Com o RGPD à porta, empresas estão a inundar caixas de email dos clientes. E até ligam
O Regulamento da Proteção de Dados entra em vigor na sexta-feira. Para cumprir estas regras, as empresas estão a inundar as caixas de email dos clientes com pedidos de autorização. E até lhes ligam.
A menos de 24 horas da entrada em vigor do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), as empresas estão a dar o litro para obedecer aos novos requisitos (evitando as pesadas multas). Cumprir as exigências de transparência e responsabilização no que diz respeito ao tratamento da informação em causa não é fácil, garantem os empresários, e é para o conseguir que estão a inundar as caixas de email dos seus clientes com pedidos de autorização de todas as cores e formatos. E há até quem ligue para garantir que consegue o “ok” .
“Contactámos os nossos clientes, seguindo uma política de transparência e proximidade, através de diversos canais de comunicação: folheto, sms, loja, site e email“, conta ao ECO fonte oficial do Pingo Doce.
Na nota enviada por correio eletrónico aos seus clientes, a cadeia de supermercados detida pela Jerónimo Martins explica que as condições de utilização e a política de proteção de dados pessoais do seu site e newsletters foram atualizados à luz das novas regras.
“Vamos continuar a recolher e tratar os seus dados com a confiança de sempre, para que as melhores promoções e receitas cheguem até si”, justifica a empresa, pedindo apenas aos consumidores que não concordem com estes termos que carreguem no botão indicado. A todos os outros, isto é, àqueles que pretendam continuar a fornecer informação à cadeia, não é exigida qualquer ação de confirmação.
Outras empresas — como a Telepizza, o IKEA, a Glovo e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) — escolheram fazer o pedido contrário. Nesses casos, para continuar a desfrutar dos mesmos serviços, o cliente tem de confirmar que prefere continuar a ceder os seus dados.
“Sem esta confirmação deixará de receber conteúdos como informações de convocatórias, bilhetes e agendas de jogos, resultados e muito mais”, escreve a FPF. “Precisamos que valides os teus dados”, pede a Telepizza.
A espanhola Glovo dá mais fôlego à explicação e identifica as mudanças. No fim da nota, a empresa deixa um botão para que os clientes expressem o seu consentimento. “Aceita aqui”, lê-se.
Quer a ir a Tenerife? Dê-nos os seus dados
“Queremos continuar consigo. Atualize o seu consentimento e ganhe uma viagem a Tenerife“. É assim que a Delegação do Turismo do Espanhol pede aos seus parceiros que “formalizem” a sua autorização, no que diz respeito ao tratamento dos dados em questão. Para isso, o cliente tem apenas de carregar no link indicado no corpo da nota.
Com a máxima “juntar o útil ao agradável” em mente, a entidade aproveita o mesmo email para anunciar um novo passatempo. “O Turismo Espanhol, em parceria com a B the Travel Brand, convida-o a preencher um formulário online, deixar uma frase original e habilitar-se-á a ganhar uma viagem” de Lisboa a Tenerife, adianta a entidade.
Quem cala, concede
Cliques à parte, há também empresas que decidiram apenas informar os seus clientes das mudanças provocadas pelas novas regras de proteção de dados, não lhes exigindo qualquer consentimento para continuar a recolher e a tratar a informação em causa.
“Para levar você pela cidade, necessitamos usar seus dados pessoais“, começa por explicar a Cabify. A empresa responde a quatro questões — “Para que serve esta política”, “Para que utilizamos os dados”, “Onde obtemos os dados” e “Quais são os seus direitos” — e termina o email, sem pedir qualquer autorização ao cliente.
Ainda nos transportes, a Uber diz ao ECO que está “a reforçar ainda mais [o modo] como protege e trata os dados dos utilizadores da União Europeia e em todo mundo”. Aos clientes, a gigante recomenda a leitura da sua política de privacidade atualizada. “Estamos empenhados em fazer o que é correto com as informações que nos confiou”, salienta a norte-americana.
Igual caminho seguiram ainda a FNAC e a Samsung. “Para já, não necessita de fazer nada, além de consultar a nossa política de privacidade”, escreve a multinacional sul coreana.
As alternativas: das faturas às chamadas
Se há quem escolha informar os clientes através do correio eletrónico, há igualmente quem se tenha decidido pelos meios analógicos. A Meo, por exemplo, está também a usar a faturação de abril para espalhar essa mensagem. ” A Altice Portugal criou, nos sites do MEO e da PT Empresas, uma área “RGPD”, onde disponibiliza informação sobre as novas cláusulas alteradas, bem como informação de enquadramento que está a ser enviada a todos os seus clientes na fatura de abril (papel e eletrónica)”, explica fonte da gigante, em declarações ao ECO.
Já fabricante automóvel Kia preferiu pedir aos clientes o consentimento para tratamento de dados e partilha com todo o grupo através de chamadas telefónicas. Numa ligação gravada, a sul coreana aproveitou para confirmar os dados de que dispõe na sua base de dados e perguntar se os pode usar para criar um “perfil de cliente”.
O RGPD entra em vigor esta sexta-feira, e promete coimas avultadas para as empresas que não cumpram a legislação. Entre os novos requisitos estão o princípio da responsabilização proativa das empresas e a criação do cargo de Data Protection Officer (que fará uma ponte entre a autoridade reguladora e a companhia).
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