O presidente do EuroBic reconhece que a banca está melhor do que há uns anos, mas ainda não está bem. Não comenta a entrada da Santa Casa no Montepio, mas assegura que Carlos Tavares é um trunfo.
O líder do EuroBic recusa-se a comentar a entrada da Santa Casa no capital do Montepio, porque não quer falar sobre a concorrência. Ainda assim diz que Carlos Tavares será um trunfo para a instituição. Numa longa entrevista ao ECO, o ex-ministro das Finanças, que foi o responsável pela nacionalização do BPN, mais tarde absorvido pelo banco que agora lidera, diz que continua convencido que essa a única solução para assegurar a estabilidade do sistema financeiro. Teixeira dos Santos não entende as críticas ao Banco de Portugal, no caso BES, e diz que convém não esquecer os gestores que estavam à frente do banco. “Os principais responsáveis são os gestores que estavam à frente do banco“, afirma. Considera que a banca “hoje está melhor do que estava há uns anos atrás”, mas ainda não está bem. Nem sequer “estamos imunes a que possam surgir novos casos na banca”, alerta.
Foi responsável pela nacionalização do BPN, banco que o EuroBic viria a adquirir, se voltasse atrás voltava a defender a nacionalização do BPN?
Sem dúvida há aqui alguma ironia, foi exatamente há dez anos que a crise do BPN surgiu, em pleno contexto da crise financeira internacional, que se agravou muito com a falência da Lehman Brothers, em setembro de 2008. Hoje continuo a estar convencido que foi a única decisão que fazia sentido na altura e, que fazia sentido num contexto e numa preocupação que era a de assegurar a estabilidade do sistema financeiro. Sempre disse que o BPN era um banco pequeno, mas era o rastilho, ou poderia ser o rastilho, de uma situação de grande instabilidade no sistema financeiro. O ambiente era muito explosivo. Havia muita intranquilidade e muito medo nessa altura, após a falência da Lehman Brothers e, em termos internacionais o que se falava era de colapso do sistema financeiro. Portanto qualquer evento, por pequeno que fosse, poderia de facto deflagrar numa crise mais generalizada.
Anos mais tarde como é que viu o caso do BES?
O BES era outro caso em já estávamos mais preparados, com instrumentos que entretanto foram criados na sequência da crise. Mas sem dúvida que o BES era um banco que pela dimensão e pela relevância que tinha e, tem através do Novo Banco, no nosso sistema bancário, era também um risco sério para a estabilidade do nosso sistema. E maior, mas o ambiente não era tão explosivo como o que se vivia em 2008.
O BES era um banco que pela dimensão e pela relevância que tinha e, tem através do Novo Banco, no nosso sistema bancário, era também um risco sério para a estabilidade do nosso sistema.
Se fosse ministro das Finanças teria avançado com a resolução?
Tenho muita dificuldade em fazer juízos e pensar em cenários alternativos. Não era o ministro das Finanças, portanto não tinha a informação, e neste momento, não posso ter a informação que o ministro das Finanças da altura teria sobre a situação do banco e os riscos que existiam. Não tenho toda a informação, portanto tenho muita dificuldade em colocar-me nessa situação e poder avaliar se a decisão tomada foi, ou não, a mais adequada. Por princípio, tendo a confiar na boa análise e no bom juízo que as autoridades envolvidas, na altura tiveram, que fazer da situação.
E percebe as críticas ao Banco de Portugal, inclusive deste Governo?
Tenho alguma dificuldade em perceber, há sempre a necessidade de se responsabilizar alguém e penso que o Banco de Portugal é a entidade que está sempre numa posição a que é fácil apontar o dedo e responsabilizar. Convém não esquecer os responsáveis que estavam à frente do banco e que tomaram muitas decisões, e que esconderam muita coisa, esses sim são os principais responsáveis.
Está a falar do Ricardo Salgado?
Dele e de outros, mas isso está a ser apurado pelos meios adequados. Acima de tudo são as pessoas que estavam à frente do banco e que tinham responsabilidade na sua gestão pelas decisões que tomaram — obviamente que terá de ser provado pelas vias adequadas — que esconderam falsearam e levaram o banco a essa situação, tornando inevitável o tipo de decisão que o regulador teve que tomar e obrigando ao envolvimento de dinheiros públicos.
Olhando para trás como é que vê o fim do BES e da PT, duas importantes instituições com quem, enquanto ministro das Finanças, convivia com alguma proximidade?
A minha proximidade foi sempre equidistante de todos, mas obviamente que tínhamos de conversar com todas as entidades, com as das maior dimensão e as de menor. A crise que tivemos foi uma crise financeira que afetou a posição de um acionista importante numa empresa importante, que era o caso da PT com o resultado que temos. Agora o que me parece é que as instituições devem persistir e manter a sua atividade e a sua influencia onde intervêm, independentemente da sua estrutura acionista. Há aqui mudanças que tem a ver com a estrutura acionista, o que espero é que a PT, agora Altice, continue a desempenhar o papel importante que sempre desempenhou no domínio das telecomunicações, no domínio da inovação tecnológica.
Mas a PT e o BES, de facto desapareceram, a Altice e o Novo Banco são diferentes…
Sim, a PT desapareceu temos a Altice, o BES desapareceu temos o Novo Banco. Mas temos uma entidade nas telecomunicações, temos uma entidade bancária, das quais se espera que continuem a ter um papel relevante, como no passado, nos dois setores.
As regras de supervisão têm vindo a apertar. Estamos imunes a novos casos BES e Banif?
Nunca estamos 100% imunes a problemas que possam surgir, nem a crises económicas, nem a problemas financeiros, temos de funcionar muito em quadros de expectativas, em previsões, mas há sempre eventos inesperados que estão fora do radar e que podem surgir, e que podem vir do exterior, ou mesmo internamente e que podem afetar os equilíbrios existentes. Portanto, nunca estamos imunes a que possam surgir dificuldades.
Mas a supervisão tem hoje uma malha mais fina…
Hoje em dia estamos mais minuciados, mais reforçados na componente preventiva. A base de capital dos bancos foi reforçada, os modelos de prevenção, de gestão do risco também estão reforçados e, nesse sentido, as instituições estão mais fortes para enfrentar essas eventuais dificuldades que podem surgir por razões inesperadas.
A banca está hoje mais estável do que estava há uns anos?
A banca hoje está bem melhor do que estava há uns anos, sem dúvida, mas ainda não estamos bem. É um caminho que tem vindo a ser cumprido e que deverá que ser cumprido. Estamos a trabalhar no sentido de reforçar a base de capital, de reforçar a solvabilidade, mas os bancos precisam de melhorar a sua rentabilidade e essa é uma condições importante para a banca porque sem boa rentabilidade não atrai capital e não haverá investidores, acionistas que queiram estar presente no negócio bancário. Este binómio rentabilidade/ reforço da solvabilidade é importante e a banca importa que volte a ser rentável, para tal há um legado do passado que tem que ser resolvido: o crédito malparado. A banca portuguesa tem ainda um legado pesado nesta matéria. O caso português é um dos mais pesados a nível europeu e que tem vindo a ser aliviado, mas o setor tem que continuar a limpar o seu balanço, a fortalecê-lo para que a banca seja mais rentável e por isso mais sólida.
A banca hoje está bem melhor do que estava há uns anos, sem dúvida, mas ainda não estamos bem. Estamos a trabalhar no sentido de reforçar a base de capital, de reforçar a solvabilidade, mas os bancos precisam de melhorar a sua rentabilidade.
A passagem da banca para mãos estrangeiras preocupa-o?
Não me choca. Sem dúvida que gostaria de ter mais acionistas portugueses mas se não temos capital no nosso país — e esse é o grande problema, o país está relativamente descapitalizado — e se somos uma economia aberta que sempre teve boas relações com o exterior, os investidores exteriores devem ser bem vindos. Devemos continuar a fazer um esforço para atrair investidores estrangeiros seja na banca seja noutros setores. Isso é importante para o país.
Agora é o Montepio que está na berlinda. Como é que vê a entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital do Montepio?
Preferia não comentar a situação de instituições concorrentes.
E a ida do Carlos Tavares para presidente do banco?
Conheço o Carlos Tavares. É um homem que tem um longo percurso na banca e no setor financeiro, com qualidades reconhecidas e que, sem dúvida, será um trunfo e um ativo importante para a instituição.
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“Carlos Tavares será um trunfo” para o futuro do Montepio
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