Sporting identificou 28 riscos quando vendeu dívida aos investidores. Nenhum era Bruno de Carvalho
O ECO sabe que a nova emissão de dívida do Sporting já estava a ser analisada pela CMVM. Ninguém sabe o que vai acontecer agora. A SAD alertou no prospeto para 28 riscos que incorriam os credores.
A crise no Sporting já não é apenas um amuo entre o presidente Bruno de Carvalho e os jogadores do clube. Poderá ter consequências no plano financeiro, já que a SAD veio anunciar esta terça-feira que pretende adiar o pagamento de uma emissão de obrigações que vence no próximo mês.
Num comunicado enviado à CMVM, a SAD alerta que a convocação de uma assembleia geral de sócios ou de acionistas para destituir os órgão sociais poderá “prejudicar gravemente a concretização da nova oferta obrigacionista”, no valor mínimo de 30 milhões de euros, a ocorrer em maio.
Esta emissão serviria para reforçar a tesouraria do clube e ainda para fazer o rollover de uma outra emissão de 2015, que vence em maio deste ano. Como a SAD não sabe se conseguirá colocar a nova emissão a tempo e a preço aceitáveis, decidiu então convocar uma assembleia de obrigacionistas para propor que a data de reembolso da dívida antiga passe de maio “para nunca antes de novembro de 2018”.
O ECO sabe que o novo prospeto da emissão de 30 milhões de euros deu entrada recentemente na CMVM e que já estava a ser analisado pelo regulador.
No prospeto da emissão da dívida de 2015, que vence em maio 2018, e que a SAD quer agora prorrogar o prazo, já são identificados uma série de riscos que os credores estariam a incorrer quando subscreveram dívida leonina.
Numa altura em que não é certo o desfecho da operação de rollover, e há dúvidas sobre a data precisa em que os obrigacionistas vão reaver o dinheiro, é importante revisitar o prospeto da emissão que vence em maio para explicar os riscos que os credores estavam a assumir quando compraram obrigações da SAD do Sporting. Foram mais de quatro mil os investidores que participaram na venda inicial das obrigações.
A SAD, como é normal neste tipo de operações, identifica um sem número de riscos, arrumados em três categorias:
Riscos gerais relativos à atividade do emitente
- Insuficiência dos capitais próprios da Sporting S.A.D.
Neste capítulo, a SAD alerta para o balanço que tinha, na altura, capitais próprios negativos. - Existência de ênfases na Certificação Legal das Contas Anuais dos exercícios 2012/2013 e 2013/2014.
- Existência de uma ênfase no Relatório de revisão Limitada relativo às contas do primeiro semestre de 2014/2015 reportadas a 31 de dezembro de 2014 (contas sujeitas a revisão limitada e não auditadas).
- Existência de uma reserva no Relatório de Revisão Limitada relativo às contas do primeiro semestre de 2014/2015 reportadas a 31 de dezembro de 2014 (contas sujeitas a revisão limitada e não auditadas).
Os pontos 2 a 4 referem-se, genericamente, a reservas e dúvidas que foram colocadas pelos auditores da SAD leonina. - Responsabilidade pelos contratos de financiamento com empresas do Grupo Sporting.
Neste ponto, a SAD mostra-se solidária com as dívidas de outras empresas do grupo Sporting, funcionando como uma espécie de fiador das empresas do grupo. - Atividade principal do Emitente dependente da participação nas competições desportivas nacionais e internacionais de futebol profissional.
- Dependência dos proveitos de exploração do Emitente relativamente a contratos de cedência de direitos de transmissão televisiva e contratos publicitários.
- Importância relativa dos custos dos jogadores de futebol nos resultados de exploração da Sporting S.A.D.
- Importância relativa dos proveitos de transferências dos jogadores de futebol nos resultados de exploração da Sporting S.A.D.
- Desenvolvimento da atividade da Sporting S.A.D. é apoiado na existência e manutenção da relação privilegiada com o Sporting.
- Participação na UEFA Champions League.
- Alienação de passes dos jogadores sujeita a variações nas tendências do mercado de transferências.
Do ponto 6 ao ponto 12, a SAD avisa sobretudo para os riscos associados à atividade desportiva e o impacto que estes podem ter nas contas e nas receitas do clube. - Alterações na conjuntura económica e financeira, nacional e internacional.
Riscos financeiros
- Risco de taxa de juro de financiamentos a taxa variável.
- Risco de taxa de câmbio em operações de compra e venda de passes de jogadores.
- Risco de Créditos concedidos e Perdas por Imparidade.
- Gestão do Risco de Liquidez.
Este ponto é relevante porque a SAD alerta para o risco de poder não ter dinheiro para reembolsar a dívida. Neste capítulo diz que “tem um planeamento de tesouraria semanal, que é monitorizado com a mesma regularidade”. - Notação de rating.
- Gestão do Risco de Refinanciamento.
Neste ponto, a SAD alerta que “o produto líquido da presente Oferta destina-se ao financiamento da atividade corrente da Sporting S.A.D., contribuindo para a consolidação do respetivo passivo num prazo mais alargado, através do refinanciamento de operações que se venceram oportunamente”. É uma informação relevante porque as emissões de dívida normalmente são usadas, em grande parte, para pagar emissões feitas anteriormente e que, entretanto, chegam à maturidade. - Riscos relativos a processos judiciais.
Riscos relativos às obrigações a oferecer e admitir à negociação
- Adequação do perfil do investidor.
- Assembleia Geral de Obrigacionistas e Representante Comum dos Obrigacionistas.
É no âmbito deste ponto 2) que a SAD liderada por Bruno de Carvalho anunciou, esta terça-feira, que vai convocar uma reunião de obrigacionistas para tentar mudar o período de reembolso de maio “para nunca antes de novembro de 2018”. As “regras preveem que a tomada de decisões com base em determinadas maiorias vincula todos os Obrigacionistas, incluindo aqueles que não tenham participado nem votado numa determinada assembleia e aqueles que tenham votado em sentido contrário à deliberação aprovada”, alerta a SAD no prospeto. - Tributação dos rendimentos pagos aos obrigacionistas não residentes.
- Alterações no enquadramento jurídico-fiscal das Obrigações.
- Negociação em bolsa das Obrigações.
Este ponto é importante porque as obrigações não têm pouca liquidez, o que muitas vezes obriga os credores a ficarem com o produto financeiro até à maturidade, mesmo quando não o queiram. - Pagamentos em euros.
- Possíveis efeitos da alteração das taxas de juro de mercado sobre o valor das Obrigações.
- Encargos associados com a detenção das Obrigações.
Este último ponto também é relevante, porque ao pedir aos credores para ficarem pelo menos mais seis meses sem o reembolso, estes poderão ter de suportar custos adicionais, nomeadamente despesas de custódia junto ao seu intermediário financeiro.
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