Teodora Cardoso apela a mais empenho ao olhar para o longo prazo
Teodora Cardoso alerta que, antes de mais, é necessário que haja vontade em reconhecer o problema demográfico, e "não interessa de quem foi a culpa", diagnosticá-lo e procurar soluções.
A presidente do Conselho de Finanças Públicas manifestou-se esta terça-feira preocupada com o problema demográfico e de produtividade que afeta Portugal, apelando aos governantes o mesmo empenho para olhar para o longo prazo do que para o curto prazo.
“No futuro próximo, uma vez atingido o pleno emprego, esgotando o efeito cíclico da retoma, o crescimento da economia terá de assentar em dois fatores: o aumento da população ativa e/ou o crescimento da produtividade. Em ambos os casos o panorama com que nos defrontamos é preocupante e muito exigente”, disse a economista hoje no Parlamento.
No futuro próximo, uma vez atingido o pleno emprego, esgotando o efeito cíclico da retoma, o crescimento da economia terá de assentar em dois fatores: o aumento da população ativa e/ou o crescimento da produtividade. Em ambos os casos o panorama com que nos defrontamos é preocupante e muito exigente.
Teodora Cardoso foi hoje ouvida no grupo de trabalho no âmbito da Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, relativamente à avaliação do endividamento público e externo.
“O problema demográfico e da produtividade não se resolvem espontaneamente, tem que haver políticas”, insistiu a responsável aos deputados, referindo que não há em Portugal nenhuma investigação nesta área e que os modelos de outros países não poderão ser simplesmente replicados. “É preciso muito mais trabalho estrutural”, sublinhou.
É necessário, de acordo com a economista, antes de mais, vontade em reconhecer o problema, e “não interessa de quem foi a culpa”, diagnosticá-lo e procurar soluções. “Os problemas não são insolúveis e já mostrámos que somos capazes de resolver os problemas e o nosso problema é mais o médio longo prazo e não o simples curto prazo”, disse a economista, destacando, pela positiva, o facto de a retoma não ter sido acompanhada do agravamento do défice externo, “tendo antes assentado em grande parte no comportamento favorável das exportações”.
“É necessário agora desviar para os problemas de fundo o esforço e a determinação habitualmente aplicados na solução das crises de curto prazo”, acrescentou.
Segundo Teodora Cardoso, além da queda da população em idade ativa, o problema demográfico português resulta do decréscimo da percentagem de indivíduos entre os 0 e os 14 anos (de 27% para 14% da população total entre 1976 e 2015) e no aumento do peso da população com idade igual ou superior a 65 anos para quase o dobro (de 10,5% para 20,5% no mesmo período).
A retoma cíclica não está ainda concluída e havendo ainda espaço para o aumento adicional do emprego, ao mesmo tempo que a conjuntura internacional favorável deverá manter-se, impõe-se “dar prioridade à inversão daquelas tendências porque dela depende a capacidade de atingir objetivos mesmo modestos de crescimento económico”.
Como a experiência passada demonstra, sinalizou, o aumento das despesas públicas não resolve estes problemas. “No curto prazo facilita a retoma cíclica, mas desvia o investimento privado para atividades que não promovem a produtividade, ao mesmo tempo que ignora a demografia. Esta, por seu lado, exerce uma pressão crescente sobre as despesas públicas, que se repercute no saldo primário se nada for feito do lado da produtividade”, avisou.
O presidente do Conselho Económico e Social (CES), António Correia de Campos, igualmente ouvido na sessão referiu também a necessidade de uma “visão estratégica” para resolver o problema da dívida portuguesa. “Precisamos de saber muito mais sobre a produtividade e sobre as produtividades setoriais, olhando transversalmente para a questão”, exemplificou o ex-ministro da Saúde.
Para Correia de Campos, cuidar do futuro é cuidar do clima, da demografia, do acolhimento dos imigrantes, entre outros, questões que só serão resolvidas com mais estudos.
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