Há 2.481 dias que Portugal está no caixote do lixo da Moody’s. Hoje vai sair?

Quase sete anos depois, a Moody's pode hoje tirar Portugal do "lixo", acompanhando as outras agências de rating. É o que esperam os analistas consultados pelo ECO.

A agência Moody’s poderá tirar a dívida portuguesa do nível “lixo” esta sexta-feira.Fotomontagem: Lídia Leão

“A Moody’s Investors Service baixou hoje o rating das obrigações de Portugal de longo prazo de Ba2 para Baa1. (…) Os seguintes fatores levaram a Moody’s a este downgrade:

  1. O risco crescente de que Portugal vai precisar de uma segunda ronda de financiamento oficial antes de regressar ao mercado privado e a maior possibilidade da participação do setor privado como requisito para um novo empréstimo oficial;
  2. As elevadas preocupações de que Portugal não vai ser capaz de atingir totalmente as metas de redução do défice e de estabilização da dívida que foram estabelecidas no acordo de empréstimo com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional devido aos desafios formidáveis para reduzir a despesa, aumentar os níveis de cobrança de impostos, alcançar crescimento económico e apoiar o sistema bancário”.

Assim iniciava a nota da Moody’s publicada no final da tarde do dia 5 de julho de 2011 e que atirava Portugal para o nível considerado “lixo”, tinha o Governo português acabado de pedir um cheque de 78 mil milhões de euros à troika. Exatamente 2.481 anos depois, aquela que foi a primeira agência das “três grandes” a considerar a dívida portuguesa como um investimento especulativo poderá ser a última a colocá-la num patamar de qualidade. É isso que esperam os analistas da decisão da Moody’s que será conhecida esta sexta-feira.

“A nossa perspetiva para a decisão de rating por parte do Moody’s é uma subida da notação para investment grade, dado que a Moody’s é a única grande agência de rating com uma notação de non-investment grade “Ba1” e o outlook já foi revisto de estável para positivo em setembro de 2017″, vaticina a equipa de research do BiG.

Do Natixis ao Commerzbank, a aposta é semelhante. “Pensamos que a Moody’s deverá melhorar a classificação de Portugal numa nota, para se alinhar com o rating da Standard & Poor’s. A Fitch está uma nota acima da Standard & Poor’s e seria uma surpresa se a Moody’s subisse o rating em dois níveis”, sublinhou Jean Christophe Machado, analista do banco francês.

Do lado do banco alemão diz-se numa nota de research divulgada esta manhã: “Portugal deverá continuar a ter suporte no curto prazo com a pausa nos leilões de dívida e com as notícias positivas no rating“.

Para que serve o rating?

Se melhorar o rating de Portugal, a Moody’s não fará mais do que acompanhar os seus pares. Em setembro, a Standard & Poor’s surpreendeu tudo e todos ao retirar o país do nível “lixo” sem antes ter sinalizado essa melhoria com um outlook positivo. “Isso não é habitual, mas também não é raro”, reconhecia o analista da S&P Marko Mrsnik ao ECO. Poucos meses depois, em dezembro, a Fitch não se ficou e de uma assentada melhorou a notação portuguesa em dois níveis. Também não foi uma decisão habitual.

O que poderá dizer hoje a Moody’s, quase sete anos depois de colocar Portugal no “lixo”? Já não falará certamente dos riscos de um segundo resgate, como evidenciou em 2011. E, no que toca ao desempenho económico, a Moody’s encontra hoje um Portugal a crescer mais de 2% e com um défice controlado e abaixo dos 1% — sem contar com a injeção de capital na Caixa Geral de Depósitos. Já a dívida pública, que subiu em fevereiro para 246 mil milhões de euros, deverá ser um dos pontos abordados pela agência, que deverá apontar (novamente) para a necessidade de baixar o nível de endividamento do Estado.

Em declarações ao ECO, Cristina Casalinho, presidente do IGCP, disse que o país tem ido além das metas da agência. “Considerando os fatores de risco enunciados pela Moody’s, constata-se que Portugal tem apresentado uma evolução mais favorável que as previsões iniciais da agência de rating“, sublinhou.

Mas a gestora da dívida pública portuguesa moderou o seu otimismo em relação a uma boa notícia esta sexta-feira: “No seu último relatório, a Moody’s indica um intervalo de 12 a 18 meses, mas com maior probabilidade 12 meses, para decidir sobre o rating de Portugal”.

Convém sublinhar que a Moody’s não é a única a avaliar Portugal esta sexta-feira. Também os canadianos da DBRS, que foram importantes para o país quando eram os únicos a dar um “selo de qualidade” à dívida portuguesa, mantendo-a elegível para as compras do Banco Central Europeu, analisam o rating português. Mas desta vez a sua decisão não terá tanto impacto porque outras duas agências estão a “segurar” Portugal.

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