Portugal ao sabor do vento
No crescimento de 2017, há muito pouco mérito do actual Governo. O problema é que pôr a economia portuguesa a crescer de forma sustentada em torno dos 3% ao ano não parece ser uma prioridade.
A economia portuguesa teve, em 2017, a taxa de crescimento do PIB mais elevada do século XXI: 2,7%. Esta taxa de crescimento foi ligeiramente superior à média da União Europeia, o que também é novidade neste século. Ou seja, há razões para nos congratularmos com o desempenho da economia portuguesa.
No entanto, é verdade que a maioria dos países da União Europeia apresentou taxas de crescimento mais elevadas do que a economia portuguesa. De entre estas, destaca-se a Espanha. Após uma recessão muito forte e longa, o nosso principal parceiro comercial cresceu sempre acima de 3% a partir de 2015. Esta comparação com a Espanha reforça a impressão de que Portugal ainda não conseguiu romper o longo ciclo de baixo crescimento.
Alguns analistas têm utilizado aquela comparação internacional para desvalorizar o crescimento económico de Portugal em 2017. Numa economia cada vez mais aberta ao exterior e pertencente à zona euro, o contexto internacional é e será cada vez mais determinante. E é inegável que o contexto internacional nos tem sido extremamente favorável nos últimos anos, a começar pela política de taxas de juro baixas do BCE, passando pelo crescimento da Europa e acabando nos preços muito baixos do petróleo (embora estes tenham já aumentado em 2017).
Todavia, nos primeiros anos do século XXI, as baixas taxas de juro e o crescimento dos outros países não nos salvaram – entre 2001 e 2007, a Grécia, a Espanha e a Irlanda apresentaram taxas médias anuais de crescimento de 4%, 3,5% e 5,4%, respectivamente. Nesse período, a taxa de crescimento média anual de Portugal foi 1,1%. Entre 2011 e 2017, as taxas médias anuais de crescimentos económico da Grécia, da Espanha e da Irlanda foram, respectivamente, -2,5%, 0,8% e 6,8%. Em Portugal a taxa média anual de crescimento, entre 2011 e 2017, foi 0%.
Há, no entanto, uma diferença importante em relação aos primeiros anos do século XXI. Nos últimos anos, o crescimento tem sido alimentado pelas exportações, com destaque para o turismo. O valor máximo histórico das exportações (43% do PIB) deveu-se ao dinamismo e ambição dos nossos empresários e à conjuntura externa favorável. Na verdade, os nossos governos nunca colocaram a promoção das exportações e o aumento do seu valor acrescentado entre as prioridades das políticas públicas. Com o actual Governo, a situação agravou-se. A discussão política está centrada nas questões de redistribuição dos poucos ganhos de crescimento que têm sido conseguidos nos últimos anos. As políticas de promoção do crescimento e da competitividade estão ausentes do debate político.
Nos últimos dois anos, pouco ou nada tem sido feito para ultrapassar os bloqueios estruturais ao crescimento económico. Pelo contrário. Em alguns casos, como na área da fiscalidade, o movimento tem sido no sentido de deteriorar a competitividade da economia portuguesa face aos seus parceiros comerciais. Também a forte redução do investimento público – que poderia não ser grave se existisse uma estratégia clara de afectação dos recursos – pode vir a pôr em causa a competitividade da economia portuguesa. Na área do ensino superior e investigação, há estratégia, mas, infelizmente, não há dinheiro. Pode ser que se aproveite o movimento da descentralização para reformar o Estado…
Resumindo, no crescimento de 2017, há muito pouco mérito do actual Governo. E não quero com isto dizer que há uma solução fácil para pôr a economia portuguesa a crescer de forma sustentada em torno dos 3% ao ano. O problema é que essa não parece ser uma prioridade deste Governo. E, assim sendo, só nos resta esperar que os ventos internacionais nos continuem a soprar de feição.
Nota: O autor escreve segundo a ortografia anterior ao acordo de 1990
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