Daniel Bessa e a visão “medíocre” de Centeno

O ex-ministro da Economia deu várias alfinetadas a Centeno e ao Governo. Para Bessa a economia está a crescer, mas dizer que é o melhor crescimento de várias décadas é "excessivo e perigoso".

Daniel Bessa, ex- ministro da Economia, desmontou esta tarde, no Porto, o artigo de opinião de Mário Centeno publicado ontem no Público, em que este considera que a economia portuguesa passa por um bom momento. Bessa que falava perante uma plateia repleta de empresários, no âmbito do XV encontro Fora da Caixa, da Caixa Geral de Depósitos começou por dizer que o facto de Portugal estar melhor é “motivo para nos congratularmos”, mas não é motivo para concluirmos que este é o melhor crescimento de várias décadas. Isso, acrescentou, “é um exagero, é excessivo e perigoso“. É um discurso político “hiperbólico, que introduz um sentido de mediocridade porque pede pouco”.

O economista que se mostrou perplexo com as reações que os dados mais recentes da economia portuguesa têm despertado, referiu que é preciso não esquecer que em 28 países “19 cresceram mais do que nós”. Para Bessa é um facto que economia portuguesa está melhor, mas “não tanto como se julga”.

Para provar o que diz, Bessa pega noutro argumento de Centeno, o que evoca o crescimento do PIB de 2,7% e o do emprego de 3,2%. Para o economista, “isto é mau”. E acrescenta: “mau porque quando uma economia está saudável, o PIB cresce mais do que o emprego”.

Para Bessa “o que acontece é que a produtividade não está a crescer porque a sociedade está focada no emprego e no curto prazo. O longo prazo é o grande ausente da política”.

A economia portuguesa está a crescer há quatro anos consecutivos, num acumulado de 7,1% e o emprego 7,4%, refere o economista. E de novo uma alfinetada ao ministro. “Estamos perante um discurso político hiperbólico, o que introduz um sentido de mediocridade, porque pede pouco, é um foco excessivo no emprego”.

Para Bessa “o que se está a passar é que a economia portuguesa está a crescer nos setores de produtividade mais baixa”.

Isto, prossegue Bessa, é uma “visão equivocada da economia que não pode conduzir a bom resultado”.

“É poucochinho”

O aumento do IRC para empresas com lucros acima dos 35 milhões de euros foi também objeto de análise e de crítica pelo professor. Bessa referiu que fala-se muito de empreendedorismo e de startups e quehá todo um discurso que valoriza isso excessivamente“, porque o “grande contributo para a economia não virá daí”. Mas sim de empresas capazes de fazer crescer os 200 mil milhões de euros do PIB.

O empreendedorismo que importa está em empresas como a Corticeira Amorim, a Sogrape, a BA Glass, a Douro Azul entre tantas outras, adianta Bessa. E esse não “é valorizado em Portugal”.

“Se agravamos o adicional sobre os lucros acima dos 35 milhões de euros e se isso é apresentado como uma medida de justiça, eu acho que o mundo está de pernas para o ar”, disse.

Para Bessa “isso introduz uma visão alterada e de mediocridade, uma visão equivocada”.

O ex-ministro da Economia relembra ainda que o modelo de “aguentar mais dívida” está esgotado pelo que “a única maneira de fazer crescer saudavelmente o mercado interno é através do mercado externo”.

De novo, o tema das exportações, que o economista considera como a “maior reforma que se fez em Portugal“.

“O fator de arrasto é a economia europeia mas a rede são as exportações. Se eu não tiver exportações de pouco vale…”, adianta.

Mas logo a seguir volta a falar em mediocridade. “Portugal está muito melhor, temos hoje mais exportações, mas de novo é medíocre”. E dá os exemplos da Áustria, Hungria, República Checa. “Tudo a exportar mais do que nós, mas estamos muito contentes com os nossos 40%”.

“O que tentei desenhar aqui é que acredito em muito poucas coisas, mas no que mais acredito é que a economia portuguesa tem uma única forma de crescer”.

E a última alfinetada da tarde. “Congratulámo-nos muito com pequenos resultados. Contentámo-nos em ser 20º em 28. É poucochinho”.

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