No balanço da terceira edição da Start & Scale Week, o vice-presidente da Câmara do Porto revela que cidade tem vindo a atrair mais empresas e que a autarquia está a trabalhar na retenção de talento.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Porto organiza a semana Start & Scale, dedicada às startups e à tecnologia. Passaram pelos eventos organizados pelos diversos intervenientes do ecossistema mais de 1.500 pessoas, assegura o vice-presidente portuense, Filipe Araújo, em entrevista ao ECO.
Pela terceira vez, o Porto organiza a Start & Scale Week. Qual é o balanço que faz desta edição?
A semana traduziu-se numa participação massiva das pessoas, o que para nós é muito bom. Numa semana que é dedicada a um tema especifico, quando tem esta participação, quer dizer que é um sucesso. Passaram cerca de 1.500 pessoas pelos eventos que organizámos e isso revela que houve adesão ao programa e, acima de tudo, uma participação dos vários parceiros envolvidos na cidade e é, para eles, que isto é feito.
Que papel teve a Câmara do Porto na definição e no desenvolvimento deste ecossistema que tem crescido ao longo dos últimos anos?
A Câmara do Porto tem tido um papel mais de catalisador e de impulsionar o ecossistema em certas áreas. Felizmente, estamos na cidade do conhecimento, e vivemos uma cidade vibrante nesta área: temos várias universidades e institutos politécnicos, de renome e muito bem posicionados nos rankings, que geram conhecimento a nível mundial. E depois temos uma série de institutos de transferência, a que hoje chamamos startups. Temos um ecossistema muito ocupado com instrumentos públicos, mas também privados a trabalharem nesse âmbito. E é algo que devemos acarinhar, e contribuir realmente para onde deve ter esse papel de aglutinador, formar as redes. A semana Start & Scale é muito à volta disso.
Temos tido outras iniciativas como a call que lançámos para o ScaleUp Porto. São 70 mil euros à disposição e estamos contentes com a forma como a cidade tem aderido a esta chamada, porque em tudo nestas chamadas ficamos sempre à espera da participação. E quando sentimos que há dezenas e dezenas de entidades a participar, e essa participação vem, ainda para mais, cheia de qualidade e de vontade para fazer coisas diferentes, sentimos como sinal de que o dinheiro público que demos para iniciativas foi bem respondido.
Falou-se várias vezes durante esta semana da questão do talento. Como é que a Câmara está a gerir esta questão de ter tantas empresas com interesse em instalar-se ou em expandir-se na cidade?
Para o talento que o Porto gera, e que gerou nos últimos anos — temos muita gente que saiu daqui por motivos vários que conhecemos, como a crise, que formamos cá –, é importante que a cidade lhe dê oportunidades, seja nas startups, nas scaleups, nas empresas que cá se queiram fixar. A mim apraz-me perceber que hoje um estudante, uma pessoa cá no Porto, tenha à sua disposição um leque grande de oportunidades. Isto tem vindo a contribuir para a mobilidade das pessoas entre empresas. Agora os desafios são outros: este ecossistema cada vez mais torna-se uma realidade, temos talento lá fora que se identifica com uma cidade vibrante que apostou na cultura. Tem-nos acontecido muito as pessoas voltarem com as famílias, contribuindo de certa maneira para a cidade cosmopolita, para a diversidade e crescimento.
Tem-nos acontecido muito as pessoas voltarem com as famílias, contribuindo de certa maneira para a cidade cosmopolita, para a diversidade e crescimento.
Temos finalmente, numa cidade que cresce, alguma pressão sobre o talento, e temos de saber captar talento do exterior. E isso tem sido algo que identificámos e que há quatro ou cinco anos não era tema. Passaram dois anos de grande crescimento e ele começou a aparecer. As políticas do município devem ser também acautelar isso. Há um programa que está a ser desenvolvido para criar o Porto for talent, um programa específico para mostrar que há à disposição uma cidade, e essas condições de vida e de trabalho são fatores decisivos com boas oportunidades também nas empresas que aqui temos. É uma conjugação de fatores.
Como vai ser materializada essa preocupação?
Pré-lançámos a campanha no Web Summit, que está com o pelouro da economia do vereador Ricardo Valente. Queremos demonstrar que esta é uma cidade que tem essa apetência para atrair talento. Qualquer pessoa, muito diferente da minha geração quando saí da universidade, procura desafios aliciantes e com qualidade de vida. Antes as pessoas procuravam trabalhar na melhor multinacional, não interessava onde era. O que interessava era o prestígio, a marca. Dou por mim a ver miúdos brilhantes a trabalharem em empresas de realidade virtual debaixo do mar. Exploração, acho isto fascinante. Esse é um mundo para o qual eu sinto que quero contribuir.
E a Amazon? Existe de facto interesse da empresa em vir para o Porto?
Não há só a Amazon, há muitas empresas interessadas. As empresas hoje — e veja-se aquilo que tem acontecido no Porto no setor da banca, com a Euronext e a Natixis — precisam de trabalhadores, têm novas estratégias digitais, querem transformar os setor, e também sabem que precisam das pessoas. E se as pessoas hoje procuram os locais com segurança, boa vista para beber um copo no final do dia, com escolas internacionais onde os filhos possam estudar, as empresas procuram essas cidades. Estamos a ver esse movimento e acho que, seja a Amazon ou outras, registo que as empresas começam a olhar para o Porto como aquilo que ele é: um sítio que é a cidade do conhecimento, com um potencial enorme, onde essas empresas se podem servir e trabalhar em parceria. Quando estas empresas procuram o Porto, elas procuram parceiros. E uma empresa deste género que vem para o Porto também desenvolve o ecossistema à volta: estamos a falar de um efeito bola de neve. Por isso, seja essa ou outra, venham mais.
"Quando estas empresas procuram o Porto, elas procuram parceiros.”
Como é que se planeia uma cidade partindo do zero, para uma visão que transforma toda a cidade?
Acho que todos contribuímos, não é uma estratégia do município mas de muita gente que trabalha nela. A Start & Scale resume isso bem: uma semana de parcerias, de rede que se mostra disponível para fazer este tipo de semana em que a Câmara ajuda. É muito interessante e às vezes as pessoas até desconhecem que o Porto tem feito um grande trabalho na área da transformação digital. O Porto detém — é algo único a nível nacional — a sua própria rede de fibra ótica, mais de 4.000 km de fibra. Mais de um milhão de unique users na rede wi-fi durante o ano. Temos várias coisas feitas e que passam por baixo da estrada, e outras coisas que as pessoas nem notam. Mas essa é a mudança que temos de perspetivar, porque o mundo está a mudar muito rápido, e nem consigo prever a dez anos os modelos de negócio que aí vão aparecer. Temos de ser muito ágeis, saber desenvolver de uma maneira harmoniosa. Quando falamos de tecnologia há sempre um tema que gostamos de trazer para cima da mesa: ela tem de nos ajudar a construir esta cidade coesa socialmente, ambientalmente. (…) É saber construir um território deste género olhando para as pessoas.
Porquê esta aposta nas comunidades?
Temos de conseguir atrair talento. Eu não sei se a solução será muito rápida… Dei por mim a pensar sobre o número de pessoas com nacionalidades diferentes com que tinha falado nos dias da semana. E falei com 16, entre turcos, belgas, ingleses, chineses, sírios. O Porto cosmopolita que existe ao longo dos séculos está cá, está bem presente e vivo. E as pessoas vêm cá porque a dinâmica existe, os projetos em cima da mesa são interessantes. Quando pensamos que as pessoas visitam as cidades, hoje em dia, por causa de turismo, não é verdade. As pessoas não estão cá só para isso, e essa é a beleza do nosso país: conseguirmos ter estes fatores todos. O sol, as questões sociais, da indústria aqui à volta. É um aspeto fulcral na nossa estratégia porque não há muitas cidades que tenham esta proximidade.
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Filipe Araújo: “Não há só a Amazon, há muitas empresas interessadas” no Porto
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