara de Lisboa é “uma oportunidade adiada de construção de uma rede integrada de transportes ao nível da Área Metropolitana”, já que a rodoviária também serve populações de concelhos limítrofes da capital.
"Quando digo que a situação presente está a confirmar estas nossas reservas é que, passado um ano, em termos de Carris, mantêm-se as limitações que existiam quanto ao número de autocarros ao serviço da população, houve alguma admissão de trabalhadores, mas claramente ainda em termos insuficientes para corresponder à necessidade de dar cumprimento ao serviço total.”
“Quando digo que a situação presente está a confirmar estas nossas reservas é que, passado um ano, em termos de Carris, mantêm-se as limitações que existiam quanto ao número de autocarros ao serviço da população, houve alguma admissão de trabalhadores, mas claramente ainda em termos insuficientes para corresponder à necessidade de dar cumprimento ao serviço total”, justificou Manuel Leal.
Neste sentido, o STRUP pretende “lutar e fazer tudo” para que “sejam efetivados quer os investimentos necessários para a existência de mais veículos, quer autocarros, quer elétricos, ao serviço da população, assim como a contratação de mais trabalhadores que, tanto para as áreas do tráfego como para as áreas da manutenção, são essenciais para garantir quer a diminuição dos tempos de espera quer a qualidade do serviço que é prestado”.
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