Congresso CDS. A oposição que rejeita “demasiada fé no Estado e muito pouca no privado”

O CDS reúne-se este fim de semana para o 27.º Congresso do partido. A expectativa é que Assunção Cristas seja aclamada como líder numa altura em que já se pensa nas eleições legislativas de 2019.

Assunção Cristas com Nuno Melo (à esquerda) e Adolfo Mesquita Nunes (à direita).Paula Nunes/ECO 18 Fevereiro, 2018

Três semanas depois dos social-democratas se terem reunido em Lisboa, os centristas rumam a Lamego dois anos depois de Assunção Cristas ter sido eleita líder do partido com 95% dos votos. Neste congresso, o CDS aposta num discurso de pragmatismo — conservando a ideologia — e na oposição explícita às “esquerdas unidas”. Na mente dos centristas está um número: não é o do PIB nem o défice… é o 116, o número de deputados necessários para a direita voltar a ser Governo.

Os centristas ouvidos pelo ECO consideram que a estratégia seguida nos últimos dois anos é para continuar: o pragmatismo, através da apresentação de propostas concretas, e a oposição às “esquerdas unidas”, com o “não” anunciado a qualquer tipo de acordo com o atual PS liderado por António Costa. “Neste congresso vamos conseguir projetar o CDS como um partido a crescer e aberto”, anuncia Adolfo Mesquita Nunes ao ECO. Um traço que diferencia o CDS de Rui Rio — percecionado como mais próximo dos socialistas –, ainda que o PSD seja o “aliado natural”, garantem os centristas.

Contudo, a oposição é cada vez mais difícil, pelo menos do lado dos dados económicos. No último debate quinzenal, António Costa deu um conselho a Assunção Cristas para o futuro: “comece a preparar as próximas perguntas porque em breve também não tem dívidas da saúde para perguntar“. Em debates anteriores, a líder do CDS tinha insistido várias vezes na descida da dívida pública, o que veio a concretizar-se, ainda que a divida em termos nominais tenha continuado a aumentar.

A oposição do CDS não se centra na economia“, argumenta o deputado António Carlos Monteiro ao ECO, contrapondo com as iniciativas sobre a educação na questão dos contratos de associação ou na moção de censura após os incêndios de outubro. Ao ECO, Nuno Magalhães corrobora essa tese, nomeando ainda as áreas da segurança, saúde e transportes. Ainda assim, a oposição em termos económicos, para o atual líder parlamentar do CDS, deve ter como ponto de partida duas questões: “Portugal poderia crescer mais? Há controlo do défice a que custo?

Tem demasiada fé no Estado e muito pouca fé na iniciativa privada.

Adolfo Mesquita Nunes

Vice-presidente do CDS

Mesquita Nunes concretiza: “o sacrifício dos serviços públicos e do investimento público por opção do Governo”, “o preconceito com a iniciativa privada” e a falta das “reformas necessárias para que o país consiga apanhar o comboio da nova economia”. “[Estes elementos] têm consequências que são menos percetíveis no dia a dia das pessoas, mas são muito graves como se está a ver quer na saúde, quer nos transportes”, argumenta.

E quanto ao PIB? “Não podemos deixar de ficar preocupados quando percebemos que continuamos a divergir da Europa em termos de crescimento”, aponta António Carlos Monteiro. Os centristas elogiam o atual crescimento económico, mas consideram que está aquém, até por comparação com os parceiros europeus. Ao invés de continuar algumas das reformas na economia, [este Governo] parou. Tem demasiada fé no Estado e muito pouca fé na iniciativa privada”, critica o ex-secretário de Estado do Turismo.

Nuno Magalhães considera que o congresso deste fim de semana vai servir para Assunção Cristas “prestar contas” e fazer um balanço aos militantes, elogiando os dois anos da sucessora de Paulo Portas. Mas o encontro dos centristas também irá preparar o que aí vem: eleições na Madeira, europeias e legislativas. Depois do sucesso de Cristas nas autárquicas — com o melhor resultado de sempre do CDS em Lisboa –, a fasquia está alta. A própria líder já assumiu o objetivo de ser primeira-ministra.

Uma posição que tem sido entendida como uma “OPA” ao eleitorado do PSD, nas palavras do eurodeputado socialista Pedro Silva Pereira. “Os votos não são dos partidos, são das pessoas“, responde Adolfo Mesquita Nunes. Para o vice-presidente do CDS “os partidos não são donos dos votos que tiveram nas eleições anteriores, seja PSD, PS ou CDS”, uma vez que “todos tentam convencer as pessoas que têm as melhores soluções”.

Sobre o futuro, os centristas ouvidos pelo ECO remetem para o que dirá Assunção Cristas este fim de semana. Na cabeça da presidente do CDS estarão as próximas decisões: se obriga ou não a esquerda a votar o Programa de Estabilidade — como noticia esta sexta-feira o Jornal de Negócios –, quem será o cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu ou as próximas iniciativas políticas dos centristas.

Esse futuro passará também por Adolfo Mesquita Nunes que será o coordenador do programa eleitoral do CDS para as eleições legislativas de 2019. O vice-presidente do CDS remete propostas concretas para mais tarde, mas fala já, por exemplo, nos problemas do interior que “resolvem-se com mais economia”. A ideia é fazer da região a “mais competitiva da Europa para lançar um negócio“, criando uma Zona Franca regulatória.

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