Empresa de recrutamento decidiu criar uma fábrica digital e escolheu Portugal para a instalar. A partir de Lisboa são coordenadas equipas num total de 80 pessoas, com impacto em 36 países.
Sentados no open space do escritório da Avenida da República, em Lisboa, os programadores não tiram os olhos dos ecrãs dos computadores, mesmo que a voz se cruze muitas vezes entre conversas de equipas. Há poucos anos, o cenário era diferente: “Este é o novo aspeto, tínhamos um ar muito corporativo. Acabámos com os gabinetes, e isso faz parte da mudança de mentalidades, da busca pela transparência”, explica Gonçalo Vilhena, na Randstad desde 2008.
Em 39 países, a Randstad decidiu escolher Portugal para instalar a sua Digital Factory, aliada da estratégia digital da empresa para o mundo. “Temos uma multinacional, mas cada país faz as coisas à sua maneira: cada um tem o seu budget de IT, decide o que quer fazer localmente, e são estruturas muito pequenas. Mas queremos ter cada vez mais soluções que permitam aos nossos clientes globais ter uma oferta global”, explica Gonçalo Vilhena, em conversa com o ECO.
Por isso, a Digital Factory nasce com a entrada do Chief Digital Officer (CDO) há um ano e meio: na altura em que se unificou o IT com o marketing, a empresa começou também a criar a cultura de equipas multidisciplinares. E não só isso: também aqui numa lógica multi-país, conforme os centros de excelência. “Isto é muito importante porque o clássico tem sido, ou deslocaliza-se ou centraliza-se. E, historicamente, foi numa perspetiva de dar guidelines. Mas os projetos mudam de países e podemos ter eventualmente pessoas a trabalhar na Suécia para Portugal. E este conceito não existia na Randstad”, esclarece.
Definido o plano, foi necessário passar à ação. E rapidamente. Primeiro, as equipas, já a 100% no Porto, começaram a implementar na sede o planeado: fazer da empresa remote friendly, ou seja, transformar o espaço de trabalho em apenas um a juntar-se a outros possíveis. Depois, na prática, foi altura de criar, na holding, um sistema centralizado. “O conceito era conseguirmos criar o espírito de inovação nos diferentes locais — localmente conseguem identificar necessidades do mercado — e experimentá-las. Depois, com o suporte das local factory, fazer crescer um bocadinho o âmbito da experimentação e, no último passo, colocar isto numa fábrica, digital factory, onde fazes o replatform que significa colocar tudo o que se faz numa plataforma que os transforme em copiáveis e replicáveis para todos os países, fazendo um scaleup muito rápido”, explica Gonçalo Vilhena.
Espírito Glocal
A equipa de Portugal, instalada em Lisboa, trabalha local by local mas com a “agilidade” exigida pelos negócios de hoje em dia, cada vez mais dinâmicos. Os serviços são centralizados na capital portuguesa mas recebem inputs da maioria dos escritórios espalhados a nível internacional, e entregam trabalho tanto a eles como a clientes da empresa. O esforço tem sido implementar assim a “visão muito clara” que o novo CEO tem para a empresa: unificar, mas também criar o espírito de inovação.
Assim, foi necessário à empresa criar uma equipa adaptada a todas estas necessidades para criar uma dinâmica com competência de engenharia provada, estrutura, mindset e ferramentas necessárias. “Sair da lógica do clássico IT, que subcontrata tudo nas redes, e fazer gestão projeto a projeto. Aqui é muito focado em produtos, desenvolvimento interno muito próximo do negócio, metodologias metade Java. E quando René Steenvoorden, Chief Digital Officer (CDO), visitou Portugal, surgiram uma série de ideias e, no fundo, ele identificou logo o país como um hub“, explica o responsável.
Pouco depois, estava criada a Digital Factory: um hub de delivery center de mobile e frontends… em Portugal. A ideia não é manter apenas o departamento português mas criar outros três hubs espalhados pelo mundo que permitam à empresa trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semana. “Depois há um conjunto de equipas espalhadas por diferentes países que fazem a gestão do produto por si. Portugal acaba por ser um centro de desenvolvimento com equipas que funcionam diariamente, cross country. E isto é muito giro de ver porque veem-se as equipas totalmente unidas com capacidade de decisão total, e isso dá aos produtos outra agilidade completamente diferente. Não é uma coisa fácil para uma empresa corporativa como é a Randstad: o que estamos a criar na Digital Factory é o que tem feito a diferença”, explica o responsável, em entrevista ao ECO. Na equipa, coordenada a partir de Portugal, trabalham 80 pessoas mas a ideia é fazer com que esta cresça para acompanhar também o surgimento de novos projetos, internos e para o exterior.
Como se cria uma coisa do zero?
Encontrar talentos, recrutar e apostar foram as prioridades. “Há uma aposta muito clara em pessoas multiculturais: diferentes backgrounds, nacionalidades. Na própria holding querem ter pessoas diferentes, géneros e idades. E estão a criar ali um ecossistema de talento completamente diferente”.
Na Digital Factory, por enquanto, o talento nacional é uma parte significativa da equipa. Dos 80, dez são portugueses. Mas há muitos outros entre as pessoas espalhadas pelo mundo: Estados Unidos, Holanda, Catalunha, Singapura e Malásia são alguns dos países de origem das equipas. E todo o desenvolvimento é coordenado a partir de Lisboa.
David Silvestre, delivery manager para Portugal e agora também deste delivery center para a Digital Factory, sublinha que o objetivo da “fábrica” é desenvolver aplicações para serem reutilizadas por outros países. “Como Portugal já tinha uma equipa boa de IT, tínhamos apresentado o que fazemos e eles gostaram (…) A ideia é que os complementos sejam usados para vários projetos e não só para um projeto”, explica.
“A forma como podemos comunicar com outros países com outras visões e ferramentas e outro background, em vez de estar a desenvolver 34 ferramentas, uma para cada país, permite diminuir os custos e distribuir uma ferramenta que pode ser usada por todos”, detalha Severiano Melo, project manager de um projeto dentro da Digital Factory e programador, salientando a facilidade de comunicação dentro da organização.
Mas, como é trabalhar com equipas multidisciplinares? “Temos uma comunicação contínua com meetings diários por videoconferência para planearmos tudo o que vamos fazer, os próximos passos, o que fizemos bem e o que temos de melhorar. E para avaliar qual o papel de cada um. Tudo isto é discutido diariamente para não haver falhas”, garante, sublinhando a necessidade de manter todos os membros da equipa perto, ainda que separados por milhares de quilómetros.
Agora, o grande desafio é coordenar uma equipa espalhada pelo mundo e, ao mesmo tempo, ter os olhos postos nas necessidades dos clientes internacionais. Tudo, a partir de Portugal. Para isso, criaram também uma equipa de go to market e outra de costumer delight, para levar “aquela abordagem de deixar de ouvir tantas vozes internas mas efetivamente estar com os clientes, utilizadores finais, fazer testes de usabilidade”, esclarece o especialista.
Da Digital Factory saíram já dois grandes projetos, sempre dentro de um “espírito startup”, um deles, a ScheduleinTool, uma ferramenta de gestão de turnos e disponibilidade dos colaboradores, que pode ser aplicado a clientes de vários setores e que está a ser testada em piloto na Suíça, Itália, Portugal e Estados Unidos.
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Randstad produz em Portugal apps para todo o mundo
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