Fizz: “A primeira regra de disciplina de um gestor é: emails são com uma assistente”
Magistrada do Ministério Público confrontou Carlos Silva com alguns emails que lhe foram enviados pelo advogado Paulo Blanco em 2011.
Na primeira sessão em que o presidente do Banco Privado Atlântico (BPA) testemunha no âmbito da Operação Fizz, a magistrada do Ministério Público (MP) confrontou Carlos Silva com alguns emails que lhe foram enviados pelo advogado Paulo Blanco, em 2011.
Um desses e-mails, Carlos Silva diz não se recordar avisando desde logo o coletivo de juízes que “a primeira regra de disciplina de um gestor é: e-mails são com uma assistente, a disciplina é ver os e-mails das pessoas com quem o gestor do banco interage”, respondeu, garantindo que a sua assistente conhecia essas pessoas. Realçou ainda que tem quatro caixas de e-mail e responsabilidades em vários países.
O que eu sei é o que vem nas notícias… Nunca solicitei ao Dr. Paulo Blanco que tratasse de algum assunto meu, nem de nenhum assunto do banco. Avença com o BPA? Nem pensar. Que o Dr. Paulo Blanco é uma pessoa proativa, do tipo “já está”, criando cenários como se já fôssemos todos amigos, é um estilo… Na altura daquele telefonema percebi que tinha de gerir esta relação com distância.
Confrontado com mais e-mails, Carlos Silva garante que Paulo Blanco nunca foi advogado do Banco Privado Atlântico. “O que eu sei é o que vem nas notícias… Nunca solicitei ao Dr. Paulo Blanco que tratasse de algum assunto meu, nem de nenhum assunto do banco. Avença com o BPA? Nem pensar. Que o Dr. Paulo Blanco é uma pessoa proativa, do tipo “já está”, criando cenários como se já fôssemos todos amigos, é um estilo… Na altura daquele telefonema percebi que tinha de gerir esta relação com distância“, assegura o banqueiro.
Entre os e-mails trocados entre Blanco e Carlos Silva, vai-se denotando uma linguagem mais informal e familiar. Expressões como “viva!” e “abraço, amigo” constam de alguns e-mails que Paulo Blanco enviou ao presidente do BPA. De “adicionalmente, para conhecimento de vossa excelência” para “reencaminho infra para teu conhecimento”, nota-se a diferença de tratamento do advogado para com o banqueiro. «Eu trato-o por “caro doutor” e ele trata-me por “senhor presidente”», justifica-se o banqueiro, mantendo a sua posição de que a relação entre ambos era apenas institucional.
Nesta que é a primeira de quatro sessões em que será ouvido, Carlos Silva, admitiu ainda que conheceu o Orlando Figueira em maio de 2011. “Havia um processo que decorria no DCIAP, o processo que envolvia o Banif, e o Rosário Teixeira havia dito ao Paulo Blanco que gostaria de me ouvir no âmbito desse processo como testemunha. Prestei as minhas declarações. Findo esse momento, ficou uma conversa simpática, correta e aparece o Dr. Orlando Figueira”.
Acrescentou ainda que “findo esse momento, ficou uma conversa simpática, correta” entre os presentes. O banqueiro acrescentou ainda que, depois dessa conversa a três – com o procurador do DCIAP Rosário Teixeira, o advogado Paulo Blanco e o principal arguido Orlando Figueira – falou na possibilidade de um almoço. E assim aconteceu. Dias depois, dois desses convidados almoçaram com Carlos Silva, à exceção de Rosário Teixeira, que não compareceu. “Não se falou de trabalho, só se falou de Angola, do país, da relação óbvia que existia nessa altura entre os dois países”.
Um dos emails referidos pelo MP referia-se a à primeira minuta do contrato de trabalho assinado por Orlando Figueira com a Finicapital, que só depois seria mudado para a Primagest. “Não se recorda?”, perguntou-lhe a procuradora Leonor Machado. “Não me recordo não, não li. O dr. Paulo Blanco tem um perfil muito próprio de interação, não sei o que estaria aqui…”, disse.
O Ministério Público insistiu mas o juiz presidente, Alfredo Costa, interrompeu: “não acha estranho o Paulo Blanco ter enviado a minuta de um contrato. Apesar de poder ser uma pessoa insistente, tem que haver alguma coisa por trás?”, insistiu. Carlos Silva continuou a negar qualquer conhecimento dessa informação. “Agora a esta distância… seria por a Finicapital ter uma parceria importante com o banco [BPA] na baía de Luanda e eu podia pressionar? Não sei”, interrogou-se.
Nas anteriores sessões de julgamento, os arguidos Orlando Figueira e Paulo Blanco defendem que nos “bastidores” da celebração de contrato com a Primagest, que levou Orlando Figueira a abandonar a magistratura, estaria o banqueiro Carlos Silva. Para o tribunal, os contornos deste contrato são fundamentais para perceber se o magistrado foi corrompido ou não para arquivar processos que tinha em mãos quando trabalhava no DCIAP.
O presidente do Banco Privado Atlântico (BPA) e administrador não executivo do Millennium BCP, Carlos Silva, foi assim indicado por arguidos no processo Operação Fizz como tendo sido o responsável pela contratação do ex-procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) Orlando Figueira para trabalhar na banca privada. O coletivo de juízes ouve aquele que é um testemunho fundamental para avaliar a versão apresentada pelo principal arguido do processo: o ex-procurador Orlando Figueira.
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